Com mais de 25 mil contaminados e duas mortes confirmadas no Estado, a alta de casos da dengue levou o governo do Espírito Santo a decretar estado de emergência para o combate à doença. Entretanto, especialistas explicam que ao menos 50% dos casos são assintomáticos — aqueles em que as pessoas são picadas pelo mosquito Aedes aegypti, mas não apresentam sintomas. Ou seja, para cada caso visível, tem no mínimo outro imperceptível.
O estudo da vacina da dengue feito com mais de 20 mil participantes entre 4 a 16 anos, envolvendo diversos centros de ciências da Ásia e América Latina, entre eles o Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), mostrou que 72,7% dos voluntários que receberam as doses testes já haviam sido contaminados pelo vírus da dengue anteriormente, porém alguns participantes afirmaram não ter tido a doença.
A preocupação dos especialistas em relação aos pacientes assintomáticos é o fator de transmissão silenciosa, pois, apesar de a pessoa não estar “sentindo nada”, ela tem o vírus da dengue circulando pelo corpo. Segundo o infectologista Lauro Ferreira Pinto, caso um assintomático seja picado pelo Aedes aegypti, o inseto se contamina, e dias depois, já pode espalhar o vírus.
“O problema de saúde pública é que, mesmo sem sintomas visíveis, essas pessoas ainda transmitem. Então, um paciente assintomático pode ser picado por um mosquito que não tem o vírus, contaminando-o. Dentro de sete dias, esse mosquito já poderá transmitir a doença para outra pessoa.” afirma o infectologista.
O infectologista Reynaldo Dietze, responsável pelo estudo da vacina no Espírito Santo, também chama a atenção para os casos em que os pacientes desenvolvem um ou poucos sintomas, e ainda acabam confundindo com outras doenças.
“Durante testes clínicos, alguns pacientes afirmaram nunca ter tido dengue, mas possuíam o anticorpo da doença. Quando questionados mais a fundo, lembraram- se de casos em que tiveram apenas um dia de febre, uma dor de cabeça ou até mesmo o que diziam ser uma gripe forte, mas, na verdade, era dengue.” relata o médico.
Segundo a infectologista Rubia Miossi, o exame sorológico é a única maneira para detectar casos de pacientes sem sintomas. “O exame sorológico mostra se a pessoa já tem no organismo o IgG, o anticorpo da dengue. Esses anticorpos mostram que a pessoa teve contato com o vírus da dengue em algum momento no passado.”
A dengue possui quatro sorotipos, sendo que, ao ser infectada por um deles, a pessoa fica suscetível aos demais. A médica ainda explica que, em caso de reinfecção, aumenta a possibilidade de a doença se apresentar na forma mais grave.
“Qualquer pessoa que já teve dengue, seja com ou sem sintomas, na segunda vez em que é infectada tem risco de desenvolver uma forma mais grave da doença. Isso porque o organismo, por já conhecer o antígeno do vírus, pode ter uma resposta descontrolada levando a casos como de febre hemorrágica ou choque”, ressalta Miossi.
As formas de prevenção como combate aos focos de água parada e uso de repelente são essenciais. Além disso, os estudos ainda apontam que a vacina tem a possibilidade de eliminar o risco do segundo episódio de dengue ser mais grave.
O primeiro carregamento com mais de 58 mil doses da vacina da dengue chegou ao Espírito Santo na última quinta-feira (22). A vacinação de crianças de 10 e 11 anos já está em andamento na Grande Vitória e nos outros municípios capixabas.
O boletim epidemiológico mais recente da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) traz apenas duas mortes confirmadas em 2024, em Laranja da Terra e em Sooretama. O caso de Linhares, informado pela vigilância municipal e divulgado à imprensa, ainda está em processo de reconhecimento, o que poderá ou não levar à confirmação. Assim, o texto, que antes apontava 3 óbitos, foi atualizado.
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