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O que causou queda de avião que matou duas pessoas em Guarapari

O que causou queda de avião que matou duas pessoas em Guarapari

Queda de monomotor aconteceu em fevereiro de 2020, no bairro Aeroporto, matando dois tripulantes. A Polícia Civil e o Cenipa identificaram causas e responsáveis pelo acidente

Publicado em 30 de novembro de 2021 às 19:50

Ícone - Tempo de Leitura 3min de leitura

Polícia Civil concluiu as investigações sobre o acidente de avião que matou o piloto Luciano Ferreira Souza e o copiloto Fabiano Luiz Gonçalves, em fevereiro do ano passado, em Guarapari. O inquérito apontou duas falhas do comandante do voo: a omissão em efetuar a drenagem nos tanques de combustível e a decisão por continuar com a decolagem, apesar dos problemas no motor.

Ainda de acordo com a Polícia Civil, o equipamento "apresentou sinais de falha enquanto a aeronave percorria a parte inicial da pista" do Aeródromo de Guarapari. Neste cenário, a decolagem deveria ter sido abortada. Além disso, foi identificada falta de manutenção no bocal de entrada do tanque de combustível, "o que teria permitido a entrada de umidade e água no compartimento".

Área em que avião de pequeno porte caiu em Guarapari nesta quarta-feira (19)(Ascom | CBES)

As investigações foram feitas pela Delegacia Especializada de Investigações Criminais e Outras (Dipo) de Guarapari e concluídas no último dia 28 de outubro — cerca de 1 ano e oito meses após a queda do monomotor em galpões do bairro Aeroporto. Como o piloto morreu no acidente, a Polícia Civil sugeriu o arquivamento do caso ao Ministério Público do Espírito Santo (MPES).

PROBLEMAS APONTADOS PELO CENIPA

Sem o objetivo de apontar culpados, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) também realizou uma investigação para identificar quais atitudes ou problemas contribuíram para o acidente. O relatório final foi concluído no dia 8 de julho deste ano. Abaixo, você confere os principais fatores que levaram à queda do avião em Guarapari, segundo o órgão:

  • 01

    Falta de manutenção

    Apesar da inspeção de "50 horas" realizada em Juiz de Fora (MG) por um mecânico habilitado e dos voos anteriores não terem apresentado problemas, foi relatado que as vedações dos bocais dos tanques de combustível apresentavam "sinais evidentes de desgaste", sendo que um deles estava "praticamente sem vedação entre o bocal e a respectiva tampa". A situação configura uma possível falha nas ações de manutenção, "haja vista que se trata de um tipo de desgaste progressivo".

  • 02

    Preparação subestimada

    De acordo com o relato de uma testemunha, os pilotos realizaram alguns voos na região nos dias anteriores ao acidente e tinham o costume de apenas retirarem a capa do motor e os bloqueios das entradas de ar, "deixando de efetuar os procedimentos previstos na inspeção de pré-voo estabelecidos no manual da aeronave, dentre os quais, a drenagem dos tanques de combustível".

  • 03

    Falha no motor

    Desde o início, o voo foi presenciado por dois funcionários do Aeródromo de Guarapari. Ambos afirmaram que "a aeronave deu sinais claros de falha do motor já durante a decolagem". Quando o avião já estava fora do solo, eles relataram "variação do ruído produzido pelo motor, evidenciando perda abrupta de potência". O motor, então, passou a acelerar e apresentar falhas de forma alternada, evidenciando que "a aeronave decolou em condições precárias".

  • 04

    Decisão equivocada

    Em casos de falha de motor durante a decolagem na pista 6 do Aeródromo de Guarapari, o procedimento informal preconizado é fazer uma curva suave à esquerda, se dirigindo para um setor com menos edificações e algumas áreas descampadas, "proporcionando melhores condições para a realização de um pouso de emergência bem-sucedido". No entanto, o piloto efetuou uma curva acentuada para a direita — procedimento, este, que configurou "uma decisão equivocada".

  • 05

    Combustível contaminado

    No local do acidente, junto aos destroços, foram coletadas amostras do combustível para serem analisadas em laboratórios do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial. O resultado apontou a presença de água e de um polímero fluorado. Ou seja, "evidenciou que o combustível estava, de fato, contaminado". Dessa forma, ele pode ter entrado nas linhas de alimentação do motor e provocado as falhas de funcionamento.

O que causou queda de avião que matou duas pessoas em Guarapari
Avião teria apresentado problema no motor após a posição da biruta; imagem ajuda a entender a dinâmica do acidente
Avião teria apresentado problema no motor após a posição da biruta; imagem ajuda a entender a dinâmica do acidente. (Reprodução | Cenipa)

No relatório final do Cenipa também consta que a aeronave ficava no pátio de manobras, exposta às chuvas intensas dos dias anteriores — fato que pode ter colaborado para a entrada de água no tanque de combustível, apesar das condições meteorológicas propícias ao voo no dia do acidente.

Aspas de citação

A conjunção desses fatores pode ter promovido a perda de potência ou até mesmo o apagamento do motor do PT-AOP, quando da decolagem do aeródromo

Cenipa
Trecho do relatório final sobre o acidente
Aspas de citação

Antes de falecer, o piloto da aeronave também teria dito, a duas pessoas que prestaram os primeiros socorros a ele, que o avião apresentou falha de suprimento de combustível para o motor e tentou reacendê-lo. "Sendo essa, portanto, a conclusão a ser considerada", afirmou o órgão.

Componente de Arquivos & Anexos Arquivos & Anexos

Relatório final do Cenipa

Acidente aéreo com o avião de matrícula PT-AOP, em Guarapari (ES), no dia 19 de fevereiro de 2020

Tamanho de arquivo: 1017kb

RELEMBRE O CASO

O plano de voo feito junto à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) indicava que o piloto Luciano Ferreira Souza e o copiloto Fabiano Luiz Gonçalves sairiam do Aeródromo de Guarapari e pousariam no Aeroporto Eurico de Aguiar Sales, em Vitória. No entanto, a aeronave caiu logo após a decolagem.

Luciano à esquerda; Fabiano à direita | Vítimas de acidente aéreo em Guarapari
O piloto Luciano à esquerda; e o copiloto Fabiano à direita são as vítimas do acidente aéreo em Guarapari. (Redes Sociais)

Na queda, o monomotor modelo Cherokee 180 atingiu dois galpões do bairro Aeroporto, a cerca de 145 metros da pista. Nos estabelecimentos, trabalhavam cerca de 100 pessoas. Na época, o proprietário Thiago Taves contou que duas chegaram a ficar presas na parte de cima do galpão.

Em decorrência do acidente em 19 de fevereiro de 2020, o copiloto do avião morreu ainda no local. Já o piloto chegou a ser socorrido com 80% do corpo queimado para o Hospital Estadual Doutor Jayme dos Santos Neves, na Serra, mas não resistiu aos ferimentos e faleceu na manhã do dia seguinte (20).

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