A chegada de novas doses da vacina contra o coronavírus ao Espírito Santo depende de uma série de fatores nacionais e internacionais. Isso porque a produção vem sendo atrapalhada devido à falta de insumos no país, a relação do Brasil com a China, a liberação de novos lotes pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), além dos desencontros do governo federal sobre o tema.
O Brasil tem mais de 211 milhões de habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE). Para imunizar toda a população brasileira, já é consenso entre os especialistas que não há como usar a fórmula apenas de um laboratório, já que a capacidade de produção das empresas é limitada.
A Anvisa liberou, no último domingo (17), o uso emergencial da fórmula da Universidade de Oxford em parceria com a AstraZeneca. No Brasil, ela será produzida em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Porém, nenhuma dose se encontra no país no momento.
Também foi aprovado o uso de um lote de seis milhões de doses da Coronavac, produzida pelo laboratório chinês Sinovac Biotech, em parceria com o Instituto Butantan. A quantidade de vacinas liberadas e disponíveis em solo brasileiro (6 milhões de doses) representa a imunização de apenas 1,69% da população brasileira (levando em conta as duas doses por pessoa).
Desse total, coube ao Espírito Santo cerca de 101 mil doses. Apenas cerca de 48 mil moradores do Estado serão vacinados. Por conta disso, o governo capixaba vem se articulando e já negocia com outros laboratórios na tentativa de agilizar a chegada de outros imunizantes ao Estado.
Em entrevista à CNN Brasil, na última segunda-feira (19), o governador Renato Casagrande (PSB) disse que a decisão do governo federal de comprar e distribuir todas as doses da Coronavac foi um passo importante, mas que isso não impede que o Estado negocie com outros laboratórios.
"Nós vamos continuar em contato com outros laboratórios que tenham aprovação da Anvisa e se a gente puder comprar para agilizar o plano estadual de imunização, nós faremos isso. Estamos felizes por estarmos começando com a coordenação do governo federal, mas se pudermos adiantar a vacinação no Espírito Santo, nós faremos. Até agora, não encontramos um fornecedor", afirmou Casagrande.
O governo brasileiro demorou para comprar vacinas contra a Covid-19. Em dezembro do ano passado, alguns países já tinham quantitativo mais do que suficiente para imunizar toda a população.
Como não há a garantia de que todas as vacinas testadas sejam aprovadas, diversos países decidiram apostar no máximo de opções possíveis, fazendo acordos com vários laboratórios. Mas o exemplo não foi seguido pelo Brasil.
Foi somente em dezembro do ano passado que o Ministério da Saúde começou a se movimentar para a compra de vacinas. De acordo com a pasta, a expectativa é de que sejam disponibilizadas em 2021 até 354 milhões de doses. O número é equivalente à imunização de 177 milhões de brasileiros (sendo que cada pessoa precisa tomar duas doses).
De acordo com o governo federal, este total deve ser formado por: 2 milhões de doses importadas da AstraZeneca, 10,4 milhões produzidas pela Fiocruz até mês de julho, 110 milhões fabricadas pela Fiocruz a partir de agosto, 42,5 milhões do mecanismo Covax Facility (consórcio firmado junto à Organização Mundial da Saúde (OMS), do qual o Brasil faz parte) e 100 milhões da Coronavac, oriundas do contrato com o Instituto Butantan.
O relacionamento do Brasil com outros países também vem agravando a situação. A produção de vacinas no Brasil depende exclusivamente da matéria-prima que vem da China, porém, a relação entre os países se mostrou conturbada nos últimos meses.
A princípio, o governo nacional se recusou a aceitar a ideia de usar a fórmula chinesa como opção de imunizante no país. No entanto, até que a importação da vacina da Oxford/AstraZeneca se desenrole, o Ministério da Saúde só terá a Coronavac para imunizar os brasileiros.
O Instituto Butantan, em São Paulo, tem capacidade de fazer um milhão de doses por dia da Coronavac. Mas, para chegar nessa quantidade de imunizantes, são necessários mil litros de vacina concentrada, exportados pela empresa chinesa Sinovac Biotech.
O contrato do Butantan com a Sinovac é de 46 milhões de doses e até o momento o país obteve 6 milhões. Na última segunda-feira (18), o Butantan enviou um novo pedido à Anvisa para o uso emergencial de 4,8 milhões de doses que estão sendo produzidas pelo instituto, em São Paulo. Porém, a continuação dessa produção esbarra na falta de matéria-prima vinda da China.
De acordo com o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, ao jornal Correio Braziliense, há dificuldades para que o governo chinês autorize a exportação do insumo para o Brasil. “Essa matéria-prima já está produzida, já está disponível na Sinovac desde meados deste mês, e aguardamos agora essa autorização, que na minha percepção, após autorização da Anvisa, facilitará essa decisão do governo”, disse ao jornal.
Segundo Covas, se a matéria-prima não chegar até o fim do mês, a produção poderá ter que ser interrompida. O mesmo ocorrerá com a vacina produzida pela Fiocruz, já que a matéria-prima utilizada por ela também vem da China.
O Brasil também importaria um lote de dois milhões de doses da vacina da Universidade de Oxford, na Inglaterra, em parceria com o laboratório AstraZeneca, que foram produzidas na Índia pelo laboratório Serum Institute.
Porém, uma política de protecionismo regional fez com que a Índia priorizasse a exportação para países vizinhos, excluindo o Brasil, o que frustrou os planos do governo brasileiro.
Nesta terça-feira (19), a Índia anunciou que começará a exportar vacinas contra a Covid-19 para Butão, Maldivas, Bangladesh, Nepal, Mianmar e Seychelles.
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