Febre alta e manchas avermelhadas pelo corpo. Esses foram os primeiros sintomas percebidos na pequena Beatriz Dutra Amado, de 3 anos. De acordo com os familiares dela, a menina foi diagnosticada com a síndrome de Kawasaki, doença rara que pode estar associada ao novo coronavírus.
A enfermidade provoca uma inflamação no corpo que acomete principalmente os vasos coronarianos. Quando evolui de forma grave, pode resultar na formação de aneurisma nas artérias, arritmia e infarto agudo do miocárdio. Na maioria dos casos, atinge crianças de até 10 anos de idade, sendo mais comum entre os 2 e 5 anos.
A tia de Beatriz, a auxiliar administrativo Gleyciane Dutra, de 26 anos, disse que a menina está internada no Hospital Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves (Himaba), em Vila Velha, há 11 dias. Por causa da suspeita de infecção do novo coronavírus, ela está isolada em um quarto do hospital.
Beatriz mora em Vila Velha com a tia Gleyciane. A auxiliar contou que no último dia 20 a sobrinha estava febril. A medição de temperatura variava entre 37.2 ºC e 37.5 ºC. Mesmo preocupada, a tia decidiu não aplicar nenhum tipo de medicamento e acompanhou o estado de saúde da menina ao longo da segunda-feira.
No dia seguinte, a febre passou para 38 ºC e então Gleyciane deu um remédio de febre à criança. Já na quarta-feira (22), a temperatura foi para 39 ºC. Beatriz então foi levada a um hospital particular e foi diagnosticada com sinusite. No mesmo atendimento, os médicos localizaram uma mancha vermelha na coxa esquerda dela.
A paciente foi submetida a exame do tórax, mas nada anormal foi localizado. Para tratar a sinusite, foi receitado um antibiótico e um remédio para cortar a febre. Já medicada, e em casa, a febre de Beatriz aumentou para 40,3 ºC. Então ela foi levada para o Hospital Infantil, em Vitória, e recebeu alta no mesmo dia.
Na quinta-feira (23), Beatriz continuou com febre alta e intermitente. Na sexta-feira (24), a menina começou a chorar por causa dos sintomas e foi levada para o Hospital Infantil de Vila Velha, o Himaba. No local ela fez exames, mas nenhum deles apontou o que o organismo dela estava enfrentando.
Na segunda-feira, pelo resultado dos exames e a junção dos sintomas, concluíram que era a síndrome. Da quarta passada em diante, ela só tinha piorado: inchaço nos olhos, lábios ressecados, língua inchada e avermelhada e manchas pelo corpo. Enquanto não descobriram o que era, o caso ia ficando mais grave, iam aparecendo mais sintomas, relembrou.
Há cerca de 45 dias, Gleyciane e o marido apresentaram sintomas da Covid-19 como perda de olfato, paladar, dor de cabeça, febre e indisposição. A Beatriz, que mora com o casal, não apresentou nenhum sintoma. Nenhum deles passou pelo o exame que indicava a infecção pelo vírus. Por causa desse episódio, a menina fez o teste sorológico. O resultado deve sair nesta semana.
Na tarde desta segunda-feira (3), os familiares da menina informaram que a paciente está sendo medicada e que desde domingo (2) não apresenta febre. A tia tem esperança que a menina seja curada e receba alta o quanto antes.
Toda a minha família ficou muito abalada quando a Bia ficou doente. Fiquei dois dias chorando sem parar. Pra mim foi muito assustador e dei graças a Deus que descobriram alguma coisa. Cremos que ela vai se curar logo. A Bia é uma menina rodeada de carinho e muito querida por todos, declara.
A reumatologista pediátrica Aline Coelho Moreira da Fraga atua no Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam), da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Ela explicou que a doença é uma vasculite, inflamação dos vasos sanguíneos. Geralmente, acomete crianças de até 10 anos de idade.
Como sintomas ela destaca que o paciente apresenta mais de cinco dias de febre, manchas no corpo, inchaço nas mãos, nos pés, irritação, olhos vermelhos, conjuntivite, diarréia e vômito. O quadro mais temido, segundo ela, é quando o vaso sanguíneo do coração fica inflamado. O caso pode evoluir para um aneurisma.
Considerada uma doença já conhecida e tratada desde antes da chegada do coronavírus, a reumatologista explicou que a Síndrome de Kawasaki pode estar relacionada à qualquer infecção, inclusive à Covid-19. No entanto, os casos registrados na Europa e nos Estados Unidos mostram que ela tem acometido crianças infectadas ou já curadas da infecção pelo vírus Sars-Cov-2.
Já os casos graves estão aparecendo nas crianças com coronavírus e são diagnosticados com a Síndrome Multissistêmica Inflamatória, que é muito parecida com o Kawasaki. A gente acha até que essa síndrome inflamatória seja um Kawasaki grave, que também é tratado com imunoglobulina. Os sintomas da síndrome são mais potencializados que os da Kawasaki. A criança fica mais grave e começa a evoluir com falência dos órgãos como pulmão e coração, explica.
A pneumologista infantil Laís Fraga ressalta que os casos confirmados de Síndrome de Kawasaki aumentaram, sobretudo na Europa, após a chegada do novo coronavírus. Ela informa que a doença é identificada, geralmente, quatro semanas após a criança ter tido contato com o vírus que causa a Covid-19.
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