Um dia após o secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, afirmar que houve omissão e negligência das médicas plantonistas no atendimento ao jovem Kevinn Belo Tomé da Silva, de 16 anos, que morreu após esperar por cerca de quatro horas dentro de uma ambulância na porta do pronto-socorro do Hospital Estadual Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves (Himaba), em Vila Velha, o advogado das profissionais, Jovacy Peter Filho, rebateu a fala do chefe da Sesa e afirmou que as profissionais não negaram socorro ao rapaz.
Em entrevista ao Bom Dia Espírito Santo, da TV Gazeta, nesta terça-feira (3), ele foi enfático ao dizer que houve pré-julgamento das médicas por parte do secretário e que não foram observados aspectos importantes relativos ao plantão no dia do ocorrido - madrugada de sábado (30). Os nomes das médicas não foram divulgados.
"Não há, citando a notícia, uma apuração formal e séria para que de fato possa ser verificado o desdobramento de toda a ocasião. Não houve omissão. Infelizmente, houve uma fala muito contundente do secretário (Nésio Fernandes), afirmando que houve omissão de socorro, afirmando negligência e isso, de fato, não aconteceu, como via de regra não acontece para profissionais da área da saúde que deixam suas famílias em casa para dedicarem suas vidas à vida de outras pessoas", ponderou a defesa.
Segundo ele, assim que Kevinn chegou ao Himaba trazido em uma UTI móvel de Cachoeiro de Itapemirim, foi logo observada a gravidade do quadro clínico do paciente, que indicava a necessidade de internação em um leito de terapia intensiva. Ocorre, de acordo com Jovacy, que a reserva feita pela regulação de leitos, era para outro setor, que por sua vez não atendia às necessidades do adolescente.
Jovacy negou e enfatizou que as médicas deixaram de socorrer o paciente. Ocorre, segundo ele, que no momento em que Kevin chegou, as profissionais intensivistas já supervisionavam outros leitos e pacientes, sendo que não existia respirador livre para que o jovem fosse atendido conforme demandava.
"Também não é colocado é que todos os leitos que estavam utilizando respiradores estavam superlotados e sendo utilizados. Mais uma vez, o que se coloca aqui em total respeito à família, à perda e à dor, é uma encruzilhada para o profissional, na qual ele precisa escolher qual vida merece ou não merece sobreviver. Isso, sem dúvidas, é no mínimo desumano. Estas profissionais estavam com cinco leitos e oito pacientes no plantão. É imponderável dizer que era um plantão tranquilo. Profissionais da saúde que trabalham em serviço público sabem muito bem que plantão tranquilo provavelmente não existe", complementa o advogado.
Ainda na fala ao telejornal, Jovacy cita que o próprio médico da remoção verificou a incapacidade do hospital em receber o adolescente naquele momento com o suporte que o paciente precisava, desta forma, Kevinn foi mantido na ambulância, visto que a mesma era uma UTI móvel.
"Isso é muito importante que fique claro. Por mais dedicado e devotado que seja um profissional, ele tem limitação do serviço. Esse paciente estava intubado e acompanhado de um médico. Não foi negado em nenhum momento a ele o atendimento médico, sendo assistido por uma unidade de terapia intensiva móvel", destacou.
A defesa reforçou que as duas médicas ainda empenharam esforços em conseguir outra vaga juntamente com a própria Secretaria para Kevin, porém o adolescente não resistiu após horas sem ser admitido no Himaba.
"Essa responsabilidade por alocação de vagas, sendo que a vaga não poderia ter sido de enfermaria porque a classificação de risco deste paciente não era para enfermaria, não é responsabilidade da médica plantonista. Isto é no mínimo sobrecarga de trabalho, cabe ao serviço fazer a devida alocação, seja no leito de UTI do próprio hospital ou em outro leito de outro hospital", complementou.
Com esclarecimentos a serem dados, Jovacy disse que as médicas irão prestar depoimento nos próximos dias à Polícia Civil para que os fatos que levaram Kevinn à morte sejam esclarecidos.
Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde ressaltou que a internação do Kevinn no pronto-socorro do Himaba estava autorizada pela Central de Regulação "por aceite devidamente documentado pelo Núcleo Interno de Regulação da unidade hospitalar". Segundo a Sesa, a equipe do setor é composta por três médicos plantonistas na porta, e três profissionais na rotina para avaliar os pacientes em observação.
"Quando o quadro do paciente muda durante a remoção, a conduta de admissão do hospital de referência para urgência e emergência se mantém, ou seja, o protocolo é garantir a assistência e estabilização do paciente. Durante a avaliação, é definido o recurso a ser solicitado, podendo ser atendido em UTI ou em enfermaria da própria unidade ou de outro hospital", esclareceu.
A secretaria também informou que o pronto-socorro do Himaba conta com dez leitos que possuem todos os recursos adequados para atendimento de pacientes críticos. "No momento da chegada de Kevinn, a emergência possuía somente cinco pacientes críticos e os demais estavam estáveis, com condições de transferência para outros setores do hospital", afirmou.
A pasta reforçou ainda que registrou um boletim de ocorrência junto à Polícia Civil para investigação do fato, e disse que as médicas foram afastadas de acordo com o código de conduta do Himaba, que prevê o afastamento em casos como este, e que abriu uma auditoria para avaliação de todo o processo.
Com informações de Aurélio de Freitas, da TV Gazeta
Após a publicação desta matéria, a Secretaria de Estado da Saúde se posicionou sobre a afirmação do advogado das médicas afastadas. O texto foi atualizado.
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