O acidente na tirolesa do Morro do Moreno que matou o engenheiro mecânico João Paulo Moreira dos Reis, de 47 anos, no último sábado (1º), ainda é cercado de mistério. O caso é investigado pela Delegacia de Homicídio e Proteção à Pessoa de Vila Velha.
João havia ido ao local com a filha e uma amiga dela para aproveitar a vista na tarde de sábado. As duas desceram antes na tirolesa. Na vez dele, um acidente fez com que morresse local. As causas estão sendo apuradas pela Polícia Civil. Uma equipe do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Espírito Santo (Crea-ES) também investiga as circunstâncias do fato.
Dois dias após a morte do engenheiro, o que se sabe sobre o acidente? O que provocou a morte dele? Em busca das respostas, A Gazeta acionou a Polícia Civil, o Corpo de Bombeiros, o Crea-ES e a empresa responsável pela gestão do equipamento.
O acidente que matou o engenheiro João Paulo Sampaio dos Reis, neste sábado (1), aconteceu nos primeiros 100 metros da tirolesa do Morro do Moreno, em Vila Velha. A informação foi revelada por Giuliano Battisti, gerente de Relacionamento Institucional do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Espírito Santo (Crea-ES).
Ao todo, a atividade tem cerca de 500 metros de percurso e três bases: a de partida, a intermediária e a de chegada. "Segundo testemunhas, a vítima teria colidido com a estrutura da segunda plataforma. Se isso aconteceu, precisamos entender o sistema e como ele permitiu que isso acontecesse", comentou.
Na porta do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), em Vitória, o pai do engenheiro desabafou dizendo que viu o filho morrer por meio de um vídeo. "Por essa gravação, já pude ver a falta de segurança do local. Alguém deve ter dito que era seguro. Mas ele foi vítima de um erro grosseiro", afirmou João Reis.
As imagens citadas não foram divulgas pelo familiar nem pelas autoridades envolvidas no caso. Inicialmente com um registro de engenharia de Goiás, João Paulo tem licença para atuar como engenheiro no Espírito Santo desde 2012. Morador de Vila Velha, ele deixa uma filha, um filho e a esposa.
A Polícia Civil informou que o caso está sendo investigado pela Delegacia Especializada de Homicídio e Proteção à Pessoa de Vila Velha, que aguarda o resultado da perícia realizada no local. "Detalhes não serão divulgados durante as investigações para preservar a apuração do incidente", finaliza a nota. No entanto, alguns questionamentos ainda precisam ser respondidos.
O gerente de Relacionamento Institucional do Crea-ES, o engenheiro civil, ambiental e de segurança do trabalho, Giuliano Battisti e o gerente de fiscalização do Conselho, Leonardo Leal, estiveram no Morro na manhã desta segunda-feira (3). A Gazeta acompanhou a vistoria, com exclusividade, os trabalhos dos especialistas do conselho.
A equipe do Crea-ES está apurando as possíveis causas do acidente. Durante a ação, foram encontrados fragmentos de material rompido que pode ser de algum acessório ou vestimenta que a vítima usava no equipamento. Após as análises, Battisti informou que o material colhido -vídeos, fotos e medições - seria discutido em uma reunião na tarde desta segunda-feira.
Battisti revelou que a procuradoria do Crea-ES vai notificar a empresa responsável pela confecção e execução do projeto estrutural e o empreendimento responsável pelo gerenciamento do equipamento para obter os documentos relativos à obra. Após a notificação, os proprietários têm até três dias úteis para fornecer a informação.
Dois cabos do Corpo de Bombeiros do Espírito Santo figuram entre os três sócios da empresa responsável pela operação da tirolesa do Morro do Moreno. A informação foi confirmada pela corporação por meio de nota nesta segunda-feira, que destacou que os dois são sócios cotistas da empresa proprietária do empreendimento.
"O CBMES esclarece que a Lei Estadual nº 3.196 permite que os militares desempenhem atividade empresarial, desde que seja como sócio cotista, o que é compatível com a atividade dos militares nesta empresa. A Polícia Civil é responsável pela investigação das circunstâncias do fato e, paralelamente, a Corregedoria do Corpo de Bombeiros vai instaurar Procedimento Administrativo Disciplinar para apurar a conduta do militar que estava no local do fato", destacou o documento.
Questionado pela reportagem nesta segunda-feira, um dos representantes da empresa responsável pela operação da tirolesa preferiu não se manifestar. Por mensagem, ele informou "que estava em reunião com os advogados". Há, no entanto, a expectativa de que ele se manifestem sobre o assunto nesta terça-feira (4).
Na madrugada deste domingo (2), por meio das redes sociais, a empresa lamentou o ocorrido e pontuou que, na ocasião, ainda não havia conseguido o contato da família. No texto, também afirmou aguardar a perícia para saber a causa do acidente.
A Prefeitura de Vila Velha alegou que o local possui licença ambiental para funcionar. "O local é privado e os responsáveis devem ser questionados sobre operação do equipamento, instalado em área particular". O município também esclareceu que as atividades em área aberta estão liberadas pela classificação de risco do governo do Estado. "O local possuí licença ambiental para funcionar".
O empreendimento foi inaugurado em dezembro de 2019. O topo tem uma altura de 173 metros acima do nível do mar e o ponto de chegada tem 95 metros. A descida tem um percurso de 500 metros.
A descida pela tirolesa é realizada em duas partes. A primeira, de 100 metros, é guiada. Ela sai da Praça das Antenas, com um posto de parada. A segunda etapa tem 400 metros de descida e pode chegar a 35 km/h. Nesta fase, um paraquedas controla a direção e velocidade até o fim, na Pedra da Testa.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta