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Moluscos que transmitem doenças são vistos na Praia de Camburi

Moluscos que transmitem doenças são vistos na Praia de Camburi

Os "caramujos africanos" são uma ameaça ao ecossistema e podem transmitir doenças aos seres humanos, sendo um verdadeiro caso de saúde pública

Publicado em 12 de junho de 2021 às 10:30

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Esta espécie transmite doenças
Caramujos africanos são encontrados na Praia de Camburi. (Pixabay)

Quem caminha pela areia ou até mesmo pelo calçadão da Praia de Camburi, em Vitória, tem percebido cada vez mais a presença de moluscos que se assemelham às lesmas. Os "caramujos africanos", como ficaram conhecidos, são uma ameaça ao ecossistema e podem transmitir doenças aos seres humanos, sendo um verdadeiro caso de saúde pública. 

Para a enfermeira Rosamélia Balbino, de 46 anos, que costuma fazer caminhadas matinais com o marido na praia, a situação tem fugido ao controle. "A gente mora perto da Vale e sempre sai com as nossas duas cadelas. A gente vai até a pista dos skatistas e volta, indo pelo calçadão e voltando pela areia. Na semana passada, vimos alguns caramujos de forma bem isolada,  poucos. Mas de terça-feira (8) para cá, vimos alguns esmagados no calçadão", disse.

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Ontem (sexta-feira) e hoje (12), em especial, avistamos centenas, alguns grandes, outros ainda bem pequenos, se locomovendo, atravessando a restinga. Fiquei preocupada, já que no local passam crianças e nossos animais. Meu medo é que eles são perigosos, um risco à saúde

Rosamélia Balbino
Enfermeira
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QUE ANIMAL É ESTE?

O biólogo Daniel Motta, mestrando em Biologia Animal pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), explicou que a espécie, cujo nome científico é Achatina fulica, é chamada popularmente de 'caramujo gigante africano', embora não seja um caramujo, mas sim um caracol.

O molusco entrou de forma ilegal no país. "Ele foi introduzido ilegalmente no Brasil na década de 80, como opção ao francês escargot, considerado por alguns uma iguaria culinária, mas não obteve sucesso, então os criadouros foram abandonados e os animais foram descartados de forma equivocada na natureza", contou.

Sobre o impacto que o caracol traz ao ambiente, Motta afirmou que a espécie se reproduz sem controle. "É um animal exótico invasor, ou seja, está fora do seu habitat original e se prolifera descontroladamente, sendo uma ameaça ao ecossistema. Eles são hermafroditas, tendo dois aparelhos reprodutores funcionais e produzindo os dois gametas no mesmo corpo. Desse modo, se havia mil deles em um local e 999 são eliminados, sobrando apenas um, ainda assim eles conseguem repovoar", acrescentou.

CASO DE SAÚDE PÚBLICA

De acordo com o biológo, os caramujos africanos se tornaram um problema sanitário, já que podem transmitir pelo menos duas doenças.

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Eles transmitem doenças após se infectarem com fezes de ratos, já que estes moluscos comem de tudo, até plástico. São elas: a angiostrongilíase meningoencefálica, um tipo de meningite, e a angiostrongilíase abdominal, que tem capacidade de infectar os humanos a partir de um verme que pode ser deixado nas fezes destes moluscos

Daniel Motta
Biológo
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Em Vitória
Moluscos na área de restinga da Praia de Camburi. (Rosamélia Balbino)

O caminho para o humano se infectar com as duas zoonoses é:

  1. Inicialmente há um rato infectado no meio ambiente. Nas fezes deste rato são deixadas larvas;
  2. Os caramujos então comem as fezes contaminadas e as larvas passam a se desenvolver dentro dos caramujos;
  3. As larvas se tornam adultas e colocam novos ovos que irão eclodir e gerar larvas, que sairão junto com as fezes do caramujo;
  4. A partir daí pode haver contágio de animais, como os próprios ratos, ou mesmo dos humanos. 

O que são as doenças:

  • A 'angiostrongilíase meningoencefálica' é um tipo de meningite que geralmente se manifesta por dores de cabeça muito intensas, febre, vômitos, rigidez de nuca, dormências e formigamentos.
  • A 'angiostrongilíase abdominal' tem como sintomas, além da dor abdominal e da febre, outras manifestações abdominais, como por exemplo a perda do apetite, náuseas, vômitos e diarreia.

COMO SE PROTEGER

Inicialmente, as principais medidas, segundo o biólogo Daniel Motta, é evitar pisar nestes animais e jamais tocá-los sem luvas. "Se ele estiver ovado e for pisado, à medida que a pessoa vai se deslocando pode ir espalhando o ovo", explicou.

A medida mais eficaz para se proteger ainda é a retirada manual, utilizando luvas, dos animais e dos respectivos ovos. "Tal procedimento deve ser realizado no início da manhã ou no final da tarde, já que eles evitam uma maior incidência solar. O descarte pode ser realizado colocando os "caramujos" em uma solução de água e sal por uma semana, causando um choque osmótico, e matando os adultos e seus ovos", concluiu.

O QUE DIZ A PREFEITURA

A Prefeitura de Vitória, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (Semus), orientou que o cidadão não toque no molusco. Em nota, informou que ao encontrar infestação, o munícipe pode entrar em contato com a Prefeitura por meio do 'Fala Vitória', em que serão recebidas orientações.

"O atendimento de demandas sobre infestação de caramujos envolve orientação à população, catação manual em áreas públicas infestadas e, em último caso, aplicação de produtos químicos em áreas públicas para controlar grandes quantidades de caramujos. O monitoramento das áreas de ocorrência do município é realizado pelo Centro de Vigilância em Saúde Ambiental (CVSA), em especial, pelo atendimento de demandas recebidas pelo número 156", informou a nota.

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