Aos 84 anos, João Guerra Pinto provou que a idade não é obstáculo para alcançar os sonhos. Após uma vida dedicada ao trabalho, ele ingressou na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) para cursar Gemologia.
"Nunca é tarde para aprender. Sempre soube que o caminho do bem era o estudo", diz o futuro estudante universitário.
Nascido em Portugal, João veio ao Brasil aos 15 anos para se juntar ao pai. Desde então, trabalhou para sustentar a família, deixando de lado seus estudos. Anos mais tarde, ele se tornou dono de um bar no Centro de Vitória, onde trabalhava de 10 a 12 horas diariamente.
Em 2023, João decidiu passar o negócio para o neto. Foi então que ele viu a oportunidade de realizar um sonho antigo: completar os estudos. Com a ajuda da família, ele concluiu o ensino médio na modalidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e, surpreendendo a todos, decidiu prestar o Enem para ingressar na universidade.
Quando João anunciou que faria o Enem, a família ficou surpresa, mas confiava na determinação dele. Rosa Maria pegou as apostilas do filho e levou até o pai, ajudando-o a estudar. A neta Ariadne Bezerra também deu suporte, ensinando-o a preencher o gabarito e a lidar com a estrutura da prova, algo novo para ele.
Sabendo da importância da redação, a família contratou a educadora Eliana Senna Bof, professora aposentada com mais de 50 anos de experiência, que já havia ensinado outros familiares.
Quando a aprovação veio, a emoção tomou conta. “Eu me senti gratificada. Ele foi recompensado pelo esforço. Aprendi com ele que, quando nos empenhamos, colhemos os resultados”, ressalta Rosa Maria.
“Quem anda pra trás é caranguejo”
Para se preparar, João organizou uma rotina intensa de oito horas diárias de estudo. No entanto, para quem trabalhou 12 horas por dia durante décadas, essa dedicação parecia natural.
Para aqueles que, como ele, precisaram adiar os estudos, João deixa uma mensagem de incentivo: “É preciso acreditar no próprio potencial, cuidar do bem-estar e seguir em frente”.
Por que Gemologia?
João inicialmente queria apenas testar seus conhecimentos no Enem e, após os resultados, analisou suas possibilidades com a neta. Ele viu que poderia escolher entre Arquivologia, Biblioteconomia e Gemologia. O estudo das pedras preciosas despertou seu interesse, e ele optou pelo curso.
O trote
Aprovado na UFES, João não escapou da tradição universitária. A família organizou um churrasco para celebrar e, como parte do trote, ele aceitou raspar o cabelo.
“Minha mãe ficou com dó quando soube que ele teria que raspar, mas ele logo falou: ‘Se é tradição, eu vou fazer, sem privilégios’”, contou a filha.
A família registrou todo o momento, mas não esperava pela repercussão. “Foi uma semana mágica. Estamos felizes e gratos por ver o esforço dele sendo aplaudido por tantas pessoas", afirma Rosa Maria.
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