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Medula óssea faz viagem de mais de 9 mil quilômetros do ES até os EUA

Medula óssea faz viagem de mais de 9 mil quilômetros do ES até os EUA

Doador de Vitória teve o material coletado no dia 20 de janeiro e, no mesmo dia, a medula seguiu para os Estados Unidos

Publicado em 25 de janeiro de 2025 às 11:20

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Raphael Athayde de Souza, de 37 anos é do Espírito Santo e doou medula óssea para paciente dos Estados Unidos
Raphael Athayde de Souza, de 37 anos, é do Espírito Santo e doou medula óssea para paciente dos Estados Unidos . (Reprodução/TV Gazeta)

Uma medula óssea doada por um paciente de Vitória viajou mais de nove mil quilômetros até chegar ao seu destino, nos Estados Unidos, e cumprir sua missão: salvar a vida de um jovem americano. A doação foi feita por Raphael Athayde de Souza, de 37 anos, na última segunda-feira (20) e, no mesmo dia, o material já seguiu viagem.

Raphael mora na Capital, é autônomo e doador de medula óssea desde 2012. Ele recebeu a notícia de que era compatível com um paciente dos EUA no dia 15 de janeiro. Já no dia 20, o capixaba foi internado em um hospital de Vitória, passou por exames, realizou o procedimento e recebeu alta já no dia seguinte.

"Eu doei sangue a primeira vez em 2012 por conta de um amigo que teve leucemia. Ele movimentou o bairro onde eu moro. Todos os amigos foram tentar dar uma medula compatível para salvar ele. Infelizmente, ele faleceu. O nome dele é Ronnie e ele é o pioneiro para eu estar aqui hoje", disse Raphael.

Caminho da medula

Segundo Marcelo Aduan, coordenador do Serviço de Onco-Hematologia e Transplante de Células Tronco Hematopoéticas do Hospital Santa Rita, onde o procedimento foi realizado, a medula segue de avião normal, mas não passa pelo raio-x dos aeroportos.

"Um courier, responsável pelo serviço de entrega expressa, vem dos EUA para receber a medula. Toda a documentação é conferida. A bolsa contendo a medula (que é igual à bolsa de sangue quando fazemos transfusão) é colocada dentro de um isopor e segue viagem como se fosse uma 'bagagem de mão'", relatou.

O coordenador comentou ainda que, assim que a medula chega ao destino, ela é congelada para uso futuro e faz parte de um procedimento padrão para garantir quem vai receber a célula-tronco.

Por mais que seja curioso, a doação de medulas para pacientes de todo o mundo é algo comum. Isso porque o Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome) faz parte de uma rede internacional que permite a busca de doadores em outros países, caso não haja compatibilidade no Brasil.

"Cerca de 30 a 35% dos transplantes feitos no Brasil com doadores não aparentados são realizados com doadores estrangeiros", ressaltou a hematologista Danielli Oliveira.

Segundo o Redome, em 2024 foram feitas 100 doações de brasileiros para pessoas de outros países, sendo três deles capixabas.

Além dos Estados Unidos, França, Argentina e Itália são os países para os quais o Brasil mais envia unidades de células para transplante.

Para quem doa, fica o sentimento de amor ao próximo. O autônomo também faz parte, desde 2021, de um grupo de torcedores do Flamengo que é voluntário na doação, o Flamedula.

"Você se sente um super-herói, e saber ainda que é mundial, que a pessoa procurou no mundo inteiro e encontrou em mim a salvação, a vida... Você não salva só uma pessoa, você salva a família toda. Por conta de todos os especialistas que eu conversei, parece que é uma criança, se Deus quiser vai dar tudo certo, vai pegar, salvar a vida dela e a gente vai conseguir fazer esse reencontro", comentou o autônomo.

Segundo a orientação na Política de Proteção ao Doador, o doador tem a identidade preservada.

"O sigilo é fundamental no processo de doação de medula para garantir que o paciente não seja influenciado durante a decisão de doar ou não. Por exemplo, se um paciente de 70 anos precisar de um transplante, o doador pode se recusar a doar alegando que prefere ajudar um paciente mais jovem. Por isso, é essencial manter a imparcialidade na decisão. É provável que, ao se registrar como doador, Raphael tenha assinado um termo de sigilo que estabelece que ele só poderá conhecer a identidade do receptor entre 18 e 24 meses após o transplante. Esse procedimento é o padrão adotado pelo Redome e por todos os bancos de doadores de medula óssea do mundo, visando garantir a privacidade e a igualdade de tratamento para todos os envolvidos no processo", explicou.

Doações em números

Dados do Redome apontam que, no Espírito Santo, há 182.320 cadastros de doadores voluntários e pouco mais de 500 receptores. Em 2024, já foram realizados 5.024 novos cadastros no Estado.

Além disso, o Brasil teve 282 doações de medula em geral, sendo nove de capixabas.

De acordo com o médico coordenador de Serviços de Transplante de Medula Óssea do Hospital Santa Rica, a compatibilidade da medula acontece a partir do momento em que o receptor e o doador entram no banco de dados do Redome.

"O Redome cruza os dados com o registro de receptor de medula óssea, que são pacientes que estão na fila aguardando por transplante. Então, a partir do momento que você encontra um doador do registro que seja compatível com o registro do receptor, você já começa o processo da doação da medula óssea. Obviamente que você precisa consultar se o doador que está no banco continua disponível. Ele pode ter tirado o consentimento de ser doador, ele pode estar doente, ter saído do Brasil...", pontuou o coordenador.

No Espírito Santo, o cadastro de doador voluntário é feito no Centro de Hematologia e Hemoterapia do Estado (Hemoes). No Estado, há vários pontos espalhados.

O que é necessário para doar?

*Com informações de Cristian Miranda e Viviane Lopes, da TV Gazeta e g1 ES

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