A Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, tem se mostrado mais letal entre os negros que moram em bairros de periferia da Grande Vitória. De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), até a noite desta segunda-feira (27), 63 pessoas morreram após terem sido infectadas.
Do total de vítimas, 55,5% (35) eram homens e 44,4% (28) mulheres. Quando se faz o recorte de raça/cor, o índice de mortalidade entre os negros é de 42,8%, dos brancos 19% e dos amarelos ( de origem oriental) é de 7,9%.
De acordo com o Painel Covid-19, não há informação sobre a raça de 30,1% dos mortos.
De acordo com o Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), no primeiro trimestre de 2019, a população capixaba era de 4.003,175 habitantes. Desse total, 51,7% são pardos, 35,9% são brancos, 11,6% são pretos, 0.4% são indígenas e outros 0.4% são amarelos (de origem oriental). Ao todo, 634 não apresentaram declaração de cor.
A partir da definição do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do entendimento do Movimento Negro, negro é a junção dos pretos e pardos, portanto representa 63,3% da população capixaba.
No item intitulado Deficiência das Condições de Moradia, a Síntese dos Indicadores Sociais do Espírito Santo 2018, elaborada pelo IJSN, apontou que 13,4% das pessoas autodeclaradas pretas, 11,1% das pessoas pardas e 6,3% dos brancos residentes no Estado vivem em moradias inadequadas.
O tópico engloba domicílios excessivamente adensados, quem têm ônus excessivo com aluguel e vive em moradias com paredes externas de materiais não duráveis. Os domicílios excessivamente adensados são configurados quando três ou mais pessoas dormem em um mesmo cômodo.
O ônus excessivo com aluguel é considerado quando a família gasta 30% do orçamento mensal com o pagamento da habitação. Paredes de material não duráveis são aquelas construídas com papelão e madeiras não aparelhadas.
Na avaliação do doutor em doenças infecciosas, o médico infectologista Crispim Cerutti Junior, o fato da mortalidade ser maior entre os negros pode estar relacionada, em um primeiro momento, ao fato da população capixaba ser composta pela maioria de pretos e pardos. Neste entendimento, ele também que frisa que os negros são os mais desfavorecidos socialmente.
Já o médico infectologista, Lauro Ferreira Pinto, ressaltou que em Nova Iorque, nos Estados Unidos, a maioria das mortes ocorreu entre negros com hipertensão e diabetes que também moravam em bairros periféricos. Na avaliação, é preciso cautela e ainda mais análise de dados para verificar se a mortalidade entre os negros é uma tendência.
É de se perguntar se não é mais difícil isolamento em áreas mais humildes, se não há mais doenças crônicas de difícil controle. Acho que bairros com baixa renda tem mais aglomeração, residências mais cheias com mais facilidade de disseminação e de número de casos. A pandemia expõe nossa desigualdade pela dificuldade de isolamento na baixa renda, até pela informalidade, explicou.
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