O coronel do Corpo de Bombeiros do Espírito Santo Benício Ferrari afirmou que todas as simulações computacionais feitas pelos peritos da corporação falharam em encontrar uma situação em que o incêndio fosse acidental. Segundo ele, como havia a informação de que o fogo tinha iniciado no aparelho do ar-condicionado e se alastrado para a cama das crianças, foram feitos testes com diferentes potências do aparelho e densidades de colchão. Ainda assim, considerando o cenário mais propício ao incêndio, não teria como o fogo ter se comportado da forma como ocorreu.
"No computador, a gente não conseguia fazer o fogo do ar-condicionado passar para a cama. Reforçamos o modelo do ar-condicionado, mudamos o tipo de colchão, tudo para ver se a versão de Georgeval fazia sentido. Nem a versão de Georgeval 'turbinada' vingou", declarou Ferrari.
O coronel foi a segunda testemunha a depor no primeiro dia do júri popular do pastor Georgeval Alves Gonçalves. Ele é acusado de estuprar, torturar e colocar fogo no filho e no enteado em 2018, em Linhares.
Como a suspeita é de que as crianças tenham sido mortas em um incêndio, o coronel Ferrari é considerado uma testemunha-chave no processo. Ele foi inquirido pelo Ministério Público sobre o laudo pericial que embasou a conclusão da Polícia Civil e do Ministério Público que o pastor teria ateado fogo nos dois meninos usando um agente acelerante. Não foi possível precisar qual o agente utilizado. Apenas foi identificado que seria um derivado de petróleo (gasolina, diesel, querosene, por exemplo).
"Não encontramos nenhum indício de que o incêndio poderia ter começado por qualquer um daqueles equipamentos elétricos. Não teve nem descarga elétrica, raios, e se ainda assim fosse, a casa estava protegida por outras três edificações muito altas. A única fonte de calor restante seria externa introduzida na cena", declarou o tenente-coronel dos Bombeiros.
Questionado pelo MPES a respeito dos métodos utilizados na perícia do Corpo de Bombeiros, Benício Ferrari afirmou que não tem dúvidas de que houve o uso de agente acelerante no incêndio e que o fogo foi provocado. "Minha certeza é científica porque usamos o método científico. Em alguns casos, como esse, a riqueza de dados é tão grande e a avaliação que a gente consegue chegar é essa certeza científica. Não tenho nenhuma dúvida das conclusões que cheguei", declarou.
Advogado de defesa Hobert Limoeiro questionou o tenente-coronel sobre de onde exatamente teria partido o incêndio. Benício Ferrari afirmou que não sabe precisar de onde partiu, mas declarou que não foi no ar-condicionado. Ele apontou para um "desenvolvimento anormal" das chamas para um canto onde estava uma escrivaninha com brinquedos de criança. Como esse local não era perto de fontes de oxigenação (porta, janela) nem tinha nada que pudesse provocar uma chama naquele local (tomada, luminária, lâmpada, incenso), o fogo não teria queimado de forma tão intensa lá de forma natural.
A defesa do pastor questionou o tenente-coronel sobre galões com odor de gasolina que foram encontrados na residência, perguntando se eles chegaram a ser periciados ou analisados como possível objeto utilizado para o transporte do acelerante supostamente usado no incêndio e levado até o quarto. Ferrari afirmou que os Bombeiros não periciaram os galões e disse que a origem do objeto seria irrelevante.
"Ele é irrelevante porque se foi ele ou não foi ele... eu não posso afirmar que naquele galão foi transportado o combustível. Para nós não faz diferença se foi ele ou outro objeto em que o combustível foi levado ao cômodo", declarou. "A forma como o combustível foi introduzido lá (no quarto) não afeta em nada a conclusão da hipótese", continuou.
"Para a conclusão da investigação, basta sobrar uma hipótese remanescente para concluir que aquela hipótese é a hipótese.", finalizou.
No início do depoimento, os advogados que representam Georgeval Alves Gonçalves pediram que o coronel Ferrari não fosse ouvido porque teria chamado o pastor de "monstro" em uma entrevista à imprensa no ano do incêndio. Dessa forma, ele seria suspeito para falar sobre o caso.
O juiz Tiago Fávaro Camata, que preside o Júri, indeferiu o pedido da defesa de Georgeval e disse que não viu problema na conduta do coronel porque ele teria falado à imprensa após a conclusão dos laudos periciais.
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