O número de prédios vazios ou parcialmente inutilizados no Centro de Vitória cresceu 70% durante os anos de pandemia. Levantamento feito no segundo semestre de 2021 apontou que há atualmente 217 prédios, lojas, casas ou terrenos sem uso no bairro.
Os dados foram levantados e compilados por uma equipe de estudantes e professores do curso de Arquitetura e Urbanismo da Faesa em parceria com a Prefeitura de Vitória. O resultado da pesquisa foi apresentado nesta quinta-feira (10) e servirá para que a municipalidade elabore e aplique soluções para a região.
O levantamento anterior havia sido feito em 2019 pelo BR Cidades, com a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), a Defensoria Pública e a Associação de Moradores do Centro de Vitória (Amacentro). Na ocasião, foram encontrados 127 imóveis abandonados.
O dado atual mostra que as áreas que mais sofreram com o abandono foram as regiões da avenida Jerônimo Monteiro e da Rua Sete, onde há uma tradição forte de comércio de rua. Também se destacou a Cidade Alta, conhecida pelos casarões históricos.
“Houve uma falta de pessoas circulando no Centro por conta do isolamento social, o que levou a uma redução da demanda no comércio. Há também a questão dos aluguéis, pois não houve redução (de valores) por parte dos proprietários de forma a manter aquelas pessoas ali”, afirma a professora Michela Pegoretti, uma das coordenadoras do projeto.
A professora Viviane Pimentel, que também coordenou o trabalho, aponta que o grande número de imóveis sem uso traz consequências negativas para a área, reduzindo a sensação de segurança e gerando a impressão de abandono. Assim, o espaço é menos utilizado pelas pessoas.
“Se não tem gente na rua, você não tem essa sensação de que é um espaço seguro, que tem dinâmica, que tem ocupação. É preciso considerar não só a presença do ser humano, mas também o estado de conservação desse espaço. Se um prédio está abandonado, ele se deteriora e também deteriora a paisagem urbana”, avalia.
Segundo as especialistas, o Centro da Capital precisa de políticas públicas contínuas que dialoguem com os moradores da região.
“Não há um projeto a ser feito pontualmente e, a partir daí, o Centro será um outro bairro. Tem que haver continuidade”, diz Viviane.
“O poder público tem que ouvir as pessoas que moram ali e vivencial o local no dia a dia. Não pode acabar uma administração e ter que começar tudo de novo. Assim a gente retrocede”, completa Michela.
De acordo com o presidente da Amacentro, Lino Feletti, há um grande interesse da comunidade para que os imóveis abandonados sejam reformados e utilizados como moradias populares.
“A gente precisa usar o Centro de Vitória para fins de habitação O que a gente precisa é uma política de habitação popular, é o que mais vai trazer resultado para nós. Nós temos na cidade de Vitória mais imóveis parados, ainda que em condição de desuso, do que gente sem lugar para morar”, ressalta.
O prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini, afirmou que a prefeitura tem projetos em andamento para atender às demandas dos moradores do Centro.
“Estamos com o edital finalizado e vamos dar ordem de serviço para o colégio São Vicente. Já no Mercado da Capixaba, estamos lançando em março o edital e acho que ainda esse ano vamos dar a ordem de serviço para começar as obras”, ressaltou.
A nova sede do colégio São Vicente de Paula será construída na Rua Loren Reno, no bairro Moscoso, no terreno onde anteriormente ficava o Colégio Americano Batista.
Já o Mercado da Capixaba está fechado desde 2020. Além do restauro das fachadas externa e interna, o projeto prevê elevador, ar-condicionado e iluminação pública. A obra deve custar quase R$ 10 milhões.
O chefe do Executivo municipal afirmou que também há projetos habitacionais previstos para a região, citando a reforma do Edifício Ada, na Avenida Jerônimo Monteiro, que será feita pela iniciativa privada. As salas comerciais abandonadas vão se transformar em apartamentos tipo studio, de alto padrão.
Já em relação às moradias populares, que é a demanda da comunidade, o prefeito afirmou que estão sendo entregues 35 unidades habitacionais no residencial Santa Cecília (antigo Cine Santa Cecília), na região do Parque Moscoso. Contudo, não informou que outros locais podem ser usados para essa finalidade.
“As intervenções previstas vão criar prosperidade na região central e a retomada do desenvolvimento e da circulação de pessoas”, aposta.
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