Em meio à história do crime brutal praticado contra a menina Araceli Cabrera Crespo — drogada, torturada, estuprada e morta há 50 anos —, um questionamento sempre vem à tona: o que dois dos três acusados pela morte, que depois foram absolvidos pela Justiça, têm a ver com a Avenida Dante Michelini, uma das principais vias de Vitória?
O nome do trecho na Orla de Camburi foi uma homenagem a Dante Michelini, empresário que foi pai e avô de Dante de Barros Michelini e seu filho, Dante Brito Michelini (Dantinho), investigados pelo assassinato da menina, que só tinha 8 anos, em 18 de maio de 1973, quando desapareceu e foi encontrada morta dias depois, próxima ao Hospital Infantil.
O patriarca (avô), que não tinha nenhum outro sobrenome, foi o homenageado e passou a identificar a avenida da Capital porque foi o responsável em doar o terreno para a pavimentação.
Dante Michelini (avô) morreu em 13 de janeiro de 1965 e, conforme registros da época, todo o comércio localizado ao longo do percurso feito pelo cortejo fúnebre, no Centro de Vitória, Vila Rubim e Santo Antônio, fechou as portas em reverência, porque Dante Michelini era um empresário de destaque no Espírito Santo.
Dois anos mais tarde, em janeiro de 1967, a Prefeitura de Vitória sancionou um decreto da Câmara Municipal denominando Avenida Dante Michelini, o trecho da ponte "Prefeito Ceciliano Abel de Almeida" (ponte de Camburi) até o cais de Tubarão, antes chamado de Avenida Beira-Mar. Essa homenagem, na forma da Lei 1.701/67, foi concedida tanto porque o empresário teve relevância na economia capixaba quanto pelo fato de ter cedido parte de terrenos da orla, de sua propriedade, para que fosse feita a avenida.
A homenagem, portanto, foi concedida seis anos antes de Araceli desaparecer, ser violentada e morta. Dessa maneira, não se pode afirmar que se tratou de um prêmio para Dante de Barros Michelini e seu filho, Dante Brito Michelini (Dantinho), acusados de envolvimento no crime.
Por outro lado, mesmo com a absolvição dos dois pela Justiça, o incômodo pelo nome da família permanecer em evidência, identificando importante via da cidade, já provocou protestos para que a avenida passasse a ser chamada de Araceli.
Em 2017, a Prefeitura de Vitória inaugurou o viaduto, no final da Dante Michelini, com um memorial dedicado à menina. A estrutura também foi nomeada como Viaduto Araceli Cabrera Crespo.
Pouco depois, a Câmara Municipal publicou uma enquete no Facebook com a intenção de saber a opinião dos moradores da Capital sobre a mudança no nome da avenida. Somente no primeiro dia de consulta, mais de 700 pessoas se manifestarem e 93% votaram pela mudança.
O ex-vereador Roberto Martins chegou a propor a realização de um plebiscito para alteração de denominações de vias públicas, como a da orla de Camburi. Contudo, no início de 2018, o ex-prefeito Luciano Rezende vetou o projeto e os vereadores mantiveram a decisão do Executivo.
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