Com mais de seis meses de pandemia do novo coronavírus no Brasil, o país já ultrapassou oficialmente a marca dos 116 mil mortos pela Covid-19 e os números seguem elevados, ainda que em um cenário de estabilidade. No Espírito Santo, o total de vidas perdidas até a atualização mais recente feita pela Secretaria de Saúde é de 3.068. Um quantitativo, em ambos os cenários, elevado, preocupante e repleto de incertezas.
Assim pensa e analisa o médico cardiologista e intensivista Eduardo Castro. Em entrevista ao Programa CBN Vitória na manhã desta quarta-feira (26), o médico que está na linha de frente no combate à doença disse acreditar que o ES pode observar em breve um crescimento de novos casos, e usa o que observa com os próprios pacientes para embasar essa linha de raciocínio.
"Não tenho dúvida disso (uma nova onda de contaminação). O que eu tenho de paciente que pegou Covid no Dia dos Pais não está no gibi, com certeza. Quando vou atender sempre falo o seguinte: se você se contaminar hoje, você vai ficar mais ou menos umas 36 horas sem ser contagiante. Entre 36 e 48 horas depois você começa a produzir vírus em alta intensidade embora ainda esteja totalmente assintomático. Então lá pelo quarto e sexto dia então desenvolverá o primeiro sintoma, que é aquele calafrio, escorridinha de nariz, dorzinha de cabeça mais forte não habitual e por aí vai. Mas falo por mim. Eu, Eduardo, estou acompanhando um número enorme, tipo um boom mesmo, de pessoas contaminadas do domingo dos Dia dos Pais (9 de agosto) para cá. Isso se deu por conta da ruptura em relação à necessidade do isolamento. Houve relaxamento em relação ao uso da máscara e outros métodos de prevenção", justificou o médico.
Franco, o especialista usa o próprio exemplo em relação aos eventos relacionados à doença para alertar a população de uma maneira em geral a prosseguir com o isolamento e não acreditar em crenças, falácias sobre medicações, boatos e outras inverdades ligadas ao coronavírus. Sem receio algum em dizer que fez uso contínuo da hidroxicloroquina, o cardiologista descontinuou com o remédio por entender comprovadamente que não faz sentido usá-lo sem que haja eficácia.
"Desde o dia 20 de março até o início de julho eu usei a hidroxicloroquina, até como profilaxia, por entender que ela impedia a entrada do vírus na célula. Isso era uma cultura em células renais, mas um estudo alemão recente mostrou que a medicação não impede a entrada do vírus no pulmão por meio das vias respiratórias. Desde então deixei de usar. Não critico quem usa, porém ela não faz parte mais do meu arsenal, já que não há nada comprovado em relação à eficácia da mesma. Fé a gente tem em Deus. Para as outras coisas precisa de comprovação. Falo como uma pessoa que tomou todos os dias, minha esposa tomou e não tenho vergonha alguma em dizer isso", salienta Eduardo.
Por conta da gravidade da pandemia, o médico entende a busca incessante pela cura, mas isso não pode se sobrepor aos estudos científicos, muito menos sofrer com lobby político como observado no Brasil e Estados Unidos, onde os presidentes estimularam a utilização da medicação como forma de combate à doença.
"Não funciona, embora exista uma vontade enorme de algo que ajude nesse sentido. Só que não adianta ficar preso a promessas sem fundamento. Medicina é pautada em resultados e superioridade. Todos os estudos realizados até aqui mostram que a hidroxicloroquina não tem eficácia em relação ao coronavírus. Então é pensar em outra, pois essa possibilidade não valeu. Não há milagre em relação a isso. Essa ausência na padronização do tratamento que observa-se por aqui contribuiu para ainda termos um número alto de mortes", destaca o médico.
Ainda sobre a hidroxicloroquina, Eduardo de Castro traçou uma diferença da atuação do vírus no Brasil e em outros países para explicar como o medicamento não se mostra eficaz no combate ao novo coronavírus.
"Existem diferenças entre os vírus ao redor do mundo. O vírus que afetou a China é diferente do que atuou na Itália e aqui no Brasil. Por aqui, observamos que ele é mais agressivo e contagioso, por exemplo. Aqui a cloroquina não se mostrou eficaz e tenho certeza que a China, em poucas semanas, analisando os dados e estudos, irá descontinuar com o remédio. Não adianta seguir utilizando. Não é que ela vá fazer mal, a hidroxicloroquina só não será capaz de curar esse paciente infectado. Ainda se carece de muita pesquisa e cada pessoa pode reagir de uma maneira diferente ao medicamento. Nem em relação a isso há uma uniformidade médica ainda", ponderou.
Na longa entrevista concedida, o médico abordou outros tópicos relacionados à pandemia do novo coronavírus. Confira:
"A Ivermectina também carece de muita comprovação, é uma possibilidade ainda muito distante e teria de ser em uma dosagem bem elevada. Na Austrália, onde há mais estudos sobre ela, a eficiência da mesma ainda é uma incógnita. O que a gente sabe mesmo é que a prevenção se dá por uso de máscara, distanciamento, higienização das mãos e desinfecção de ambientes contaminados. Se eu tenho um paciente que acha que deva tomar porque aquilo pode ajudá-lo, eu até a prescrevo, pois isso pode influenciar no lado psicológico, o que vai interferir diretamente no restante do tratamento. Porém deixo claro que não recomendo porque não há nada comprovado."
"O que é preciso entender é que no menor dos sintomas já é preciso procurar um médico. Teve contato com alguém infectado, o que fazer? Realizar um exame, sorologia, teste rápido? Não! Meça a temperatura, especialmente entre às 16h e 22h. Fez um 37,4°C, já procura um médico para coletar o Swab (cotonete), pois a chance de encontrar o vírus é grande. Sendo diagnosticado logo no início, se conseguirá fazer um bloqueio muito mais eficaz, além de evitar que mais pessoas se contaminem. Na menor suspeita de que possa estar com a doença, se isole em casa, separe seu próprio copo, toalha de banho e procure o médico. Ressalto que 37,4°C não é considerado febre, mas é o que chamamos de temperatura da Covid. A pessoa só fará 38, 39 graus lá pelo oitavo dia, quando já vai estar com uma infecção secundária (pneumonia, por exemplo). O início geralmente é aquela febrezinha mentirosa, quase imperceptível. Tem que medir nesse horário recomendado. Isso foi atestado por médicos da Alemanha onde eles viram que mais de 90% dos casos que manifestaram febre por Covid ocorreu nesse período (16h - 22h). Sempre faço essa recomendação aos meus pacientes."
"No início da pandemia nós, sociedade em geral, cometemos um erro ao dizer que ficássemos em casa e só viesse ao hospital em casos mais graves. No laudo do PCR está dizendo que o exame tem pouca validade se feito após o oitavo dia. Então o número de pessoas que fizeram o teste em momento errado e deu falso positivo é grande. Estes não vão entrar nunca nos números de morte por Covid-19 porque não se documentou a doença no momento exato. O que penso ser crucial, e por mais que isso gere uma sobrecarga para o sistema de saúde, é algo que a sociedade precisa se mobilizar novamente em relação aos cuidados. Ontem (terça-feira), uma pessoa do Lacen (Laboratório Central) comentou que o 'negócio tá brabo', indicando um crescimento de novos casos. Portanto, apresentou sintomas, ainda que leves, procure o médico."
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