Nos últimos anos, a Grande Vitória vem ganhando uma série de intervenções artísticas em muros, casas e edifícios que dão novo colorido ao costumeiro concreto das cidades. O grafite, para quem muita gente torcia o nariz, é um dos grandes representantes dessa leva de obras, com aval de prefeituras. Há até editais específicos para financiar a arte urbana.
Mas muito antes dessa nova leva de traços e cores, as ruas da Região Metropolitana já contava com obras de arte, algumas tombadas como patrimônio cultural, entre elas painéis de Raphael Samú, Marian Rabello e Anísio Medeiros, grandes expoentes do mosaicismo brasileiro. Em meio a fios, postes e carros, denunciam problemas sociais, dialogam com as comunidades e revitalizam espaços públicos.
Nas cidades de Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica e Viana, quem for conhecer os murais ainda pode aproveitar lugares históricos, bares, praias, praças e parques. Para ajudar a dar ainda mais visibilidade a essas obras, A Gazeta fez um mapa com 30 intervenções na região — como uma espécie de guia por um museu a céu aberto.
As informações e o endereço de cada uma delas está no mapa interativo abaixo:
Em Vitória, a maioria das obras mapeadas por A Gazeta está localizada no Centro, que aos poucos ganha ares de Wynwood, bairro de Miami, na Flórida (EUA), conhecido pelos murais coloridos em grande escala, assinados por alguns dos artistas de rua mais conhecidos do mundo.
Na Rua 7 de Setembro, a revitalização da Escadaria da Piedade, por exemplo, foi realizada pela artista plástica Kika Carvalho — a primeira mulher de destaque a pintar muros na cidade — e outros grafiteiros. São artistas que têm trilhado caminho de sucesso na arte urbana do Espírito Santo e do país, seguindo uma seara aberta por nomes como a dupla OsGêmeos e Eduardo Kobra, muralistas internacionalmente conhecidos.
Nascida na Capital, Kika, de 30 anos, também realiza exposições em galerias de artes. Em 2022, foi destaque no “Encontro com Fátima Bernardes” com obras que valorizam a população preta.
“Eu vejo que, no Espírito Santo, há uma questão da supervalorização da cultura europeia. A gente sabe que vários povos construíram o que entendemos como brasilidade, porém, alguns são vistos como trabalhadores, outros são vistos como vagabundos. Quando eu grafitava, a cor azul aparecia de forma recorrente nas minhas produções, pois é uma cor que gosto desde criança. Quando descobri que o azul é usado como cor da nobreza, eu o trouxe para o tom de pele das pessoas escuras, que são consideradas inferiores”, contou Kika.
Quem for até a Escadaria da Piedade poderá curtir a arte, mas também os bares tradicionais, os ateliês, as galerias, lojas de tecidos africanos e até a conhecida Selva (antiga Casa 7), que fica a poucos metros do lugar.
No Centro da Capital, ainda há outros painéis espalhados pela Rua Graciano Neves, criados pelo grupo Cores que Acolhem. Nesse coletivo, trabalham pintores e crianças que recebem apoio da Prefeitura de Vitória para revitalizar os bairros.
Em Vila Velha, os museus públicos estão espalhados pelo município. Segundo a prefeitura, no bairro da Prainha, há um painel na Pousada Vilazinha. A arte fica a poucos minutos do Convento da Penha.
Já os apaixonados por praia podem aproveitar as galerias de arte a céu aberto na Barra do Jucu. Vale tirar fotos nos muros coloridos com imagens que representam a região, tão conhecida também por suas tradições folclóricas e religiosas.
Na Serra, os grafiteiros levam a própria identidade para os muros e criam projetos para a comunidade ter acesso à arte urbana. Entre os principais nomes estão Fredone e Starley Bonfim Silva.
Apesar de morar em Vitória, o artista visual Starley Bonfim é idealizador e organizador do Festival Internacional Origraffes — que significa Original Grafite Espírito Santo. O projeto faz intervenções colaborativas e simultâneas entre os grafiteiros na comunidade de Feu Rosa, outro local que faz lembras os famosos Wynwood Walls, com diversas casas e muros coloridos.
Atualmente, o bairro tem aproximadamente 3,6 km de muro pintado. Quem passa por lá fica impressionado com as cores e artes diferentes que começam na Praça Central, em frente à Escola Marinete de Souza Lira.
Segundo o idealizador, o festival ocorre desde 2016 e já reuniu 1.500 artistas de vários lugares do Brasil e da América Latina. Nas obras, pode-se ver a identidade desses autores e, claro, a de Starley, que tem uma poética própria.
“Eu desenho muitos rostos de pessoas pretas, porque eu me descobri preto muito tarde, mesmo não sendo retinto. Através de estudos e conteúdos no meu caminho, consegui me identificar com esse grupo étnico e entender minhas raízes. E também, de algum modo, direcionar a poética do meu trabalho para representar essas pessoas”, contou Starley.
Ainda na Serra, o bairro Eldorado também tem grandes pinturas a céu aberto. Desta vez, criadas pelo artista Fredone Fone que, desde 1992, quando tinha dez anos, já saía para acompanhar o pai pedreiro para reformar e pintar casas na região de Serra Dourada.
A partir daí, a arte se tornou paixão e, em 1995, a assinatura do artista começou a marcar os muros com spray e propósito da arte urbana capixaba.
“Uso cores, códigos, técnicas, ferramentas, materiais e ensinamentos que tive acesso através da construção civil, do hip hop e do skate, ou mesmo enrolando salgadinhos e docinhos com minha mãe, para contar histórias em primeira pessoa, imaginar e construir moradias, futuros positivos, levantar cidades com ideais invisíveis aos olhos vestidos de padrão, onde o racismo não tem chance de existir.”
Nos municípios de Viana e Cariacica, os murais fazem parte de locais usados para atividades de lazer, como parques e praças. São obras realizadas por pintores a pedido das prefeituras para dar vitalidade a esses espaços.
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