De todos os municípios da Região Metropolitana, apenas Vitória apresentou aumento no número de homicídios dolosos — aqueles em que há a intenção de matar — de 2022 para 2023, conforme os dados divulgados pela Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) nesta segunda-feira (2). De um ano para outro, o número de assassinatos saltou de 70 para 85 na Capital, o equivalente a 21,4% de crescimento.
Para o doutor em Ciências Humanas Marco Aurélio Borges, coordenador e professor do curso de mestrado em segurança pública da Universidade Vila Velha (UVV), vários motivos podem ter contribuído para os indicadores negativos de Vitória, muitos dos quais associados ao tráfico de drogas.
Ele aponta que tanto aspectos amplos, como facilitação do acesso a armas e rota do tráfico internacional, quanto fatores locais, a exemplo de mortes e prisões de traficantes na Capital, são causas possíveis. Marco Aurélio, no entanto, observa que é necessário fazer uma análise mais aprofundada para afirmar se há, de fato, uma tendência de crescimento da violência em Vitória, como indicam os números.
"Mais oferta de armas de fogo, menor preço, inclusive no mercado ilegal. Com o preço menor, mais acesso e mais uso. É uma questão bastante lógica. Outros aspectos macro que podem ter interferido são as dinâmicas nacionais das facções, as rotas de tráfico internacional, dentre outras. No contexto mais local, seria necessária uma investigação mais precisa nos locais específicos da cidade nos quais os homicídios foram mais frequentes para buscar compreender o que pode ter afetado. Em geral, a explicação mais imediata é 'guerra do tráfico'", reforça Marco Aurélio.
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Segundo ele, a morte ou a prisão de uma liderança de uma facção local pode dar início a um ciclo de assassinatos tendo como pano de fundo a disputa pela ocupação daquele espaço.
"As 'guerras' também podem ocorrer por motivos diversos, não só econômicos, mas ligados à territorialidade e disputas de honra. "Não é exatamente novidade, mas se tornam mais mortais devido à maior disseminação das armas de fogo, em especial as de maior letalidade, como fuzis", aponta o especialista.
Ainda segundo Marco Aurélio, ao comparar os dados de 2023 com anos anteriores, é possível que a alta nos números não represente uma tendência. "Suponho que o aumento dos homicídios em Vitória seja uma questão pontual e localizada, não representando uma tendência. Se for isso mesmo, é necessária uma análise mais aprofundada dos fatores que podem ter afetado, visando neutralizá-los", sugere.
Além dos dados divulgados pela Sesp, o especialista destaca a importância da análise, em conjunto, de informações de outras fontes, como o Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). "Por todos esses, é muito claro que as condições gerais da segurança pública no Estado do Espírito Santo, e o principal indicador que é o homicídio, vêm em uma tendência de melhora", analisa.
Contudo, o professor lembra que o Estado continua distante dos padrões internacionais, com o registro de 24,6 assassinatos por 100 mil habitantes em 2023. A taxa aceitável nos padrões da Organização Mundial da Saúde (OMS), segundo ele, é de, no máximo, 10 homicídios por 100 mil.
O Espírito Santo fechou 2023 com 978 homicídios registrados. Entre as vítimas, 65% tinham envolvimento com o tráfico de drogas e armas, conforme os dados da Sesp. Seis em cada dez mortes foram motivadas por confrontos ligados ao tráfico. Além disso, 66% dos homicídios têm característica de execução, sendo que, em 79% das vezes, as armas de fogo foram o meio utilizado para a consumação dos crimes.
Veja, abaixo, o número de homicídios dos municípios do Espírito Santo nos anos de 2022 e 2023.
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