O brasileiro poderá esperar viver menos por causa da pandemia de covid-19. A expectativa de vida no Brasil poderá cair até mais de três anos e meio, dependendo da região, por causa do impacto da doença nos índices de mortalidade. No Sudeste, a situação mais grave é a do Espírito Santo (com perda estimada de 3,02 anos), seguido de Rio (2,62) e de São Paulo (2,17).
O número é resultado direto das mortes já registradas no País pela doença e integram estudo liderado pela pesquisadora brasileira Marcia Castro, do Departamento de Saúde Global e População da Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard. O trabalho usa dados do Ministério da Saúde foi submetido para publicação na MedRxiv, da Universidade de Yale.
O Distrito Federal é o local mais afetado, com uma redução estimada de 3,68 anos - de 79,08 anos para 75,40. O Norte, porém, é a região mais afetada. Lá, as piores situações são a do Amapá (com redução de 3,62 anos, de 74,88 para 71,26 anos), de Roraima (recuo de 3,43, de 72,69 para 69,26) e do Amazonas (menos 3,28, de 72,81 para 69,53 anos).
Em São Paulo, a perda deve chegar a 2,17 anos, passando de 79.11 para 76,94 anos. Caso a projeção - que considera óbitos por covid no ano passado - se confirme oficialmente, será a primeira redução nesse indicador nacional desde 1940, conforme os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em média, a redução em todo o Brasil será de praticamente dois anos (1,94).
Em 1940, a expectativa de vida do brasileiro ao nascer era muito baixa, de 45,5 anos. Depois disso, com redução da mortalidade infantil e outros avanços da Medicina e do País, o número vem crescendo consistentemente. Em 1980, chegou a 62,5 anos e, no ano 2000, a 69,8. Atualmente, a expectativa de vida do brasileiro é de 76,6 anos.
E essa queda não será pontual. "Quando acontece um conflito, uma pandemia, algo severo assim, é comum ver esse declínio de expectativa de vida; foi assim na gripe espanhola e nas guerras mundiais", afirma a demógrafa Márcia Castro.
A Região Nordeste também sofreu um impacto importante. Ali, entre os Estados mais afetados estão Sergipe (redução estimada de 2,21 anos), Ceará (2,09) e Pernambuco (2,01). No Sul, as estimativas de perda de expectativa de vida estão abaixo dos dois anos para os três Estados - a menor redução é em Minas (1,18, de 78,19 para 77,01 anos).
"Essas diferenças, em grande parte, eram esperadas pois refletem as desigualdades regionais, no que diz respeito ao número de médicos, de leitos hospitalares, infraestrutura. No Amazonas, por exemplo, todos os leitos de UTI estão concentrados em Manaus", afirma Márcia.
Por outro lado, segundo Márcia, a maioria dos governadores da Região Norte são apoiadores do governo federal e tomaram decisões muito alinhadas às da Presidência.
"A Região Nordeste, a despeito de ter desigualdades comparáveis às da Região Norte, não teve uma perda de expectativa de vida tão grande, porque os governos adotaram mais medidas de prevenção. São vários fatores. Desigualdades importam, decisões políticas importam; é um mosaico complicadíssimo."
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