Um surto de coceira que deixou em alerta médicos em Pernambuco, também foi registrado em outros Estados brasileiros, como Minas Gerais, São Paulo e Paraná. Após investigações, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) esclareceu que o que causou o problema foi uma mariposa do gênero Hylesia. Diante dessa informação, é possível que ocorra o mesmo surto no Espírito Santo?
O professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e doutor em Entomologia, área da Biologia que estuda os insetos, Francisco Cândido Cardoso Barreto, afirma que essa mariposa existe no Espírito Santo.
A bióloga e mestre em Entomologia Thayna Raymundo, atuante no Instituto de Ensino, Pesquisa e Preservação Ambiental Marcos Daniel (IMD), e coordenadora do Projeto Borboletas, explica que o nome Hylesia não designa uma espécie de mariposa, mas um grupo delas em que há cerca de 110 espécies conhecidas.
“Esse gênero é comum no continente americano. Na América do Sul, há registros de outros países próximos ao Brasil, de modo que não está restrita ao país ou só a Pernambuco. Há uma ocorrência grande delas”, iniciou.
Segundo Thayna Raymundo, como a Hylesia vive em ambientes de mata, principalmente na Mata Atlântica, é fácil que ela seja encontrada no Estado. Apesar da possibilidade, não houve, até o momento, registro de surto da coceira causada por ela no Estado.
“Surtos populacionais de mariposas, de insetos em geral, podem ser causados pela monocultura, que reforça a quantidade de alimento para a lagarta, aumentando muito a população, às vezes desproporcionalmente. Mas também estão muito associados à mudança climática. Quando chove muito, ou fica muito quente, o metabolismo do inseto aumenta, ampliando também a reprodução, o número de ovos e de filhotes, o que acaba causando surtos”, explicou o doutor Barreto.
A especialista Thayna Raymundo relatou que essas mariposas podem causar coceiras em seres humanos a partir do contato da pele com as cerdas em formato de escamas que as mariposas têm. No caso das Hylesias, há cerdas especializadas no abdômen do inseto e elas são “urticantes”.
“A função dessas cerdas é proteger os ovos das mariposas, quando elas os depositam. Ou seja, só as fêmeas causam essa dermatite no contato com a pele humana — em contato com regiões sensíveis, causa uma irritação. Muita gente coça e forma ferida”, disse.
Além disso, as cerdas são estruturas bem pequenas, segundo explicou a bióloga. “Uma pessoa varrendo ou pegando no chão, pode entrar em contato com elas. E essa dermatite causa uma vermelhidão e coceira. Às vezes a coceira é intensa, a pessoa acaba coçando muito e isso pode causar feridas e até bolhas. Se estiver muito extremo, é importante procurar um dermatologista para medicação”, acrescentou.
Sobre o motivo dos surtos, não há exatamente uma única razão apontada pela ciência. “É difícil afirmar o motivo, mas a maioria dos registros está relacionada às estações, principalmente quando há mais chuva. Uma das hipóteses também aponta para a questão da reprodução. Estas mariposas, ao estarem mais ativas para se acasalar, podem acabar se espalhando. Apesar de a mariposa ter ocorrência em todo o Brasil, os surtos não são tão comuns”, explicou.
A primeira dica ao encontrar uma mariposa é bem clara: evite matá-la. Primeiramente porque causaria desequilíbrio ao meio ambiente, mas, no caso dessas que podem provocar coceira, matar o inseto facilita o contato com as cerdas.
“O ideal é evitar entrar em contato com a mariposa. E, quando for possível, deve-se fechar janelas e portas de casa, principalmente ao entardecer, já que ela tem hábito crepuscular e são atraídas pela luz. Outra ideia é ter telas para evitar que as mariposas entrem. Além disso, é interessante passar pano úmido no chão, sem precisar varrer. Quando varre, acabam se espalhando as cerdas. Se encontrar uma mariposa suspeita em casa, passar pano úmido onde ela estava, evitando contato”, brincou.
Ao entrar em contato com as cerdas da mariposa, o efeito de dermatite, caso ocorra, não é imediato. Mas, se acontecer, o ideal, segundo Thayna Raymundo, é colocar compressa de água fria na região e evitar coçar para não causar ferida. Também é importante lavar bem o local para evitar que haja mais cerdas ali. Se ficar uma situação desconfortável, é preciso procurar uma unidade de saúde e um dermatologista, lembrando-se sempre que o ideal é nunca se automedicar.
Francisco Cândido Cardoso Barreto concorda. “Se vir uma delas voando, saia de perto. Se possível, desligue as luzes e deixe as janelas abertas para ela tentar sair. Não tente pegá-la no voo, porque fatalmente ela irá soltar várias cerdas que poderão entrar em contato com a pele da pessoa. Espere ela pousar, vá com o pano úmido para não ter risco das cerdas tocarem a pele. Pegue, jogue ela para fora e lave o pano com cuidado”, finalizou.
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