A dona de casa Ana Cunha Ferreira, 66 anos, está com um bala alojada na perna esquerda. Ela é uma das duas mulheres atingidas por bala perdida durante o ataque criminoso que tirou a vida de Lucas da Silva Martins, 28 anos, no Centro de Vitória, por volta das 10h desta quarta-feira (9).
"Eu não vi quem atirou. Só percebi que foram uns três tiros e senti uma queimação na minha perna. Falei 'eu fui baleada, fui baleada, me acudam aqui, atingiu minha perna'", lembrou dona Ana, que já está em casa após receber alta do Hospital Estadual de Urgência e Emergência, para onde foi levada pela ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
Ela acompanhava o marido, o ajudante de serviços gerais Adelino de Souza Ferreira, para entrarem no prédio onde fica o Escritório Social da Secretaria de Estado de Justiça (Sejus). O casal estava na fila que se estendia pela Avenida Jerônimo Monteiro, onde também estava uma outra mulher com o irmão. Lucas, o alvo do ataque a tiros, era outra pessoa que estava na longa fila. Os três homens já estiveram presos e por isso precisavam ir ao local para se apresentar, ato que é necessário a cada dois meses.
"Meu esposo olhou para mim e viu que estava saindo sangue atrás da minha perna. E, quando olhei para o lado, o rapaz já estava morto no chão. Foi um susto", lembra-se Dona Ana, que teve perda de audição e por isso ouve pouco.
O marido dela, Adelino, contou que vai ao local a cada dois meses, há dois anos, desde que recebeu alvará de soltura. Porém, nunca imaginou passar por uma situação tão desesperadora como essa.
"O rapaz que morreu estava um pouco mais à frente da fila, com calça moletom e as mãos no bolso. A outra senhora estava na nossa frente. Quando começaram os tiros, eu gritei 'deita, deita' e minha esposa sem entender o que estava acontecendo, pois escuta pouco. Fiquei preocupado quando ela disse que tinha sido baleada. Foi tanto tiro que achei que tinha morrido mais gente. Foi um livramento de Deus, no meio de uma multidão, não ter morrido vários inocentes", desabafou Adelino, que cumpriu 17 anos de pena pelo crime de homicídio, praticado em 1997.
Para a polícia, o crime foi premeditado. Segundo informações do plantão da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), dois motoqueiros seguiram pela avenida Beira-Mar. Lucas estava na fila para entrar no edifício das Repartições Públicas, onde está localizado o Escritório Social – vinculado à Secretaria de Estado da Justiça (Sejus) – na avenida Jerônimo Monteiro. Outras pessoas também aguardavam na fila.
O homem na garupa da moto desceu e correu até Lucas, sacando arma da cintura e abrindo fogo contra ele. No corpo do rapaz foram encontradas 11 perfurações.
Morador de Porto Novo, em Cariacica, Lucas aguardava para entrar no prédio da Sejus para assinar os documentos que certificam que ele estava cumprindo a liberdade provisória, ato que deveria realizar de dois em dois meses. Ele saiu da penitenciária em dezembro de 2020.
A Sejus havia informado que a vítima "cumpriu pena no sistema prisional no período de 06/10/2018 a 04/12/2020 pelo crime de tráfico de drogas. Ele também possui passagem por homicídio".
Durante a tarde, a família de Lucas esteve no Departamento Médico Legal (DML) para realizar o reconhecimento e liberação do corpo. Eles não quiseram falar com a imprensa.
O caso será investigado pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vitória, que há um mês não abria novos inquéritos.
O assassinato no Centro de Vitória encerra o período de 30 dias sem nenhum registro de homicídio na Capital. Ao longo do ano de 2021, foram 28 mortes dolosas registradas pela Secretaria de Segurança e Defesa Social (Sesp) na cidade.
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