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Movimento negro exige medidas do governo e pede lockdown no ES

Movimento negro exige medidas do governo e pede lockdown no ES

Representantes vão entregar um documento nesta quinta-feira (4) com 105 reivindicações; população negra representa 70% dos casos positivos de Covid-19 do Estado

Publicado em 2 de junho de 2020 às 19:52

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Vitória - ES - Ensaio: Muros e máscaras. Registros mostram a interação entre entre rostos cobertos com máscaras e arte na cidade em meio a pandemia de coronavírus.
Pretos e pardos representam 70% dos casos de Covid-19 confirmados do Estado. (Vitor Jubini)

No início da pandemia era muito frequente ouvir que “o novo coronavírus não distingue gênero, etnia ou condição financeira” e que todos estavam “no mesmo barco”. Mas o tempo passou, a doença avançou, chegou ao Espírito Santo e mostrou que a realidade é outra: quem não pode ficar em casa ou não tem acesso irrestrito à água e sabão, por exemplo, está mais suscetível à Covid-19.

Prova disso é que mais de 70% dos casos confirmados do Estado afetam pretos e pardos, que também representam a maioria da população de baixa renda ou que exerce trabalhos braçais. Para tentar conter esse desigual e cruel avanço, representantes do movimento negro se uniram e discutiram, a partir de meados de maio, quais medidas são necessárias.

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O resultado será levado ao Governo Estadual na manhã desta quinta-feira (4): um documento com 105 reivindicações, entre as quais o lockdown e a construção de um hospital de campanha. Além da exigência de maior testagem e da identificação dos óbitos e dos casos confirmados por raça. Um abaixo-assinado com mais de 2.500 assinaturas também será entregue.

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Queremos estratégias para que a população negra tenha condições de fazer o distanciamento social, porque grande parte ocupa trabalhos mais frágeis e não tem tido a oportunidade de ficar em casa ou em segurança. A nossa população está nos ônibus, nas ruas. Ela está mais exposta

Gustavo Forde
Professor e integrante da Unidade Negra Capixaba de Combate à Covid-19
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Além das medidas objetivas no âmbito da saúde, a Unidade Negra Capixaba no Combate à Covid-19 pede para que o Estado inclua estudiosos e pesquisadores da saúde dos negros no comitê de crise, que toma as decisões para conter a pandemia no Espírito Santo. Assim como requer políticas de transferência de renda para comunidades tradicionais, como quilombolas e paneleiras.

Professor e pesquisador, Gustavo Forde é um dos interlocutores da Unidade Negra Capixaba no Combate à Covid-19
Professor e pesquisador, Gustavo Forde é um dos interlocutores da Unidade Negra Capixaba no Combate à Covid-19. (Acervo pessoal)

Professor e pesquisador de estudos étnico-raciais, o integrante Gustavo Forde resumiu a motivação do grupo: “Se a população negra está mais vulnerável, o que fazer e por que não está sendo feito? Essa ausência de ações pode ser resultado de como a sociedade brasileira se organizou a partir do racismo estrutural e institucional", disse.

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Nós temos duas preocupações. A primeira é que, de fato, está se confirmando o que uma série de estudos já vinha apontando: de que a população negra será a grande vítima dessa pandemia. E a segunda é que, mesmo diante desses indicadores, agora confirmados pelo teste sorológico, não visualizamos nenhum tipo de ação estadual ou municipal para mitigar esses impactos

Gustavo Forde
Professor e integrante da Unidade Negra Capixaba de Combate à Covid-19
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Antes de realizar a entrega do documento com as reivindicações, um grupo de 15 representantes dos movimentos negros deve fazer um ato político e simbólico em frente ao Palácio Anchieta, sede do Governo Estadual, em Vitória. No local, o grupo deixará cruzes em homenagem às mais de 600 pessoas que já perderam a vida para o novo coronavírus no Espírito Santo.

INFECTOLOGISTA: MEDIDAS SÃO NECESSÁRIAS, MAS LOCKDOWN NÃO É SOLUÇÃO

De acordo com o infectologista Paulo Peçanha, a maior incidência da Covid-19 entre pretos e pardos não é exclusividade do Espírito Santo e nem do Brasil. Com o avanço da doença para os bairros periféricos, a pandemia ilumina problemas e evidencia correlações socioeconômicas, já que estudos não revelaram qualquer propensão genética.

“A primeira questão diz respeito à habitação. Nessas regiões, as casas têm um alto número de moradores e fica mais difícil manter o distanciamento social. Por isso, a exposição acaba sendo muito maior. A segunda é a dificuldade para ter acesso ao atendimento médico, o que faz com que o diagnóstico seja mais tardio e a chance da doença evoluir mal ou matar seja elevada”, explicou.

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Outro dado que estudos e trabalhos têm mostrado é que pessoas negras com menores escolaridades morrem quatro vezes mais. Ou seja, há fatores de moradia, de assistência médica e de educação

Paulo Peçanha
Médico infectologista
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Diante de tal realidade, o especialista defende que medidas mais específicas precisam ser tomadas. “Seria muito importante achar um jeito de dar o diagnóstico de forma mais precoce e isolar as pessoas doentes que não vão para o hospital, evitando que outras adquiram a doença e que o adoecimento nesses grupos seja perpetuado”, afirmou.

Consequentemente, na visão dele, o lockdown não seria tão eficaz. “Os números estão mostrando problemas estruturais que precisam ser enfrentados a médio prazo. A curto, as ações precisam atender às carências dessa parcela da sociedade. O lockdown tem efetividade, principalmente, nas áreas centrais”, concluiu o médico Paulo Peçanha.

O QUE DIZ O GOVERNO DO ES

Procurado por A Gazeta, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) afirmou que já é possível consultar os casos confirmados e os óbitos da população negra por meio de um filtro adicionado no Painel Covid-19 e que o "Espírito Santo  é o único Estado do país a identificar, no ato do registro de notificação da Covid-19, a raça/cor do cidadão".

A pasta também informou que emitiu uma nota técnica (nº 17 de 2020) com recomendações para prevenção e controle de infecções para Organização da Rede Assistencial para Atenção às Pessoas em Situação de Vulnerabilidade. "Nesta quinta-feira (4), será realizada uma reunião por videoconferência entre a Sesa e integrantes do movimento negro no Espírito Santo", adiantou.

Data: 06/11/2019 - ES - Vitòria - Nicolas Soares, entrevistado sobre o mês da consciência negra - Editoria: Cidades - Foto: Vitor Jubini - GZ(Vitor Jubini)

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