O sofrimento aproximou duas mães que perderam filhas no trânsito: de um lado, Renata Aparecida Marques, mãe da Amanda Marques, morta em tragédia na Rodovia Darly Santos, em Vila Velha, em abril de 2021; do outro, Adriani Luísa da Silva, mãe da modelo Luísa Lopes, que morreu atropelada na Avenida Dante Michelini, em Vitória, na última sexta-feira (15). Renata ligou para a mãe da jovem morta recentemente para ampará-la. “Vamos nos unir para que a justiça seja feita”, disse à reportagem de A Gazeta ao falar sobre a conversa que elas tiveram.
Segundo a mãe de Amanda, existe uma rede de familiares que passaram por situações semelhantes e se ajudam. “A filha de uma vítima me passou o telefone da Adriani. Devemos nos encontrar nesta terça-feira (19), no protesto na Praia de Camburi. Nossa dor é muito grande e queremos que os culpados não fiquem impunes”, afirmou.
A mãe de Amanda Marques ainda comparou o acidente que matou sua filha com o que tirou a vida de Luísa, e entendeu que, no caso da modelo, a sensação de impunidade pareceu ainda maior porque a principal suspeita do atropelamento está respondendo em liberdade. Diante disso, Renata questionou o valor da vida.
“Seria a vida insignificante? Basta pagar R$ 5 mil e ficar livre? Ninguém, além de Deus, deveria dar e tirar a vida de outra pessoa. É muito sofrimento. Até que venha uma decisão definitiva, ficamos na insegurança, ficamos na mão. Parece que nós que fizemos alguma crueldade. Eles (os réus) terão a vida de volta, mas eu não vivo mais”, acrescentou a mãe da jovem morta em Vila Velha.
Para Renata Marques, completar um ano sem a filha é viver o pior momento de todos. “Ficam a dor, a saudade e a mágoa. E tudo só aumenta. Vejo meu filho, que vai fazer quatro anos, perguntando pela irmã. São nossos piores dias. Queria que andasse a justiça, que pudessem sentir a nossa dor para acabar com isso de vai e vem. É sempre muita ansiedade", confidenciou, ao falar sobre o andamento do processo envolvendo a morte da filha.
Cheia de planos e sonhos, aos 20 anos, Amanda Marques teve a vida encerrada há um ano, em 17 de abril de 2021, na rodovia Darly Santos, em Vila Velha. Câmeras de videomonitoramento flagraram o momento do acidente (veja abaixo). Desde então, Wagner Nunes de Paulo, o condutor do veículo Toyota Corolla que atingiu a moto em que estavam ela e o companheiro, permanece preso preventivamente, aguardando julgamento definitivo e a defesa dele segue tentando a liberdade do acusado. Até o momento não houve definição sobre a ida do caso a júri popular.
A última audiência do caso aconteceu no dia 25 de janeiro deste ano e, atualmente, é aguardada a apresentação das alegações finais da defesa do réu. Em seguida, haverá uma decisão judicial, que encaminhará ou não o acusado para julgamento por crime doloso contra a vida — aquele com intenção do resultado.
O domingo de Páscoa (17) foi um dia ainda mais triste, já que nas lembranças dos familiares fica o aniversário de Amanda, que seria comemorado 13 dias antes da data do acidente, em 4 de abril, quando ela completaria 21 anos.
Em entrevista ao repórter Aurélio de Freitas, da TV Gazeta, a mãe da jovem, Renata Marques, afirmou que a dor só aumenta. “A dor é imensa, não tenho como explicar o tipo de dor que é. Minha filha não está mais aqui. Meu primeiro bom-dia era o dela e o resto do dia passávamos nos falando. Isso foi arrancado de mim. É muito difícil, muito doloroso sentir saudade, não ouvir mais um ‘eu te amo, mãe’, ou um simples ‘mãe’. Dói muito”, iniciou.
Para Renata, o caso foi um claro homicídio e não um mero acidente entre veículos. “Acidente é quando simplesmente acontece, é uma fatalidade. Mas quando você sabe que tem uma pessoa alcoolizada e em alta velocidade, com alto risco de colocar outras pessoas em risco, passa a ser um assassinato”, acrescentou a mãe de Amanda.
O acidente que tirou a vida de Amanda Marques e mudou drasticamente a de Matheus José da Silva aconteceu na noite de 17 de abril de 2021. O casal estava de moto e voltava da casa da mãe da jovem pela Rodovia Darly Santos, em Vila Velha. Quando passavam pelo bairro Jardim Asteca, eles foram atingidos pelo carro dirigido por Wagner Nunes de Paulo. Era Matheus quem pilotava a moto, modelo Honda XRE 300, no momento em que o Corolla, que seguia no mesmo sentido na pista, atingiu a traseira da motocicleta, segundo a Polícia Militar na ocasião.
Com o impacto da batida, as vítimas foram arrastadas por cerca de 50 metros até o veículo parar. Amanda morreu ainda no local, enquanto o companheiro foi socorrido em estado grave para o Hospital Estadual de Urgência e Emergência (HEUE), em Vitória.
Wagner Nunes de Paulo se recusou a fazer o teste do bafômetro no local do acidente, mas foi detido em flagrante após a batida e autuado inicialmente por homicídio culposo na direção de veículo automotor, crime previsto no artigo 302 do Código de Trânsito Brasileiro, como informou a Polícia Civil, por nota, na época.
Apesar de detido no local do acidente, Wagner Nunes de Paulo teria tentado arrancar com o carro para fugir, mas foi impedido por testemunhas, que também afirmaram que o motorista estava embriagado e dirigindo em alta velocidade. Na ocasião, um policial civil amigo da família teria tentado retirá-lo da cena e ameaçado as pessoas.
Ele foi encaminhado para o Centro de Triagem de Viana no dia 18 de abril, onde passou por audiência de custódia e teve a prisão em flagrante convertida em prisão preventiva, a pedido do Ministério Público do Espírito Santo (MPES), prisão que ainda está mantida.
Após as investigações, a Delegacia de Delitos de Trânsito concluiu que o condutor havia ingerido bebida alcoólica durante uma festa com amigos. Indiciado por homicídio qualificado por motivo fútil, Wagner Nunes de Paulo está preso preventivamente no Centro de Detenção Provisória de Viana II, segundo a Secretaria Estadual de Justiça (Sejus).
Segundo o relatório do caso obtido pela TV Gazeta, o procedimento adotado no atendimento ao acidente teve várias falhas, incluindo a ausência de teste toxicológico (diante da recusa do bafômetro). Por isso, as condutas deveriam ser apuradas. A Polícia Civil e a Polícia Militar já afirmaram que vão investigar as atitudes.
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