Por volta das 9h desta terça-feira (24) teve início o segundo dia do julgamento das seis pessoas apontadas como as responsáveis pelo assassinato da médica Milena Gottardi. A médica que estava com Milena na hora do crime, Maria Isabel Lima dos Santos, foi a primeira testemunha a depor nesta terça. Ela relatou como foi o momento em que Milena foi assassinada.
Entre os réus está o ex-marido da vítima e ex-policial civil Hilário Antonio Fiorot Frasson, acusado de ser o mandante do crime. O primeiro dia de julgamento durou quase 12 horas e quatro testemunhas de acusação foram ouvidas. A previsão inicial do Tribunal de Justiça era de que o julgamento prosseguisse até a próxima sexta-feira (27), mas, por conta de atrasos no início do júri, agora a análise do caso pode ser concluída somente no domingo (29).
A testemunha Maria Isabel Lima dos Santos disse que Milena pressentiu o perigo antes de ser baleada. Ela relatou que eram 19h, ela perguntou onde Milena tinha deixado o carro estacionado e se ofereceu para ir junto, acompanhando, porque era um local escuro.
"No estacionamento mais amplo, Milena viu o rapaz na ponta, a uma certa distância, em pé, e perguntou: "não acha estranho aquele rapaz em pé?". Eu não estranhei, mas disse que se ela achava estranho, nós íamos observar. Fiquei com ela andando, na esquina, andando, e ficamos paradas. Observei o rapaz olhando o celular e aparentemente não tinha nada que demonstrasse medo (ameaça)"
Maria Isabel disse que ficou cerca de 15 minutos observando e falou para Milena que não tinha perigo, que poderia ser um funcionário do Hucam ou namorado de alguém.
As duas foram para o carro, mas segundo a testemunha, em vez de fazer um caminho reto, fizeram uma curva. Milena abriu o porta-malas, colocou a bolsa dentro e, quando fechou, Dionathas chegou por trás.
"Ele falou: é um assalto! Nós viramos para trás e ele falou: passa o celular e a chave do carro". A testemunha disse que não tinha celular, mas Milena esticou a mão e entregou o celular e a chave do carro.
"Ele deu um tiro, vi uma fumacinha, e veio outro tiro, e peguei minha cabeça, pensei que viria na minha testa. Veio um terceiro tiro e, naquele momento, vi como era cruel. A gente não fez nada, a pessoa assalta e atira sem a gente fazer nada", disse.
A testemunha contou que Dionathas — executor confesso — subiu na moto, acelerou, passou do lado dela e desceu a ladeira para o portão.
Segundo a testemunha, uma amiga reconheceu a voz dela e desceu correndo. "Eu estava ao lado do corpo. Minha amiga disse: ela tem vida ainda. Tinha muito sangue no chão, quando a virei, o rosto dela estava ensanguentando, e nós a levamos para dentro do hospital."
Ao ser questionada sobe o motivo de não ter ligado para Hilário Frasson, ex-marido de Milena, para avisar sobre o que tinha acontecido, a testemunha disse que foi orientada dentro do Hucam a não ligar para ele. "Cinco minutos depois do crime, lá dentro do Hucam, algumas pessoas disseram para não ligar para o marido dela."
Sobre a relação com Hilário, a testemunha disse que naquele mesmo dia as duas conversaram e Milena comentou que estava se separando. Mais cedo, uma amiga perguntou se ela queria fazer mestrado, e ela falou que não podia porque estava separada e tinha as crianças para cuidar.
"No caminho para o estacionamento, disse que entregaria as coisas que estavam na casa dela, mas não disse o motivo, falou dos 13 anos em que estava casada, falou que o marido era detalhista, que as crianças brincavam e colocavam as coisa fora do lugar e ele brigava, e isto a machucava muito."
"A testemunha Maria Isabel foi a última a ver Milena com vida e a última a conversar com ela. A testemunha confirmou em seu depoimento que Milena não tinha sofrido agressões por parte de Hilário. Ela relatou ainda não ter visto nenhuma mancha roxa em Milena — diferente do que a informante disse no dia anterior", reforçou o advogado Patrick Berriel, que faz a defesa de Hilário Frasson, ex-marido da vítima.
O depoimento da primeira testemunha desta terça-feira terminou às 11h40. Está previsto ainda o depoimento de Douglas Gottardi, o irmão de Milena, que tem a guarda das filhas da médica. O investigador que faz parte do caso também deve depor nesta terça-feira.
No julgamento, os primeiros 9 depoimentos são de testemunhas de acusação e, nos próximos dias, serão ouvidas 19 testemunhas de defesa dos acusados, totalizando 28 pessoas.
O destino dos réus será decidido por sete jurados, sendo quatro mulheres e três homens. Quem conduz o julgamento é o juiz Marcos Pereira Sanches.
O crime aconteceu em 14 de setembro de 2017, quando a médica encerrava um plantão. Confira abaixo como seria a participação de cada um dos acusados:
A médica oncologista pediátrica Milena Gottardi foi baleada no estacionamento do Hospital das Clínicas (Hucam), em Vitória, na noite de 14 de setembro de 2017, em uma suposta tentativa de assalto. Milena foi socorrida em estado gravíssimo e, após passar quase um dia internada, teve a morte cerebral confirmada às 16h50 de 15 de setembro.
As investigações da Polícia Civil descartaram, já nos primeiros dias, o que aparentava ser um assalto seguido de morte da médica (latrocínio). Naquele momento as suspeitas já eram de um homicídio, com participação de familiares.
Ao liberar o corpo de Milena no Departamento Médico Legal (DML) de Vitória, Hilário teve a arma e o celular apreendidos pela polícia. Ele não foi ao velório e enterro, que aconteceram em Fundão, onde Milena nasceu.
Os dois primeiros suspeitos foram presos, no dia 16 de setembro de 2017: Dionathas Alves Vieira, que confessou ter atirado contra a médica para receber R$ 2 mil; e Bruno Rodrigues Broeto, acusado de roubar a moto usada no crime. O veículo foi apreendido em um sítio, onde foram queimadas as roupas do executor.
Em 21 de setembro de 2017, o sogro de Milena, Esperidião Carlos Frasson, foi preso, suspeito de ser o mandante do crime. Também foi detido o lavrador Valcir da Silva Dias, suspeito de ser o intermediário. Na mesma data, o ex-marido Hilário Frasson foi preso.
O último a ser detido foi Hermenegildo Palauro Filho, o Judinho, em 25 de setembro de 2017, apontado como intermediário. Ele tinha fugido para o interior de Aimorés, em Minas Gerais.
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