Sob gestão da família Lindenberg desde 1949, a Rede Gazeta anunciou, nesta quarta-feira (15), a conclusão de seu plano de transição de comando, que passa a valer no próximo dia 1º de outubro. O diretor de Negócios do grupo, Marcello Moraes, assumirá o cargo de diretor-geral, enquanto Café Lindenberg passará a ocupar a cadeira de presidente da rede de comunicação, que completou 93 anos no último sábado (11).
Essa transição, conforme frisam Café e Marcello, vem sendo construída há cerca de dois anos e busca consolidar a Rede Gazeta como referência em comunicação regional, com sólidos investimentos em inovação, tecnologia e entrega de conteúdo diferenciado.
À frente da empresa desde 2000, Café destaca que não deixará o expediente na sede do grupo, em Vitória, e que, como presidente, planeja se dedicar mais ao posicionamento institucional e à condução editorial, sobretudo em tempos de tantos desafios para empresas de mídia em todo o mundo. Confira as entrevistas a seguir:
Após 20 anos na direção-geral da Rede Gazeta, como foi a decisão de passar o bastão?
Foi uma decisão muito ponderada. Este momento foi preparado e amadurecido ao longo dos últimos cinco anos. O falecimento de papai (o empresário Cariê Lindenberg), em abril, abriu o posto de comando no Conselho de Administração do grupo e me trouxe a reflexão de que havia chegado a hora de assumir novas responsabilidades e concluir a transição.
Até aqui não existia a posição de presidente do grupo. Quais serão suas atribuições a partir de 1º de outubro?
Eu não pretendo me afastar do negócio, mas dedicar-me, com mais tempo livre, a pensar o futuro da Rede Gazeta e pesquisar muito sobre caminhos de crescimento para o grupo. Espero poder contribuir ainda mais com as reflexões e a agenda do Conselho de Administração que também presidirei. O Marcello, que assume a direção-geral em meu lugar, conhece muito bem a Rede e o negócio de mídia, e estou bastante confortável em deixar nas suas mãos a condução da empresa. Quero continuar contribuindo em questões estratégicas e na também condução da linha editorial do grupo, que seguirá pelo caminho seguro que foi trilhado por meu pai durante a sua jornada à frente da Rede.
Em 2019 a empresa promoveu um significativo movimento, interrompendo a circulação diária de jornal impresso. Depois, veio a pandemia e A Gazeta tornou-se uma marca 100% digital. Como você enxerga o futuro da empresa e, especificamente, do jornalismo?
Vejo que nosso papel como empresa jornalística continua sendo crucial para a sociedade capixaba, e continuará sendo o propósito e a inspiração de nossa existência como empreendimento. A mediação e a curadoria que o jornalismo profissional executa, por excelência, é insubstituível como ferramenta civilizatória. Estamos construindo novas plataformas e novos modelos de negócio que servirão de base para essa nova fase do jornalismo que está emergindo desse momento de intensa transformação.
Seu pai, Cariê Lindenberg, falecido em abril, é muito lembrado como um empresário que tocou a Rede Gazeta com um quê de poesia, camaradagem e olhar próximo dos funcionários, independentemente da posição deles. O que dessa filosofia permanece na empresa de 2021 em diante?
Suas ideias seguem presentes em nossas crenças e valores, e influenciam a maneira com que conduzimos os negócios. Temos um excelente ambiente interno, que inspira os que estão juntos conosco nessa jornada. Somos idealistas e sonhadores, mas sabemos, também por ensinamentos dele, que as coisas têm que se adaptar a novos tempos, sem perder sua essência. A parte da poesia, que é eterna, continua a cargo dele, nos inspirando a cada dia.
Após 5 anos na Rede Gazeta, você chega à posição de diretor-geral. O que muda a partir daqui? Qual marca você acha que trará para o comando da empresa e para as relações dela com o Espírito Santo?
As coisas já vêm mudando há muito tempo na Rede Gazeta e vão continuar assim. Temos hoje uma empresa mais ágil, mais conectada, mais integrada e com um enorme apetite para inovar. Recursos não nos faltam. Temos uma equipe capacitada, infraestrutura de suporte, marcas conhecidas e reconhecidas pelos nossos clientes, além de um propósito claro e conhecido pelos parceiros. Assumir a direção-geral seria um privilégio para qualquer profissional e não será diferente comigo, mas pretendo manter firme nosso propósito e valores, buscando crescimento sustentável a longo prazo e uma conexão cada vez mais forte com os capixabas.
Nos últimos anos você comandou a área de Negócios, uma superdiretoria que abrangia áreas cruciais para o grupo, como comercial, projetos e inovação. Em que grau essa experiência lhe cacifou para a direção-geral?
Desde 2016 que a Rede vem trabalhando na integração de suas áreas. Começamos com os veículos e depois com as áreas de negócios, suporte e operações. Essa diretoria ficou então responsável pela gestão de toda a operação da empresa. A grande vantagem pra mim foi poder conhecer com mais profundidade os processos, as dinâmicas e os indicadores de resultados de praticamente todas as áreas da Gazeta.
O que os capixabas podem esperar da Rede Gazeta neste novo ciclo?
Uma empresa inquieta, inovadora, criativa, com foco no cliente e no consumidor de informações, e ao mesmo tempo firme no seu propósito de contribuir para o desenvolvimento do nosso Estado e dos capixabas, oferecendo serviços úteis, relevantes e confiáveis de informação, cultura e entretenimento.
Embora seja engenheiro por formação, você tem um extenso currículo ligado à comunicação e empresas de mídia (Infoglobo, Valor Econômico, ). Como vê o papel dos grupos de mídia neste momento e, mais que isso, como preparar-se para o futuro?
Tem uma frase de um ex-chefe meu, muito apropriada pro momento: "Não se faz mais futuro como antigamente". Antes, apostávamos no futuro e hoje precisamos descobri-lo. Isso muda tudo em termos de gestão. Não existem mais ciclos de 5 anos. Trabalhamos agora com ciclos muito mais curtos de estratégia, e as mudanças estão acontecendo em todos os setores. Veja o que aconteceu na indústria fonográfica, no setor hoteleiro, financeiro, na educação, táxis, cinema, enfim... as novas tecnologias estão todas aí: IOT, machine learning, realidade virtual, impressão 3D, inteligência artificial e muitas outras.
Cabe-nos aproveitá-las da melhor maneira seguindo cada vez mais a teoria de Darwin. A importância da adaptação é absoluta. As chances estão todas ao lado de quem é capaz de se adaptar. Os grupos de mídia têm sido muito afetados não só pela pulverização da publicidade e do conteúdo, mas também pela mudança nos hábitos de consumo. Precisamos conhecer cada vez mais nossos clientes e usuários levando propostas de valor. Para isso a adaptação é fundamental, e sobre isso eu tenho certeza que a Rede Gazeta larga com certa vantagem, porque já reconhece suas necessidades e o horizonte aonde quer chegar.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta