> >
Mortes de cães em voos: o luto e a saudade de capixabas que perderam pets

Mortes de cães em voos: o luto e a saudade de capixabas que perderam pets

Dois capixabas viram os respectivos animais morrerem em voos comerciais no país; em um dos casos, o laudo apresentou o calor excessivo como causa da morte

Publicado em 25 de abril de 2024 às 19:16

Ícone - Tempo de Leitura 4min de leitura
Tom morreu de calor durante voo de São Paulo para Vitória; David levou caso à Justiça
Tom morreu de calor durante voo de São Paulo para Vitória; David levou caso à Justiça. (Arquivo pessoal)
Mikaella Mozer
Repórter / [email protected]

Saudade e revolta traduzem os quatro anos sem a presença de Tom na vida de David Póvoa Canuto, de 32 anos. O cachorro da raça Staffordshire Bull Terrier, com nome em homenagem ao compositor Tom Jobim, morreu de calor aos 1 ano e 9 meses durante um voo de São Paulo a Vitória, na véspera do Natal de 2019.

O laudo da necropsia feita à época mostrou que a causa da morte teve como decorrência ao calor por ficar muito tempo no porão da aeronave. O tempo até passou, a dor atenuou, as boas lembranças ficaram, mas é impossível esquecer, principalmente quando o caso se repete.

Na última segunda-feira (22), tragédia semelhante aconteceu com o Golden Retriever Joca. O animal não resistiu as quase oito horas dentro de um avião após ser enviado ao Estado errado. O pet deveria ir de São Paulo para Mato Grosso, porém por uma falha, segundo a própria Gol, ele foi encaminhado à Fortaleza (CE). Na volta para SP, em viagem de mais 3 horas, ele chegou morto. A morte de Joca foi constatada por uma veterinária, que deu laudo de "parada cardiorrespiratória com causa ainda a ser esclarecida".

Mortes de cães em voos: o luto e a saudade de capixabas que perderam pets
Aspas de citação

Ele marcou muito a minha vida, muito mesmo. Éramos companheiros. Toda vez que ando pela Avenida Paulista eu lembro dele. Era o passeio, a gente sentava ali no vão do MASP e ficava de bobeira

David Canuto
Empresário
Aspas de citação

Sem a presença do melhor amigo de quatro patas, as idas às ruas do Estado paulista são preenchidas por “como seria se Tom estivesse aqui”. O que restou para o empresário é rever as fotos das aventuras que viveu com Antônio Jobim por um ano e nove meses.

“Minha vida mudou muito obviamente. Tem vários aspectos positivos, mas é algo que eu sinto falta e que seria a parte da minha família. Minha esposa não o conheceu, mas ela sempre fala que queria ter vivido com ele”, desabafou David.

Tom e David na mureta do Masp em São Paulo
Tom e David na mureta do Museu de Arte de São Paulo, onde sempre paravam durante os passeios. (Reprodução | Redes Sociais)

Sem cães

Por viajar muito ao Espírito Santo para visitar, David escolheu não ter mais nenhum cachorro. A sensação de receber a notícia da morte de Tom sempre vem à mente. Quando soube da partida de seu companheiro, ele foi, literalmente, ao chão em desespero.

“Eu não tenho coragem de colocar um animal em um avião nunca mais. O médico me disse que Tom teve falência múltipla de órgãos, então sei que ele sofreu muito. Não quero colocar outro animal para sofrer a mesma coisa”, disse.

O trauma aparece em toda viagem pelo aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. O local é onde Tom e David se viram pela última vez. Toda vez que pisa na sala de embarque, as memórias desde quando Tom chegou aos braços do empresário até quando o recebeu sem vida retornam. Durante meses, para suprir a saudade, David permaneceu publicando fotos na conta de Tom no Instagram que ele criou para o cachorro. 

Sem pedido de desculpas

O processo judicial iniciado pela morte de Tom só teve fim alguns anos após o caso. O valor pago pela companhia aérea foi considerada baixa por David em comparação ao solicitado e veio somente depois de várias tentativas de conciliação. Porém, o valor financeiro nunca importou para o tutor, que só queria um pedido de desculpas sincero. 

A sensação de indignação sempre esteve presente quando vê que nada mudou desde então. Um pouco mais de um ano depois, outra capixaba perdeu um golden retriever antes mesmo de poder passar tempo com ele.

Gabriela Duarte, capixaba que estudava no Rio de Janeiro, esperava no aeroporto carioca a chegada de Zyon, mas quando o conheceu ele estava já muito mal de saúde.

Em nota enviada à imprensa na época, Gabriela e família informaram que Zyon morreu após um voo realizado pela Latam em 14 de setembro. Gabriela relatou em um post do Instagram que o embarque do cão foi realizado às 13h do dia 14, no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, pela equipe responsável pelo canil de origem do animal.

“Não é sobre o dinheiro, sabe.  Durante o processo eu só queria conversar com eles e entender tudo o que aconteceu. Porque ele morreu assim e ouvir um pedido de desculpas e retratação. Porém, a primeira proposta que recebi era de uma passagem de ida e volta para qualquer lugar do Brasil que não fosse caro. Isso não apaga o que aconteceu e Tom era muito mais que isso”, desabafou David.

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

Tags:

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais