O governo do Estado confirmou a circulação da variante Delta do Sars-Cov-2 (coronavírus) no Espírito Santo nesta segunda-feira (9) e, para conter o avanço desta cepa, mais transmissível, a melhor estratégia é ampliar a cobertura vacinal. Para alguns especialistas, inclusive, a alternativa para barrar um aumento expressivo da Covid-19 seria reduzir o intervalo de aplicação entre a primeira (D1) e a segunda (D2) doses, ampliando o grupo com o ciclo de imunização completo - atualmente em 23,59% da população capixaba.
Professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e doutora em Epidemiologia Ethel Maciel, diz que sempre foi do princípio que deveria se respeitar o intervalo previsto originalmente na bula pelo fabricante da vacina, e hoje essa posição ganha mais sentido ao observar que apenas a D1 não é suficiente para controlar a Delta. Ela reconhece que as mudanças adotadas no início da vacinação pelo mundo resultaram de decisões políticas devido à baixa disponibilidade de imunizantes, porém há países revendo suas estratégias.
"Nos lugares onde chegou, a Delta fez um estrago. Em pessoas que não se vacinaram ou tomaram apenas uma dose, o impacto é grande de infecção e adoecimento e fez com que vários países revissem o seu calendário, diminuindo o intervalo entre as doses. Nosso problema (no Brasil), é que tudo depende de ter doses. Não estamos na melhor estratégia, mas fazendo aquilo que é possível. Mesmo quem tinha aumentado o intervalo, como o Reino Unido, agora está diminuindo na tentativa de proteger mais pessoas", descreve.
Para Ethel Maciel, a forma como a Delta se apresenta exige mudança de estratégias, mas ela admite que, se não houver disponibilidade de doses, será difícil reduzir o intervalo de aplicação. "Em outros países, neste momento, já estão dando uma terceira dose. Não conseguimos nem pensar nisso", lamenta.
No Brasil, a Astrazeneca e a Pfizer têm os maiores intervalos de aplicação, mas os Estados adotam estratégias próprias conforme o limite do estabelecido nas bulas. No Espírito Santo, o prazo mínimo da Astrazeneca é de 70 dias e, da Pfizer, 84.
O doutor em Imunologia e professor da Ufes Daniel Gomes, defende que sejam respeitados os prazos da bula dos fabricantes das vacinas, pois, como qualquer medicação, os estudos foram feitos seguindo tais recomendações.
A medida mais urgente é ampliar a vacinação, que, segundo ele, não deve se concentrar apenas na D1. "A Delta tem alta taxa de transmissibilidade. Para se ter uma ideia, ela é 60% mais eficaz na capacidade de infectar do que outras variantes, e também tem maior taxa de hospitalização. Com relação às vacinas, todas apresentam capacidade de proteção no regime de duas doses; única dose não é capaz de proteger dessa variante, as taxas de proteção são muito baixas."
Daniel Gomes cita a Pfizer como exemplo que, frente a outras cepas, a proteção chega a 98%, enquanto que, com a Delta, cai para 78%.
O professor avalia que o Espírito Santo tem se colocado numa posição tranquila em relação aos outros Estados na campanha de vacinação contra a Covid-19 - está em quarto no ranking nacional com o esquema vacinal completo - mas, ainda assim, está longe de alcançar a imunidade coletiva.
O secretário estadual da Saúde, Nésio Fernandes, diz que não há previsão de redução de intervalo entre a D1 e a D2. Segundo ele, não apenas pela questão da disponibilidade de doses, mas também porque avalia ser melhor estender a imunização contra a Covid-19 para mais pessoas, ainda que incompleta, em vez de reforçar apenas a segunda dose. "Não há escape vacinal comprovado no caso de aplicação só da D1 e, ao mesmo tempo, dá uma vantagem parcial a quem tomou pelo menos uma dose", argumenta.
Nésio Fernandes lembra que, para se chegar à ampla cobertura vacinal com as duas doses, é necessário dar o primeiro passo com a D1, estendendo para toda a população adulta e, assim que possível, alcançar também crianças e adolescentes. Atualmente, diz ele, cerca de 70% das pessoas no Estado já receberam a primeira dose e, somadas àquelas que adquiriram imunidade pela exposição ao vírus, há uma perspectiva de proteção maior mesmo com a nova variante.
O secretário frisa que não faz defesa de imunidade de rebanho como política pública, porém pontua que não se pode ignorar o custo das milhares de mortes provocadas pela Covid-19 que deixaram nos que sobreviveram uma "memória imune".
"Mas volto a dizer que os estudos apresentados até o momento não demonstraram escapa vacinal significativo para a D1. Então, o controle do vírus vamos alcançar com a estratégia de ampliação da vacinação para a cobertura plena da população."
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