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O capixaba que atravessou fronteira do México com os EUA e hoje serve no Exército americano

O capixaba que atravessou fronteira do México com os EUA e hoje serve no Exército americano

Jhoe Freitas era morador de São Mateus e decidiu atravessar a fronteira do México para os Estados Unidos com a família em 2016

Publicado em 14 de junho de 2024 às 11:26

Ícone - Tempo de Leitura 6min de leitura
Jhoe Freitas saiu de São Mateus e se mudou para os EStados U. (Arquivo Pessoal)

Se apresentar e servir ao Exército do Brasil é algo comum de acontecer na vida de muitas pessoas, mas não é todo dia que vemos um capixaba indo servir no Exército dos Estados Unidos. Essa se tornou a realidade de Jhoe Freitas após sair de Guriri, São Mateus, no Noroeste do Espírito Santo, e “mudar de ares” para tentar uma nova vida com a família em 2016 no Estado de Massachusetts. Em entrevista para a Rádio CBN Vitória, Jhoe contou sobre como foi sua mudança e sua entrada no Exército Americano.

Você morava em Guriri e trabalhava com o quê?

"No Brasil eu fui agente penitenciário por um tempo, o que hoje acredito que seja o policial penal, e depois trabalhei na Assembleia Legislativa até 2016. Aí, em 2016, eu decidi ir com minha esposa para os Estados Unidos."

Você tinha visto para ir para os Estados Unidos?

"Eu tentei conseguir o visto duas vezes, mas não consegui, aí peguei minha família e atravessei pelo México. Atravessou eu, minha esposa e meus dois filhos."

E como foi a sua travessia? Foi tranquila? Você foi andando ou de ônibus?

"A minha travessia foi muito tranquila, eu vim até o México e depois peguei um carro, fiquei uns quatro dias em Cancún e depois atravessei, foi muito tranquilo. Falo desse jeito, mas não é incentivando ninguém a fazer isso porque a gente sabe que o México não é fácil.

Você foi direto para Massachusetts ou parou em outro estado antes?

"Isso, eu vim direto para Massachusetts, tenho família e vários amigos aqui que me receberam. Aí começou vida de imigrante que nos primeiros anos não é fácil, você se estabilizar, conhecer pessoas, se adequar em um trabalho que você goste, arrumar casa e, com família, ainda é mais complexa a situação. Graças a Deus hoje estamos mais tranquilos e estabilizados."

E como foi para você se estabilizar no primeiro ano? Você morava com quem e quem ajudava as crianças?

"No primeiro ano eu morei com uma amiga da família durante uns seis meses, depois ela saiu e deixou o apartamento para mim. As crianças ficavam com a babá porque aqui ninguém pode ficar sem trabalhar, então eu e minha esposa precisamos trabalhar. A gente trabalhava até as cinco ou seis da tarde, no primeiro ano eu trabalhava de dia e de noite, das 23h até as 3h da madrugada, para regularizar nossa situação entendeu? Para nada faltar, aluguel e comida."

E você trabalhava com o que, Jhoe?

"De manhã eu trabalhava com carpintaria, que é a profissão que o brasileiro consegue se adaptar melhor, e de noite eu trabalhava limpando mercados. É puxado e não é fácil, nos primeiros anos até você se estabilizar tem que pegar o que vier."

E você conseguiu se estabelecer e se legalizar quando?

"Eu consegui comprar a nossa casa em 2020 e, em 2022, a gente se legalizou, no mesmo ano eu entrei no Exército Americano."

E como foi essa história de um imigrante que saiu do Brasil entrando no Exército? Como foi o processo?

"Não é fácil, quando eu me legalizei fiquei sabendo de uma oportunidade para de quem é imigrante legal no país poderia entrar no exército e eu fui atrás, consegui entrar em 2022. Agora vai fazer dois anos que estou no exército e daqui um ano ou um ano e meio eu sou promovido a sargento."

E quais são as etapas para entrar no Exército?

"No Exército Americano você vai até um recrutador, se apresenta para e ele e fala que tem vontade. Ele vai checar toda a sua documentação, seus antecedentes criminais, os daqui e os do Brasil. A partir do momento está clínico e sem nada no seu histórico, você vai para um prova com, se eu não me engano, 170 ou 180 questões onde você precisa conseguir 30 pontos. Aí você vai para os seus exames, os de sangue, para ver se não tem nada quebrado ou uma doença. Depois você volta para conferir seus antecedentes criminais e se estiver tudo tranquilo você vai para o juramento de bandeira e pega seu contrato. Eles te mandam para um curso, o Basic Training, por dois meses e 15 dias. Eles falam que é para quebrar o civil que tem em você e te tornando em um militar."

E se aprende o que nesse curso?

"Você a aprende a atirar e sobreviver na mata, tem acampamento e nesse período de dois meses você faz quatro ou cinco caminhadas com mochila e fuzil. A primeira é de 5 milhas (8 Km), a segunda é de 7,5 milhas (12 Km), a terceira de 10 milhas (16 Km) e a última é de 15 milhas ( 24 Km). É te ensinando a como sobreviver caso precise, em uma guerra ou coisa do tipo."

E você passou nesse teste e é contratado? Tem salário mensal?

"Isso, eu tenho um contrato com eles é de seis anos, me falta quatro anos. A minha profissão lá é com engenharia, mexer com máquinas pesadas e estradas, a mesma coisa que tem no Brasil. A gente tem um salário, eu sou da Guarda Nacional e é bem diferente do Exército ativo. O ativo é o que está todos os dias lá com eles e a Guarda Nacional você se apresenta uma vez por mês e eles te pagam esses dias que você trabalha. A gente teve agora um treinamento de 20 dias em Porto Rico, então eles te pagam esses 20 dias."

E a remuneração é boa? Da para sustentar você e a sua família?

"Sim, é tranquilo. Mas eu tenho minha vida civil também com uma empresa de paisagismo, então quando eu não estou lá eu estou na minha empresa trabalhando normal."

Você não tem medo de que seja convocado e enviado para uma conflito?

"Isso pode acontecer, mas medo eu não tenho. A única coisa que dói no meu coração, e que eu passei por isso ficando cinco meses em treinamento, é ficar longe da minha família, isso pesa bastante. Eu tenho uma filha de 5 anos que tive aqui e a gente é muito apegado, então dói bastante ficar longe uns dias."

Qual é a principal vantagem de um capixaba morar em Massachusetts?

"O que eu vejo e que me conquista, principalmente nos Estados Unidos, é a saúde, a segurança e a educação. Aqui você paga seus impostos e vê o retorno, a qualidade de vida é excepcional."

E o que você sente mais falta no Brasil?

"É o aconchego da família, a receptividade e aquele calor. Aqui a gente sente um pouco de falta disso, o pessoal é mais cada um por si. Você não pode chegar na casa de alguém para tomar um café sem agendar antes, eu sinto muita falta disso."

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