Embora considerem raros os casos de grávidas que apresentem efeitos colaterais graves após a imunização contra a Covid-19 com a Astrazeneca, médicos capixabas consideram prudente a decisão de suspender a vacinação deste grupo com o imunizante da Fiocruz. No entanto, eles reforçam que as gestantes devem ser imunizadas com outra marca em decorrência do alto risco oferecido pela doença.
A Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo (Sesa) decidiu acatar a recomendação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e determinou a suspensão imediata do uso da vacina Astrazeneca/Fiocruz em mulheres gestantes. Em nota, a Sesa informou que todos os municípios já foram informados sobre a nova orientação.
A recomendação da Anvisa foi publicada nesta segunda-feira (10). Em nota para a imprensa, o órgão informou que a indicação da bula da vacina Astrazeneca seja seguida pelo Programa Nacional de Imunização (PNI). “Esta recomendação é resultado do monitoramento de eventos adversos feito de forma constante sobre as vacinas contra Covid em uso no país”, informam.
A nota da Anvisa explica ainda que o uso das doses da Astrazeneca em situações não previstas na bula “só deve ser feito mediante avaliação individual por um profissional de saúde que considere os riscos e benefícios da vacina para a paciente”.
A bula atual desta vacina não recomenda o uso por gestantes sem orientação médica.
O infectologista Paulo Peçanha considera a decisão de suspender a vacinação das grávidas com a Astrazeneca prudente, mas recomenda que as gestantes sejam vacinadas contra a Covid-19, considerando o elevado risco da doença.
Segundo o infectologista, no Espírito Santo já existem vários registros de grávidas que apresentaram complicações mais sérias após terem contraído a Covid-19. “Há eventos adversos, raros, mas o nosso problema é a Covid-19 na gravidez, com prematuridade e complicações sérias para a mãe, necessitando de UTI e tendo casos de óbitos maternos com relativa frequência”, destaca.
O médico aponta que no Brasil já existem opções de vacinas mais seguras, como a Coronavac e a da Pfizer. “A do Butantan, por exemplo, é com vírus inativado, semelhante a outras vacinas que existem no calendário de vacinação das grávidas. O importante é que a grávida seja imunizada porque os riscos da Covid superaram em muito os riscos que possam ser atribuído ao imunizante”, assinala.
A não utilização da Astrazeneca na imunização de mulheres abaixo de 40 anos e em gestantes já vinha sendo adotada em outros países. "No Brasil ela continuava sendo feita sem restrição considerando a nossa prevalência alta de Covid-19 e a raridade dos eventos adversos”, pondera.
A infectologista Rubia Miossi explica que a decisão da Anvisa ocorreu em decorrência do óbito de uma gestante com trombose após ser imunizada com a Astrazeneca. “Como a população de gestantes não tinha sido estudada, ao ocorrer um evento grave assim, o correto é mesmo suspender a utilização do imunizante para essa população até que tudo seja esclarecido”, destaca.
O caso está sendo investigado pelo Ministério da Saúde após ser notificado pelas secretarias de Saúde Municipal e Estadual do Rio de Janeiro. Trata-se de uma gestante carioca que teria apresentado problemas após a vacinação. Não há muitos detalhes sobre o caso.
O obstetra Otto Baptista relata que entre 10% a 15% das gestantes que atende em seu consultório e que foram imunizadas com a Astrazeneca apresentaram queixas de efeitos adversos da vacina. Dentre eles estão: mal-estar, cefaleia, dor intensa no local da aplicação da dose, mialgia (dores musculares) e febre.
“São as queixas mais frequentes das minhas pacientes, nos últimos 10 dias, após terem sido vacinadas. Mas estão bem, com a gravidez seguindo em ritmo normal”, informou.
Ele observa que a preocupação da Anvisa, ao suspender a imunização das gestantes com a Astrazeneca, foram com os sintomas que não aparecem, como o risco de trombos - entupimento de vasos sanguíneos, artérias ou veias .
"São as complicações com a circulação fetoplacentária, que é a trombose de pequenos vasos ao nível placentário, que afeta a circulação, a oxigenação e a nutrição para o feto, e compromete o desenvolvimento e o bem-estar do bebê”, explica.
Segundo Baptista, as grávidas são pacientes com tendência a desenvolverem trombose (entupimento) de pequenos vasos. “É uma tendência e, desta forma, é melhor retirar este grupo da imunização com a Astrazeneca”, pondera.
Por outro lado, assinala o obstetra, elas não devem ficar sem a imunização contra a Covid-19. “A vacinação não é o problema, que ocorreu apenas com uma marca”, destaca.
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