As mulheres de Vitória estão em quarto no ranking das que mais bebem no Brasil, de acordo com dados indicados na última edição da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A pesquisa, além de apontar índices de consumo de álcool, também contabiliza dados sobre o consumo de tabaco no Brasil, além de indicadores de efetividade do sistema de saúde, das condições de saúde da população e vigilância de doenças crônicas.
Os dados sobre o consumo de álcool no Brasil consideram pessoas que costumam consumir bebida alcoólica uma vez ou mais por semana. Nesse levantamento, dentre as capitais, Vitória está na quinta posição, empatada com Belo Horizonte. Segundo as estatísticas, 35,8% dos moradores da Capital capixaba têm esse hábito de consumo.
Observando a pesquisa a partir de um recorte por sexo, Vitória continua nas posições mais elevadas. As mulheres da capital ocupam a quarta posição no ranking, atrás apenas de Porto Alegre, Florianópolis e Salvador.
A biomédica Erica Siu, especialista em dependência química, aponta que o crescimento do consumo de bebidas alcoólicas entre as mulheres é uma tendência global, não apenas no Espírito Santo. O crescimento do poder aquisitivo das mulheres e a sobrecarga pela dupla jornada de trabalho acaba contribuindo para o aumento desses índices, aponta a especialista.
A engenheira Adriana Lage, 29 anos, é uma dessas mulheres. Moradora de Vitória, ela costuma beber durante a semana, mais de uma vez e em ocasiões diferentes. Tanto ela quanto o grupo de amigas têm o mesmo hábito, o que vai de encontro ao que a pesquisa aponta. "Já senti que estava chegando perto do limite em algum momento, mas nunca ultrapassei. Não cheguei a perder o controle ou algo assim", conta.
Adriana ainda considera que o álcool tem benefícios em outra área da vida. "Acaba ajudando na vida social, vira uma desculpa pra sair com os amigos, conhecer pessoas novas, socializar", explica a engenheira.
Considerando as estatísticas entre os estados brasileiros, o Espírito Santo é o oitavo onde mais se tem o hábito de consumo de álcool uma vez ou mais por semana, que é encontrado em 26,7% da população. As mulheres capixabas estão em sétimo no Brasil, com taxa de 18,1%, acima da média feminina brasileira, que é de 17%.
Erica Siu, que também é vice-presidente do Centro de Informações de Sáude e Álcool (CISA), alerta para os efeitos nocivos a curto prazo que o álcool pode causar. O abuso de álcool pode causar desde ressacas que impedem de realizar tarefas corriqueiras, blecaute alcoólico, quedas, acidentes domésticos, acidentes de trânsito e brigas.
Além das repercussões que o abuso de álcool pode ter no curto prazo, os dados do sistema de saúde do Espírito Santo também apontam que, a longo prazo, o consumo desenfreado de álcool também gera consequências.
Uma pesquisa realizada pelo CISA aponta que, em 2017, o Espírito Santo foi o terceiro estado com mais mortes relacionadas ao álcool no Brasil. Naquele ano, 1.631 óbitos foram registrados com relação ao álcool, uma média de 41,5 mortes a cada 100 mil habitantes, acima da média nacional, que é de 34 óbitos.
O Estado ainda registra outras estatísticas preocupantes. No recorte de idade de 40 a 59 anos, Vitória é a segunda capital que mais tem o hábito de beber uma ou mais vezes por semana: 18% dos entrevistados, independente do sexo, afirmaram ter abusado do álcool no mês anterior.
O abuso de álcool se refere a beber grandes quantidades em um curto espaço de tempo. Há as situações de "álcool zero", nas quais não é recomendado qualquer ingestão de bebidas alcoólicas. É o caso de crianças, adolescentes, gestantes, pessoas que vão dirigir, pacientes usando medicamentos que interagem com álcool ou aqueles que não conseguem controlar seu próprio consumo.
Para um adulto que está fora dessas condições de "álcool zero" e opta por beber, a recomendação do CISA é não ultrapassar o consumo moderado: uma dose de bebida por dia para mulheres e duas doses para homens.
Uma dose é considerada uma lata de cerveja, uma taça de vinho ou uma dose de bebidas destiladas, como cachaça, uísque e vodka.
Os efeitos do álcool no organismo de cada pessoa podem ser diferentes. Erica Siu explica que as mulheres são biologicamente mais suscetíveis aos efeitos do álcool e que, apesar das recomendações de consumo, cada um tem que observar os efeitos que as bebidas causam. Os dados são alarmantes e têm que ser considerados nas estratégias de prevenção e tratamento, e também na observação pessoal, afirma a biomédica.
O consumo de álcool também aumentou durante a quarentena. Esse crescimento foi relatado por 18% dos brasileiros, segundo pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O aumento do consumo de bebidas alcoólicas está relacionado à frequência de se sentir triste ou deprimido. O estudo da Fiocruz mostra, ainda, que esse crescimento foi maior entre pessoas de 30 a 39 anos, com 26% dos brasileiros considerando terem aumentado a ingestão de bebidas.
Apesar das altas posições que o Espírito Santo ocupa nos rankings de consumo de álcool no Brasil, o Estado lidera uma tendência de queda geral dos índices de fumantes no Brasil.
O Espírito Santo é o quinto estado com menos fumantes ativos no país: apenas 10,2% da população. E a capital também se destaca nos índices.
Vitória é a terceira capital com menos fumantes homens no Brasil, com 6,7% da população. No recorte geral, independente de sexo, é a oitava capital com menos fumantes no país, com índice de 6,8%.
Os índices de tabagismo decaem no Brasil inteiro há algum tempo. A PNS aponta que, em 2019, 12,8% da população era usuária de produtos derivados do tabaco no Brasil. Em 2013, eram 14,9%.
Segundo a National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA), o consumo moderado é definido como até um dose por dia para mulheres e até duas doses por dia para homens. A dose corresponde a 350 mL de cerveja, 150 mL de vinho ou 45 mL de destilado.
Escolha previamente os dias em que você vai beber e defina horário para começar e parar. Quanto mais rápido a pessoa bebe, maior o risco de desenvolver transtornos por uso de álcool. É recomendado intercalar o consumo de bebidas alcoólicas e não alcoólicas.
Padrões de consumo nocivos estão associados ao enfrentamento de problemas e sentimentos negativos (dor, tristeza, frustração e ansiedade). Reconhecer o que desperta sua vontade de beber permitirá que busque alternativas para lidar com essas questões, como contar com o apoio da família e amigos ou ocupar o tempo livre com atividades saudáveis e livres de álcool.
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