O desmatamento da área de Mata Atlântica aumentou 462% no Espírito Santo entre os anos de 2019 e 2020. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (26) pelo Atlas da Mata Atlântica.
Nesta quinta-feira (27) é celebrado o Dia da Mata Atlântica, o bioma de maior biodiversidade do país e também o mais ameaçado.
Dos 17 estados brasileiros que compreendem o bioma, em 10 houve aumento da área devastada. No território capixaba, passou de 13 hectares desmatados em 2019 para 75 hectares em 2020, o que equivale a 105 campos de futebol oficiais, como o do Estádio Kleber Andrade, em Cariacica.
Apesar do dado assustar, o Estado ainda é considerado um dos que menos destrói as áreas de Mata Atlântica, vegetação típica de quase todo o limite capixaba.
"Quando analisamos de forma mais crítica, 75 hectares é um número relativamente pequeno para o Espírito Santo. Mas, claro, que precisamos estar atentos e identificar onde foram esses desmatamentos para detalharmos as causas. Pode ter sido qualquer evento, inclusive casual, como um incêndio próximo à reserva, ou se foi realmente uma ação deliberada", analisa Sérgio Lucena, professor da Ufes e diretor do Instituto Nacional de Mata Atlântica (INMA).
Luís Fernando Guedes Pinto, diretor de Conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica, explicou que o desmatamento no Espírito Santo era considerado sob controle em 2018 e 2019, mas no último ano esse aumento chamou atenção, principalmente se comparado com o crescimento em outros estados.
"Uma das características de desmatamento no Espírito Santo é que não são grandes áreas desmatadas. A retirada da floresta está atrelada à especulação imobiliária, o crescimento das cidades, e o aumento da agricultura. Esse é o padrão que encontramos. Por isso, não conseguimos ainda entender a razão desse aumento repentino. Lembramos que o Brasil está vivendo um momento de retrocesso nas questões ambientais, comandados pelo governo federal, que pode contaminar de alguma forma o estado e as pessoas na expectativa de não impunidade", pontuou Luís Fernando.
A manutenção do alto patamar de perda da vegetação nativa, com o crescimento do desmatamento em diversos estados, ameaça intensamente o bioma e reforça a necessidade de ações de preservação e restauração florestal.
"O desmatamento afeta concretamente a vida das pessoas, como a garantia de fornecimento de água de qualidade e quantidade até para alimentar a indústria, agropecuária e até mesmo a manutenção do clima. No próprio Espírito Santo, nos últimos anos houve uma seca forte no Norte que dificultou a produção das safras de café. O desmatamento também colabora com gases do efeito estufa e há também a perda da biodiversidade rara e extremamente ameaçada", explica Luís Fernando.
Em todo o Brasil, foram desflorestados 13.053 hectares (130 quilômetros quadrados) da Mata Atlântica. Em São Paulo, o crescimento também foi de mais de 400% em um ano. Já no Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul tiveram mais de 100% de crescimento.
O professor Sérgio Lucena observa que o fato da maior parte da população ser urbana, não se deve esquecer que a biodiversidade da mata também se faz necessária.
"Não podemos tratar essa biodiversidade como distante, pois reúne um ecossistema natural que vai além do espaço que ocupa. Essas florestas nos prestam serviços ecossistêmicos, como a manutenção da água de qualidade e demais recursos hídricos", ressalta.
Sérgio pondera ainda que toda a sociedade deve colaborar. "A proteção dos ecossistemas naturais depende do consumo consciente e moderado. Se consumimos demais, vamos demandar mais matéria-prima da natureza, vamos fabricar mais, poluir mais. Por isso o consumo de produtos naturais e orgânicos colabora com o meio ambiente, além é claro de usarmos a nossa cidadania para escolher líderes políticos comprometidos com a proteção do meio ambiente e que tomem decisões favoráveis à natureza, no âmbito municipal, estadual e federal", completou.
O Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf) informou, por nota, que nos períodos avaliados de 2018 a 2019 e 2019 a 2020, o total de desmatamento permaneceu abaixo do patamar de 0,01% do total de 1 milhão de hectares de vegetação nativa do Estado.
O Idaf afirmou ainda que entrou em contato com a SOS Mata Atlântica e aguarda o fornecimento dos dados para realizar a apuração administrativa dos pontos de desmatamento do estudo.
Ainda por nota, a Idaf ressaltou que além das fiscalizações de rotina e ostensivas realizadas pelos 78 escritórios presentes em todo o Estado, o instituto tem realizado operações conjuntas periodicamente, como no caso da Operação Mata Atlântica em Pé, realizada em conjunto com o Ministério Público Estadual, a Polícia Militar Ambiental e o Iema. Em 2020, foram R$ 254 mil em multas aplicadas e 95 hectares embargadas para recuperação florestal.
O Idaf também informou que utiliza o sistema MapBiomas Alerta, para monitoramento dos desmatamentos detectados por imagens de alta resolução e gerencia o Cadastro Ambiental Rural, que facilita a apuração dos alertas ao identificar os imóveis e proprietários das áreas desmatadas.
Já a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Seama) afima que possui o Programa Reflorestar, que é referência nacional de restauração florestal de larga escala. Desde o início de sua operação, em 2013, são mais de 10 mil hectares de restauração florestal e mais de 10 mil hectares de florestas em pé. Mais de 285 mil hectares de florestas, em regeneração natural, são monitoradas por imagens de satélite.
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