A falta de medicação para intubar pacientes com a Covid-19 internados em UTIs era um risco iminente no Espírito Santo e, agora, começa a se confirmar. Um médico do Sul do Estado alerta para o problema, já registrado em dois hospitais em que atua na região. O desabastecimento pode comprometer a assistência das pessoas em situação mais grave e que dependem de ventilação mecânica durante o tratamento.
Coordenador de duas unidades de UTI no Sul do Estado em hospitais filantrópicos, o médico intensivista Marllus Thompson falou, em entrevista para a TV Gazeta, que estão no fim dois tipos de analgésicos - remédios para dor - e um sedativo de segunda linha, considerando que o de primeira linha já não está disponível.
O quadro é tão preocupante que Marllus optou por antecipar traqueotomia - procedimento que abre um orifício no pescoço do paciente para ajudar na respiração - em alguns dos internados.
"Fiz sete agora de manhã, mas de quatro tive que antecipar. Talvez pudesse esperar um pouco mais, mas com a traqueostomia (o orifício) o desconforto é menor, há mais facilidade para acoplar na ventilação mecânica. Não me interessa de quem é a culpa, mas não sei a quem apelar mais. O governo estadual está tentando fazer a sua parte. Não sei se as fábricas têm como atender. A nossa situação é de um nível de estresse absurdo", pontuou.
O próprio governo do Estado havia advertido para o risco de falta de medicação, o chamado kit intubação, porque empresas fornecedoras com as quais havia sido feito contrato não estavam entregando os remédios, sob a alegação de que o Ministério da Saúde havia requisitado todo o estoque.
Ainda assim, em nota na noite desta terça-feira (13), a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) informou que no momento não há desabastecimento de medicamentos para intubação na rede estadual, devido ao cronograma de compras que o Espírito Santo tem estabelecido desde o início da pandemia e às ações judiciais para entregas por parte dos fornecedores, neste momento de dificuldade nacional no fornecimento dos insumos.
"Esclarece que tem recebido relatos de dificuldades por parte das redes privada e filantrópica, e que, de forma pontual, tem feito empréstimos em alguns casos específicos para garantir a assistência emergencial em algumas unidades, já que a aquisição de medicamentos é de responsabilidade dessas instituições", acrescentou a Sesa, ainda em nota.
Para conter o problema na rede estadual, a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) ingressou com 13 ações na Justiça, uma para cada empresa que deixou de cumprir o contrato de fornecimento de medicamentos. Dessas, já havia oito decisões favoráveis, e mais três foram concedidas nesta terça. Uma das empresas se adiantou à análise judicial e forneceu os remédios e, agora, resta apenas uma decisão a ser proferida pela Justiça.
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