“Neste ano ela apareceu com um corte profundo”, revelou o médico-cirurgião Samir Sagi El-Aouar, pai da médica Juliana Pimenta Ruas El-Aouar, em entrevista ao Encontro com Patrícia Poeta, da TV Globo, nesta terça-feira (5). A filha dele foi encontrada morta na manhã do último sábado (2) em um hotel de Colatina, no Noroeste do Espírito Santo. O marido dela, Fuvio Luziano Serafim, de 44 anos, ex-prefeito da cidade Catuji, em Minas Gerais, e o motorista do casal, Robson Gonçalves dos Santos, de 52, são os principais suspeitos do crime e estão presos preventivamente na cidade.
Samir, que é médico-cirurgião e ex-prefeito da cidade mineira de Teófilo Otoni, falou que a filha tinha medo de contar o que aconteceu e que o relatava que havia sofrido uma queda. A família desconfiava. “(O ferimento) foi medido no IML e tinham 7 cm de tamanho de corte. Eu chamei um cirurgião plástico para fazer a sutura e recompor a testa dela. Ele dizia que ela caiu, mas ele a agrediu várias vezes. Nós não tínhamos como comprovar, porque ela tinha medo de contar a verdade e eu ter um confronto ríspido com ele”, contou o pai de Juliana.
Existe uma imagem que mostra o ferimento (veja acima). De acordo com o advogado Siderson Vitorino, que atua na defesa da família de Juliana, a foto foi compartilhada pela médica a uma amiga em abril deste ano.
“Apresentei à Polícia Civil, o nome de amigas próximas à médica, que são capazes de confirmar a rotina de medo e tortura física e psicológica sofridos pela psiquiatra morta em Colatina”, afirmou Vitorino.
O pai de Juliana relembrou durante a entrevista que diversas vezes viu a filha com ferimentos e entrou com um pedido de medida protetiva.
Em uma outra ocasião, quando a médica estava internada em um hospital, Fuvio teria injetado uma substância em Juliana. Samir relatou que essa informação também foi encaminhada para a PC.
“Ele já entrou em um hospital uma vez, onde ela estava internada uma vez, e injetou uma substância nela dentro do quarto. Há um processo do hospital contra ele. Ele fez isso durante uma viagem, nós conseguimos tirá-la do carro dele e levamos para um hospital”.
O último contato de Samir com a filha foi na noite de sexta-feira (1º). Ela veio à Colatina para passar por uma consulta médica e disse ao pai que estava bem, tinha ido a uma churrascaria e depois tomou sorvete. “Ela me mandou um beijo, boa noite e disse que me ligaria no dia seguinte. Essa foi a última vez”, comentou.
No dia seguinte, o pai relatou que recebeu uma ligação de Fuvio, por volta das 10h.
Samir acredita que o crime pode ter sido planejado. Segundo o pai, Juliana adotou uma filha de Fuvio, que seria herdeira dela, e o homem disse a ele que a médica queria a separação. “Eu acredito que foi muito bem planejado por ele. A minha filha adotou, por um pedido dele, uma filha dele, há uns dois anos. Ela não teve filhos com ele. A filha dele é herdeira de tudo. Ela tem bens, móveis e imóveis. Ele planejou. Disse que ela queria se separar dele. Essa seria a última oportunidade para ele fazer isso”.
De acordo com o boletim de ocorrência da PM, Fuvio teria pedido conta e tentado ir embora do hotel, mesmo com a esposa ferida no quarto. Segundo Samir, ele tentou fugir.
“Ele disse (na recepção do hotel) que a minha filha estava passando mal, desmaiada, e quis acertar a conta para ir embora. O hotel não aceitou, pediu para acionar o Samu. A polícia constatou o óbito. Ele tentou fugir, não sei para onde ele ia, como ele ia tirar a minha filha lá de dentro”.
“Ele tirou a vida da minha filha. Não tem volta. Vamos lutar para que não aconteçam outros feminicídios, para que os homens respeitem as mulheres”.
Leia também: Pai de médica morta em Colatina: 'Temos que acabar com o feminicídio'
O atestado de óbito constatou que entre as causas para a morte de Juliana Ruas estão traumatismo craniano e asfixia. Samir deu detalhes sobre o exame e lamentou que hóspedes do hotel tenham reclamado do barulho, mas ninguém tentou abrir a porta do quarto para tentar impedir o que aconteceu.
“Ele furou ela toda de agulha injetando morfina. No pescoço, nas pernas, no abdômen, no tórax. Arrebentou a minha filha”, falou.
Ainda durante a entrevista ao Encontro, o pai da médica afirmou que o motorista Robson Gonçalves dos Santos teria envolvimento em dois homicídios, sendo um confirmado pela polícia.
A reportagem tentou contato com a defesa dos suspeitos, mas não conseguiu até o momento.
Na segunda-feira (5), Fuvio Luziano Serafim (esposo da vítima) e o motorista do casal Robson Golçalves dos Santos passaram por audiência de custódia e tiveram a prisão em flagrante convertida por preventiva.
Após depoimentos na Polícia Civil, os dois foram autuados por homicídio qualificado por motivo torpe, sem que a vítima tivesse direito à defesa e por ela ser mulher, configurando o feminicídio. Na audiência, o juiz entendeu que existem indícios que provam que Fuvio cometeu o crime.
"Trata-se de crime de homicídio (feminicídio), perpetrado de maneira fria e desprezível, imputado ao marido da vítima e ao outro custudiado. Conforme laudo apresentado pelo SML, a vítima sofreu diversas (graves) lesões, sendo as causas da morte hipoxemia, asfixia mecânica, broncoaspiração e traumatismo cranioencefálico. [...] Em razão da reprovabilidade das condutas em tese praticadas pelos autuados e para a garantia da ordem pública, entendo que a segregação cautelar é medida que se impõe no presente caso", expõe.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta