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Médico alerta para falta de remédios para tratar Covid em UTIs do ES

Médico alerta para falta de remédios para tratar Covid em UTIs do ES

Segundo o intensivista Henrique Bonaldi, pode faltar medicamento até mesmo para manter sedados os pacientes que precisam ficar entubados

Publicado em 6 de junho de 2020 às 10:15

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Preço dos remédios deve ter reajuste médio de 4,08%
Remédios para doenças crônicas e para uso em hospitais estão com . (Pxhere)

Uma situação quase desesperadora. É assim que o médico intensivista Henrique Bonaldi descreve a redução da quantidade de remédios disponíveis para lidar com as pessoas internadas na UTI. Segundo o profissional, vai chegar um momento em que faltarão os remédios mais básicos e obrigatórios, como os que são utilizados para manter sedados os pacientes entubados.

“Está acabando remédio para lidar com sujeito na UTI. Se a pressão dele baixar, vai ter uma hora que não vou ter remédio para fazer a pressão dele subir e ele vai morrer de pressão baixa dentro da UTI. Se sentir dor, vai ter uma hora que eu não vou ter o que fazer e ele vai ter que ficar com o tubo na garganta sentindo uma dor tremenda e eu não vou ter o que fazer”, disse o médico, em vídeo publicado em seu Instagram.

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Me perdoem a "indelicadeza", muita gente precisa ouvir!

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“Ele vai ter que ficar dormindo e acordando por si só, porque com aquele tudo na garganta que é obrigatório usar remédio para sedar, eu não vou ter mais o remédio. Está acabando. Não sei se vocês estão conseguindo entender”, acrescenta o médico que ainda fala sobre a falta de isolamento na região da Grande Vitória.

De acordo com o médico, a situação ainda não está sendo observada em regiões ou hospitais específicos, mas já está havendo dificuldade para realizar a compra de tais medicamentos. “O que eu sei é que está começando a faltar nas distribuidoras. Hospital ainda não é o problema, mas os farmacêuticos responsáveis estão com dificuldades para comprar os remédios”, explica.

“E não só medicamentos. Vai chegar um momento em que vai faltar médico, enfermeiro, fisioterapeuta… Só os leitos não vão resolver. O que resolve é isolamento bem feito e isso a gente não tem visto por aqui. As praias estão cheias, os bares estão cheios, enquanto só deveria sair de casa quem tem extrema necessidade”, acrescenta.

A falta de medicamentos foi citada até mesmo pelo governador Renato Casagrande em coletiva de imprensa nesta sexta-feira (5). “Estamos perto de 600 leitos de UTI só para Covid, neste final de semana vamos abrir mais pois a doença está no nosso calcanhar. Os respiradores formam uma parte dos leitos de UTI. Ter respirador não significa que podemos abrir leitos indefinitivamente. Temos outros limitadores, como profissionais da saúde, medicamentos e equipamentos, que também estão sendo demandados em outros estados", explicou o governador.

RISCO DE FALTAR MEDICAMENTOS QUE TRATAM OUTRAS DOENÇAS

A crise na saúde está deixando o país em um risco iminente de desabastecimento de remédios. O levantamento, até o momento, aponta que em breve deixarão de ser fornecidos medicamentos para hipertensão e diabetes, comorbidades que podem agravar o quadro de pacientes com a Covid, e também antibióticos e antivirais, inclusive para o tratamento da doença em hospitais. Secretários querem que o Ministério da Saúde tome providências para que a população não fique desassistida. 

O presidente do Conselho Nacional dos Secretários Municipais de Saúde (Conasems), Wilames Freire, diz que uma das dificuldades é a escassez de matéria-prima para a indústria farmacêutica, já que boa parte é importada da China e da Índia, mas que espera que o governo federal adote medidas que possam regular o mercado e, assim, garantir o fornecimento dos remédios que são distribuídos pelas redes públicas ou usados em hospitais. 

A entidade encaminhou um ofício no mês passado ao ministério, na expectativa de uma solução para o problema que pode, segundo Freire, gerar consequências muito danosas à população que depende do SUS.

Wilames Freire, presidente do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems)
Wilames Freire, presidente do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems): indústria farmacêutica depende de ação do governo federal para retomar ritmo de produção. (Luiz Filipe Barcelos/Conasems)

"A indústria farmacêutica não dá vazão ao aumento da demanda no país, provocado pela pandemia. Fica dependendo muito da ação do governo federal, de negociações no exterior, para a produção dos medicamentos. O país ampliou em quase 7 mil a oferta de leitos de UTI para atendimento a pacientes da Covid, e já há denúncias de risco de alguns lugares não poderem usar por falta de medicamentos para dar suporte", pontua Freire.

Depois do ofício, Freire conta que esteve pessoalmente, nesta semana, com o ministro interino, general Eduardo Pazuello, que se comprometeu a pedir a área técnica para avaliar a situação e adotar as medidas necessárias.

"Estamos preocupados em não ter remédio para o tratamento de doenças crônicas, e principalmente para os que precisarem de leitos de UTI por Covid ou outros problemas. É uma situação a que não queremos chegar", frisa o presidente do Conasems.

SITUAÇÃO NO ES

A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) reconhece que, devido à pandemia, há dificuldade na aquisição de alguns insumos, medicamentos e equipamentos em razão de grande procura mundial. No entanto, conforme nota da assessoria, a situação ainda não comprometeu o atendimento aos pacientes, e para que permaneça controlada, o Estado tem adotado medidas emergenciais. "Em relação aos medicamentos, por exemplo, estão sendo feitas compras diretas pelos hospitais, concomitantemente com grande compra pela própria secretaria", informa.

Presidente do Conselho Regional de Farmácia no Espírito Santo (CRF-ES), Luiz Carlos Cavalcanti observa que a possibilidade de desabastecimento é cogitada porque a indústria nacional é bastante dependente de importação. Ele acrescenta que  a desvalorização do real perante o dólar também inviabiliza a aquisição de insumos farmacêuticos importados.

"O que gera uma pressão sobre o custo de produção de alguns medicamentos que, por decreto governamental, estão com preços sem reajuste neste momento de pandemia", afirma.  Essa condição também afeta o setor comercial.

A presidente do Colegiado de Secretarias Municipais de Saúde do Espírito Santo (Cosems-ES), Cátia Lisboa, informou, por nota, que os municípios capixabas estão monitorando a situação e estudam solicitar apoio dos órgãos regulamentadores, porém não esclareceu o tipo de suporte que será solicitado.  

A secretária-executiva da entidade, Marfiza Machado de Novaes, acrescentou que há uma pesquisa em andamento junto aos gestores e, até o momento, não há relatos de desabastecimento.

O Ministério da Saúde também foi procurado, por meio da assessoria, e informou que precisaria de 24 horas para se manifestar. Passado o prazo, o órgão ainda apresentou um posicionamento. Assim que a resposta for encaminhada, está matéria será atualizada.

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