Lúcida e apresentando melhora, a pequena Laura Serafim, de 9 anos — que, no último domingo (5), sofreu traumatismo cranioencefálico grave após ela e outra menina, de 10 anos, serem arremessadas de um brinquedo de um parque de diversões instalado em Alegre — contou para a mãe, no hospital onde está internada, que queria ter ido em outra "sombrinha" (assento da atração). O banco onde estavam as duas crianças, no brinquedo chamado Twister, se soltou e foi ao chão. A outra criança, que também foi socorrida logo após o acidente, teve alta no mesmo dia.
A mãe de Laura conversou com a reportagem de A Gazeta e disse que a filha está consciente e conversando. Segundo ela, no hospital, a menina contou que, no momento em que foi ao brinquedo, queria ter escolhido outro lugar para sentar. “Ela diz lembrar que queria ter escolhido a sombrinha rosa do brinquedo, mas escolheu a verde, pois estava mais perto dela”, falou a mãe, que pediu para não ter o nome divulgado. A sombrinha verde, citada pela criança, é a do assento onde Laura e outra menina se sentaram e sofreram o acidente.
Segundo ela, a menina segue internada na Unidade de Terapia Semi-Intensiva do Hospital Estadual Infantil Drª Milena Gottardi, em Vitória. A mãe disse ainda que Laura terá que ser submetida a uma cirurgia. “O médico disse que ela vai fazer uma cirurgia no globo ocular, pois houve uma ruptura no osso do crânio", relatou.
Ainda de acordo com ela, a menina está enxergando as coisas duplicadas e a cirurgia seria necessária para não causar problemas no futuro. "Ela está apresentando melhoras. Graças a Deus", afirmou.
Laura surpreendeu a reportagem ao atender o telefone na tarde desta quinta-feira (9) e falar sobre como está se sentindo. Somente pela voz, deu para perceber que ela é uma menina doce, carinhosa e amável. Para a reportagem, ela contou que está bem. "Eu sentia dor no olho, mas parou", iniciou.
Ao ser questionada se já está com vontade de deixar o hospital, Laura surpreendeu com a resposta. "Estou com um pouquinho de vontade de sair daqui. A comida é muito boa e tem um monte de crianças, fiz muitos amigos", explicou.
Sobre o acidente, a menina contou que não se lembra de muita coisa. "Não me lembro da batida", disse, ao se referir à queda do brinquedo. Já sobre a cirurgia a qual precisará ser submetida, a menina demonstrou ser muito corajosa. "Ele disse (o médico) que vou ter que fazer uma cirurgia, não é nada de mais, vai abrir um negocinho, colocar uma tela e eu vou ficar bem", contou, confiante.
O acidente aconteceu por volta das 15h40 do último domingo (5), em um parque de diversões instalado em Alegre. Uma das cadeiras do equipamento chamado Twister, onde estavam duas meninas de 9 e 10 anos, se desprendeu e foi ao chão. A criança de 9 anos precisou ser transferida de helicóptero para uma unidade de saúde na Grande Vitória. Segundo o Corpo de Bombeiros, militares identificaram que o pino de fixação do brinquedo se soltou, fazendo com que a cadeira fosse arremessada.
As meninas foram socorridas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência e encaminhadas ao Pronto Atendimento de Guaçuí. A criança de 9 anos sofreu traumatismo cranioencefálico grave e foi transferida pelo Samu. No meio do caminho, em Piúma, a aeronave do Núcleo de Operações e Transporte Aéreo (Notaer) deu apoio à ocorrência e encaminhou a menina ao Hospital Estadual Infantil Drª Milena Gottardi, em Vitória. A outra criança, segundo familiares, recebeu alta médica e se recupera em casa.
Um vídeo gravado no parque de diversões em Alegre, no Sul do Espírito Santo, duas horas antes do acidente que feriu as duas meninas, mostra que um pino de um dos assentos do brinquedo estava exposto. A gravação foi feita por um amigo do homem que aparece acompanhado de uma criança nas imagens.
Um dia após o acidente, na segunda-feira (6), o dono do Parque Charles Entretenimentos, José Ferreira de Carvalho Neto disse que a estrutura tinha autorização da Prefeitura de Alegre e alvará de licença do Corpo de Bombeiros para atuar no local. Segundo ele, um engenheiro acompanhou a montagem dos brinquedos.
O empresário, que é do município de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, informou que o parque existe há sete anos. “Nunca deu problema com acidente. Antes da pandemia, já trabalhei em três anos consecutivos em Alegre, sem ter problemas”, falou.
O dono do parque explicou o brinquedo onde foi registrado o acidente funcionava muito bem desde a última quinta-feira (2). “Em média, 450 pessoas andaram nele. O brinquedo era de 1994, mas passou por inspeção. Anualmente passa”, explicou.
O dono do parque também contou que aguarda resultado de laudo da perícia da Polícia Civil, que apontará se a causa do acidente foi criminal. “O lado vai dizer se alguém abriu, porque não tem como soltar o pino e o contrapino do brinquedo, que não estava danificado”, disse.
A Polícia Civil e o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Espírito Santo (Crea-ES) realizaram, na tarde desta terça-feira (7), a perícia de engenharia no brinquedo no parque de diversões instalado em Alegre.
Por meio da Delegacia Regional de Alegre, a Polícia Civil informou que não há prazo definido para o laudo da perícia ficar pronto. “As diligências sobre o caso estão em andamento e outras informações não serão passadas para não atrapalhar a investigação”, disse, em nota.
Já o Crea-ES, por meio das informações da Unidade de Fiscalização do Conselho, comunicou que a empresa contratada para executar os serviços no parque não possui registro no conselho e o profissional que executou as atividades não é engenheiro. "Dessa forma autuamos o proprietário do parque e o técnico em mecânica que executou os serviços, ambos enquadrados no artigo 6º alínea A da lei 5.194/66 por exercício ilegal da profissão", pronunciou.
O Conselho Regional dos Técnicos Industriais do Espírito Santo (CRT-ES) comunicou uma nota, nesta quinta-feira (9), sobre o responsável técnico pelo parque. Veja a nota na íntegra:
Em face do ocorrido no Município de Alegre-ES, onde vitimou-se duas crianças, que desde já nos solidarizamos, desejando pronta recuperação, vimos por meio desta nota, esclarecer que o responsável técnico pelo parque, Wagner de Oliveira, está devidamente registrado neste CRT-ES. O CRT-ES desconhece qualquer laudo que fora emitido para este fato, e reafirma que o CRT-ES não periciou o local, tampouco emitiu qualquer laudo técnico sobre o ocorrido. O CRT-ES ainda afirma que, após o acesso ao inquérito policial, que, inclusive, ainda não foi concluído, estará instaurando, caso necessário, o procedimento para a apuração dos fatos, e consequentemente tomar as devidas providências cabíveis, atuando na defesa da Sociedade, na fiscalização dos profissionais Técnicos Industriais.
Também nesta quinta-feira, a Polícia Civil informou que "o fato segue sob investigação da Delegacia de Polícia de Alegre e, para que a apuração seja preservada, nenhuma outra informação será repassada".
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