Nunca se falou tanto sobre a taxa de eficácia de vacinas quanto agora, com a imunização contra a Covid-19. Embora a discussão seja válida, é preciso lembrar que esse índice não precisa ser extremamente alto para que o uso de imunizante seja essencial.
Das 12 vacinas que compõem o atual calendário de vacinação do Brasil, cinco chegam a ter eficácia abaixo dos 90%. É o caso, por exemplo, da BCG – usada para combater a tuberculose, que tem a taxa de eficácia em 70%, de acordo com dados da Secretaria de Saúde do Espírito Santo (Sesa).
Infectologista e diretora da regional da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) no Estado, Ana Paula Burian lembra que essa vacina não impede que as pessoas desenvolvam a doença, mas evita quadros graves, como a neurotuberculose, e mortes. "Esse é um dos objetivos das vacinas", afirma.
O mesmo acontece com a vacina contra a gripe – cuja comparação com a da Covid-19 é a mais simples de ser feita. "Isso ocorre porque ambas as doenças são respiratórias e têm os idosos como um grupo de risco", explica. "Nesse caso, o imunizante (da gripe) tem proteção média de 40% a 60%", completa.
Nesse sentido, é importante ressaltar que a taxa de eficácia da Coronavac é de 78% contra casos leves, em que a pessoa precisaria apenas de uma assistência médica simples, e de 100% contra casos graves. Ou seja, nenhum dos voluntários vacinados, e posteriormente infectados pelo novo coronavírus, precisou de UTI ou internação.
Mas o que significa, então, a taxa de eficácia global de 50,38%? É simples: ela leva em conta a quantidade de indivíduos que tiveram a Covid-19, entre os que tomaram a vacina e os que receberam somente um placebo – e significa que quem não se imunizar tem o dobro de chance de contrair a doença, lembrando que nessa situação não há nenhuma defesa pré-existente no organismo que impeça casos moderados ou graves, o que é conquistado pela Coronavac, por exemplo.
"Parece que todo mundo virou especialista em vacinas, de políticos a profissionais de saúde que nunca trabalharam na área", reclama Ana Paula. "Mas o Instituto Butantan é sério e faz vacinas boas há anos. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância em Saúde) é um órgão sério e independente. Se a vacina for aprovada, eu estico o meu braço e tomo", garante.
Movimentos que são contra vacinas específicas, em meio ao surto de uma doença contagiosa, não são novidade no Brasil. No início do século XX o país sofria com uma epidemia de varíola e o povo teve medo de tomar o imunizante, elaborado a partir de uma substância retirada de vacas. O episódio deu origem à Revolta da Vacina.
Na época, circularam boatos de que os imunizados ficariam com feições bovinas. "Também teve charges de vacas saindo do braço das pessoas. Quando Oswaldo Cruz tornou a vacina obrigatória, disseram que ele era louco", lembra Ana Paula, que reforça a importância da vacinação no aumento da expectativa da população. Em maio de 1980, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a erradicação da varíola.
Na história mais recente, houve outros episódios similares. "Quando começamos a vacinar os idosos contra a gripe, lembro que diziam que era um projeto para matar as pessoas mais velhas", lamenta a infectologista que presenciou os benefícios da vacina contra a meningite coronofia, "que deixava surdo ou matava".
Outro exemplo dos ganhos com imunizações em massa é o uso da vacina pneumocócica dez valente. "Nós conseguimos ter um impacto absurdo na redução de pneumonia. Quando introduziu a do rotavírus humano em bebês de dois a quatro meses, fechamos enfermarias específicas para atender casos de diarreias", comemora.
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