O Espírito Santo registrou, nesta quinta-feira (11), o maior número de pessoas internadas em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) desde o início da pandemia: são 607 pacientes nos leitos intensivos da rede pública estadual destinados exclusivamente a casos do coronavírus.
O recorde é mais um sinal do avanço da Covid-19 entre os capixabas. Há duas semanas, o Estado tinha voltado a ter mais de 500 pessoas assistidas nessas condições; e na última segunda-feira (8), havia registrado a maior quantidade de internados em UTIs desde julho do ano passado.
Até esta quinta-feira (11), o recorde era de 600 pacientes graves nas UTIs, contabilizados no dia 13 de julho de 2020, ainda durante o primeiro pico. Ao longo de todo o período pandêmico, em apenas outras sete ocasiões o Espírito Santo chegou a ter mais de 580 pacientes em leitos intensivos.
Também vale lembrar que não faz tanto tempo que o sistema de saúde capixaba vivia uma situação muito mais confortável. Em outubro, por exemplo, o Estado estava em uma fase de recuperação da curva de casos e chegou a ter menos de 500 pessoas internadas – isso levando em conta tanto as vagas em UTIs quanto as de enfermarias.
Outro exemplo da maior pressão na rede pública hospitalar é a crescente verificada na taxa de ocupação, apesar do início da segunda fase de expansão de leitos. Nessa quarta-feira (10), o Espírito Santo atingiu 80% de ocupação das UTIs, que já evoluiu para mais de 83% nesta quinta-feira (11).
Desde antes do período de Carnaval, autoridades da área de saúde alertavam para um triplo risco: as possíveis aglomerações no "feriado prolongado", a maior transmissibilidade das novas variantes do coronavírus e a sazonalidade das doenças respiratórias entre março e abril.
À frente da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa), o secretário Nésio Fernandes chegou a declarar que a "a terceira onda da Covid-19 foi anunciada" e que o Espírito Santo nunca esteve tão perto de viver um colapso – ainda mais se considerada a situação já vivida por outros Estados do país.
Para tentar evitar esse cenário crítico e garantir a assistência a todos os capixabas, o Governo Estadual deu início à segunda etapa do programa "Leitos para Todos". No início de março, o governador Renato Casagrande anunciou a abertura de 158 vagas de UTI até o fim de abril, das quais dez já foram entregues.
Ainda assim, em entrevista ao Papo de Colunista, o secretário de Saúde ressaltou que os leitos intensivos são a última ponta de combate à Covid-19. "Os leitos não salvam todas as vidas. Nós vamos vencer essa pandemia com atenção primária, com a vacinação em massa e com o distanciamento social", afirmou.
Diante de todo o atual cenário do Espírito Santo, a reportagem de A Gazeta ouviu duas especialistas: a infectologista Rúbia Miossi e a epidemiologista Ethel Maciel. Ambas têm dúvidas se o sistema de saúde capixaba vai aguentar a maior pressão da pandemia e preveem semanas ainda mais duras no Estado.
"Esse recorde é reflexo do aumento no número de casos que já era esperado, até como consequência das aglomerações do Carnaval. A tendência é que as próximas semanas sejam de mais agravamento. A gente torce para que esses 158 leitos de UTI sejam suficientes, mas não tem certeza", admite Rúbia.
No entanto, elas discordam em parte sobre o que precisa ser feito para que o futuro não seja tão ruim. A infectologista Rúbia Miossi prefere não falar em medidas mais rígidas, mas ressalta que "as pessoas precisam ter consciência para se afastarem, para que setores não sejam ainda mais penalizados".
Já a epidemiologista Ethel Maciel acredita que restrições são necessárias e urgentes. "É a única forma de salvar vidas, já que a vacinação está muito lenta. Estamos com jovens ficando graves e ocupando as UTIs por mais tempo. Precisamos restringir a circulação, porque o vírus se movimenta com as pessoas", defende.
O que ambas têm certeza é que as medidas de distanciamento social seguem sendo indispensáveis, principalmente agora. "O que é urgente é as pessoas não ficarem se aglomerando e usarem máscara sempre que estiverem em contato com outra pessoa. Se cada um não fizer a sua parte e se empenhar, vai ser muito difícil", alerta Rúbia.
"O que a gente adotar agora vai surtir efeito daqui duas ou três semanas. Se não fizermos isso agora, podemos não conseguir retroceder. A situação é grave, muito grave. A sociedade precisa saber, adotar as medidas e usar máscaras mais filtrantes ou duas máscaras ao mesmo tempo", complementa Ethel.
Em entrevista exclusiva cedida nesta quinta-feira (11) para A Gazeta, o subsecretário de vigilância em saúde Luiz Carlos Reblin afirmou que o cronograma de abertura para os 158 leitos de UTI até abril se mantém e garantiu que o Estado não trabalha com a hipótese de colapso no sistema de saúde.
"Nós já esperávamos esse aumento de casos e de internações. Por isso, nós estamos trabalhando no sentido de ampliar a nossa capacidade de atendimento às pessoas. Serão mais 60 leitos até o final desta quinzena, outros 48 até o final do mês e mais 40 em abril, chegando a 900 leitos de UTI", reforçou.
Segundo ele, a previsão é que a curva da pandemia siga aumentando até o final de abril. "Trabalhamos com a mesma lógica da primeira onda. Começando o aumento agora, deve estabilizar em maio e depois reduzir. A magnitude e o tamanho dessa curva é que ainda vai levar de uma a duas semanas para compreendermos", admitiu.
Na entrevista, ele também adiantou que é "muito provável" que mais municípios sejam classificados como de risco alto ou moderado no próximo mapa de risco, a ser divulgado nesta sexta-feira (12), e que "se entrarmos em uma condição mais severa, poderemos rediscutir as medidas a serem seguidas".
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