Até aquela madrugada de janeiro de 1985, órgãos de segurança do Espírito Santo não haviam encarado uma catástrofe nas dimensões da registrada no Morro do Macaco, em Vitória, com deslizamento de pedras e terra e dezenas de mortes. Além de as ocorrências mais frequentes serem de outra natureza, havia, naquela época, poucos recursos para o enfrentamento de desastres (Veja mais abaixo o primeiro e o segundo episódios da websérie sobre o desastre ambiental e humano).
Coronel da reserva da Polícia Militar, Oberacy Emmerich Junior se recorda que as equipes trabalharam na “cara e na coragem”, fazendo escavações com enxadas e até com as próprias mãos na tentativa de localizar sobreviventes porque não havia equipamentos apropriados para a operação.
“Eu me lembro de uns soldados que, em atitude corajosa, se enfiaram debaixo das pedras. Naquela época, havia muitos desses praças, e também oficiais, que colocavam a própria vida em risco para, às vezes, nem salvar mais pessoas, mas retirar pessoas já mortas de escombros”, relata Oberacy Emmerich.
É bom ressaltar que, em 1985, os bombeiros eram uma unidade da Polícia Militar — a emancipação só ocorreria 12 anos depois, em 1997 — e tudo era escasso. Muitas vezes, segundo conta Emmerich, empresas bancavam a compra de itens necessários à corporação porque o governo do Estado não dispunha de recursos.
“Os bombeiros também não tinham esse preparo que têm hoje, nem os equipamentos, nem a tecnologia que hoje está à disposição dos profissionais. Ainda não tínhamos o conhecimento técnico que capacitasse a gente a fazer socorro com mais presteza. Era muita transpiração, muito trabalho, muita vontade e pouca técnica para uma ocorrência atípica como a do Morro do Macaco.”
O coronel Álvaro Coelho Duarte, da reserva do Corpo de Bombeiros, também lembra dos problemas operacionais enfrentados, embora várias frentes de trabalho tenham sido organizadas para se juntar aos policiais, envolvendo profissionais de saúde e equipes da Prefeitura de Vitória.
Uma das dificuldades era o acesso ao morro, devido ao deslizamento já registrado, e o risco de novas movimentações de terra e pedra. Um policial foi destacado para fazer vigília e alertar quem estava no resgate, no caso de ameaça de deslizamento.
“Outra dificuldade também naquela época é que o Corpo de Bombeiros não tinha muitos equipamentos hidráulicos para lidar com aquelas pedras pesadas. Com isso, a gente contou com a ajuda, inclusive, da Viação Tabuazeiro, que nos ofereceu macacos dos ônibus para que nós pudéssemos fazer o resgate de pessoas", pontua Duarte.
E o coronel Duarte continua: "Eu me lembro de um jovem que estava com a perna presa entre duas pedras, e foi muito difícil chegar com esses equipamentos pesados lá em cima. Estávamos lá tentando fazer a retirada desse rapaz, bem no caminho de pedras ainda descendo, várias vezes tivemos que parar para nos proteger e depois voltar. Mas, graças a Deus, conseguimos fazer o resgate desse rapaz."
O coronel Carlos Eduardo Marques Magnago, da reserva da PM, comenta ainda sobre o componente emocional que envolveu a ocorrência e a necessidade de garantir que policiais e bombeiros conseguissem fazer o atendimento.
“A visão que tivemos quando chegamos lá era uma tragédia, um cenário de guerra. Foi uma situação que o desespero daquela comunidade era contagiante e tivemos que segurar a tropa para que não se envolvesse naquele ambiente, não se contaminasse com aquele ambiente de desespero porque era muita gente morta, muitos feridos.”
A tragédia no Morro do Macaco acabou se tornando um marco que expôs as fragilidades que os órgãos de segurança tinham na época, tanto em equipamentos quanto em formação dos agentes, para garantir a melhor assistência à população. Cursos e investimentos foram realizados gradativamente para mudar o cenário.
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