Contar um pouco da história de Pedro Francisco de Souza, de 103 anos, aluno novato da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Emef Suzete Cuendet, em Vitória, é especial. Se chegar a esta idade é incomum, mais ainda é dar início a uma atividade de aprendizado contínuo. Ele, que criou 14 filhos, sendo seis mulheres e oito homens, trabalhando com barro e fazendo telhas e pisos, diz que ainda tem muito a aprender e se orgulha de que todos os herdeiros leem e escrevem "melhor" do que ele.
O que o incentivou a começar foi a perspectiva de aprimoramento da leitura e de melhoria na comunicação com outras pessoas. "A minha leitura é pouca e eu quero ainda esticá-la mais um pouco na mente, saber conversar com as pessoas. Como com os juízes, promotores, essas pessoas assim. Eu já tinha conversado com elas, mas quero conversar melhor. E meu filho está na escola, então perguntei a ele se podia ir, mesmo estando tão velho, e a diretora me aceitou. Estou gostando muito e a professora foi a primeira amiga que eu fiz lá", contou.
Natural de Salvador, na Bahia, e nascido em 1918, Pedro veio para o Espírito Santo aos 102 anos morar com o filho André de Souza, de 46 anos, que é agora colega de turma.
Para André, que é mestre de obras, ver o pai estudando é animador. O filho espera vê-lo conversando melhor em breve. "Eu estudo na escola em que ele está desde o ano passado. Um dia ele me falou que se pudesse, estudaria também. Eu falei que ia falar com a diretora, ela autorizou e eu o levei. E o estudo tem me ajudado bastante a desenvolver os projetos em que eu trabalho, quanto mais estudo melhor", disse.
Para um dos professores de André e Pedro, Gean Jaccoud, ter recebido o simpático senhor pela primeira vez nessa quarta-feira (26) foi uma experiência gratificante, já que nunca havia visto alguém tão experiente na sala de aula. Jaccoud diz que ver o senhor Pedro é a certeza de que a educação é o caminho para a sociedade.
"O Sr. Pedro é pai de um aluno nosso. Foi muito bom ver alguém tão experiente, mas que não teve a oportunidade de frequentar a escola durante a vida, entrando em sala. Só pelo fato de ele querer aprender em um momento em que a educação é mercantilizada, utilitarista e que alguns dirigentes políticos a entendem como gasto, não como investimento, já é um ato louvável por si só", afirmou o professor.
A diretora da escola, Rubia Xibili não esconde o contentamento em receber o novo aluno e diz que o EJA traz oportunidade de estudo para quem antes não podia. Para ela, o reencontro com a sala de aula é uma nova chance dos alunos mais velhos voltarem a fazer algo por eles mesmos.
"É muito bacana quando nos tornamos referência para uma pessoa dessa idade. A turma que o acolheu dá muito valor à escola. Estudando eles voltam a se sentir jovens, capazes, com potencial de aprender novamente. Você tinha que ver quando ele chegou, parecia um garoto. A gente nem imaginava a idade. Pedro lê e escreve algumas coisas e se sentiu à vontade. Se sentiu igual aos demais, foi muito bonito. E uma das cenas mais lindas foi do André, que disse que trouxe o pai porque ama a escola. A gente aprende muito com esses alunos", finalizou.
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