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O relato de capixaba que ficou 39 minutos sem batimentos cardíacos

O relato de capixaba que ficou 39 minutos sem batimentos cardíacos

Roque Wudson, de 53 anos, sentia um formigamento no braço e estava com a pressão alta. Ele ficou internado na UTI por 10 dias, até a alta neste mês

Publicado em 27 de junho de 2022 às 16:12

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O casal voltou a se encontrar com o médico responsável pelo atendimento no dia 13 de maio
Roque e o médico responsável pela reanimação no dia 13 de maio. (Arquivo pessoal)

Imagine sair de casa para concretizar o sonho de uma filha em outra cidade e voltar somente 28 dias depois, após um período de internação, com intubação e UTI. Foi o que aconteceu com o policial civil aposentado Roque Wudson, de 53 anos, que sofreu um infarto, duas paradas cardíacas e ficou 39 minutos sem batimentos, na Unidade de Saúde de Andorinhas, em Vitória. Agora se recuperando em casa, ele conversou com A Gazeta. "Eu devo a minha vida à equipe médica", relata.

Roque, os familiares e a equipe médica ainda tentam entender o que aconteceu naquele dia 13 de maio, quando ele e a esposa, Andreia Lopes, saíram de São Mateus e seguiram para Vitória para entregar documentos da filha, que havia sido aprovada em um concurso público da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

Os sintomas surgiram durante a entrega dos documentos e eram inéditos. Em poucos minutos e com a ajuda de um GPS, eles chegaram a uma unidade de saúde desconhecida até aquela sexta-feira. A busca por atendimento médico e a equipe encontrada no local foram essenciais, na avaliação da diretora da unidade de saúde, para que hoje ele estivesse vivo.

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Aquela semana toda eu apaguei. Não lembro de ter entrado no posto de saúde, não lembro de ter sido atendido. Só sei que acordei na UTI do Hucam. Daquele dia, lembro pouca coisa. Sei que na véspera fomos para Vitória e que estávamos em um hotel. Depois disso, apagou a memória

Roque Wudson
Policial civil aposentado
Aspas de citação

Andreia fez questão de ir ao local para aferir a pressão de Roque. Apesar de não ter relatado dores no peito, o aposentado estava com o braço formigando e suando além do normal. Ele chegou a se alimentar durante a manhã, pensando que poderia ser fome. A esposa conta que foi a um supermercado comprar alguns alimentos. Após comer, Roque continuou reclamando de uma indisposição incomum.

"Ele estava bem, estava ótimo. Mas chegou uma hora que ele disse que estava passando mal. Sei que ele come um lanche no meio da manhã, por isso comprei comida. Mas aquilo não passava, ele dizia que não estava melhorando. Botamos no GPS e deu esse postinho", detalha.

De acordo com a diretora da Unidade de Saúde de Andorinhas, Luciana Malini, foi a rapidez no atendimento que evitou um cenário ainda pior. Ela relata que o paciente estava com uma pressão de 18 por 11. Durante o atendimento, Roque teve três paradas cardíacas.

Quem relata o susto é a esposa do paciente. Ela disse que, naquele momento, Roque estava tremendo e com os olhos revirados.

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Em determinado momento o Roque disse que estava melhorando, mas eu insisti para ficar. Disse para ele que marcaria uma consulta com um cardiologista, porque a pressão nunca esteve tão alta. Quando eu falei bom dia com a atendente, ele teve uma convulsão. Ele tremeu todo e virou os olhos. Joguei bolsa e celular tudo no chão, saí correndo pra buscar um médico

Adreia Lopes
Microempresária
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Andreia conta que o médico chegou em poucos segundos. Mas foram minutos de desespero e apreensão. "Alguns falam 35, outros falam que foram 39 minutos de parada cardíaca. Mas foram muitos minutos", diz.

A diretora Luciana Malini afirma que foram 39 minutos até que o aposentado fosse estabilizado para então ser levado a um hospital. Depois do atendimento inicial, reunindo dois médicos, outros profissionais da saúde e estudantes em período de estágio, Roque foi encaminhado ao Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam).

Entre os dias 13 de maio e 11 de junho, foram 28 dias fora de casa e buscando uma melhora do estado de saúde. Durante o período, ele ficou 10 dias na UTI. Em 5 deles, intubado.

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Eles foram tirando os aparelhos gradualmente e diminuindo a sedação. Quando eu estava mais lúcido, um médico me explicou tudo. Foi um choque saber que tive três paradas cardíacas e quase morri, mas estava ali ainda

Roque Wudson
Policial civil aposentado
Aspas de citação

UM INFARTO, DUAS PARADAS E 39 MINUTOS SEM BATIMENTOS

Roque chegou ao local com sintomas comuns em casos de parada cardíaca. Durante o atendimento médico, ele sofreu um infarto e duas paradas cardíacas. O aposentado ficou 39 minutos sem batimentos cardíacos. A primeira parada durou 36 minutos. Ele se recuperou, mas voltou a sofrer uma segunda parada cardíaca — foram mais três minutos sem resposta.

De acordo com o médico Jorge Lacerda, responsável pelo atendimento, foram duas horas de atenção ao paciente, até ele ser levado ao Hucam. Quem também participou do atendimento foi o médico Ronan Carneiro.

"Pelos sinais clínicos, ele me pareceu um paciente muito grave., com potencial de agravar muito rapidamente. A tentativa foi muito rápida de reanimá-lo. Ele tinha sudorese, palidez, desorientação", detalha o clínico geral Jorge Lacerda.

O QUE É UMA PARADA CARDÍACA?

A parada cardiorrespiratória, conhecida popularmente por parada cardíaca, acontece quando a pessoa para de respirar e o coração também para de bater, fazendo com que o sangue não chegue a todos os órgãos do corpo e colocando a vida em risco. A interrupção da corrente, segundo explica o médico Jorge Lacerda, acontece ao longo do tempo, resultando no infarto.

"MELHOR A CADA DIA", DIZ ROQUE

Antes das paradas cardíacas, Roque tomava remédio para controlar a pressão. Era um cuidado preventivo, considerando o histórico familiar, de parentes que tiveram problemas mais sérios e precisaram até de cirurgia. Aposentado, com 53 anos, sem histórico de cigarro ou de bebida alcoólica, ele tenta retomar a rotina.

O casal voltou a se encontrar com o médico responsável pelo atendimento no dia 13 de maio(Arquivo pessoal)

"Ainda não voltei para rotina. Estou em recuperação, quero dar tempo ao tempo. O corpo ainda estava um pouco fraco, mas me sinto melhor a cada dia", afirma.

De acordo com a esposa, Roque foi medicado com antibiótico por 14 dias e ainda precisou fazer hemodiálise por três semanas.

SENTIMENTO DE GRATIDÃO À EQUIPE MÉDICA DE ANDORINHAS E DO HUCAM

Depois de 40 dias, Roque reencontrou a equipe da Unidade de Saúde de Andorinhas. A ida ao local, com flores e abraços, foi para agradecer o que foi feito desde 13 de maio. O sentimento é de uma vida salva com trabalho coletivo, ele conta. Ao final, a família convidou todos da unidade para o casamento da filha em São Mateus, como forma de agradecimento. "Eu devo a minha vida à equipe médica. Os profissionais foram excepcionais", acrescenta.

O casal voltou a se encontrar com o médico responsável pelo atendimento no dia 13 de maio
O casal voltou a se encontrar com o médico responsável pelo atendimento no dia 13 de maio. (Arquivo pessoal)

Andreia compartilha o sentimento de gratidão. Lembra que a diretora da unidade faz contato diário desde então para saber sobre Roque. "Foi uma benção. Até chá fizeram para me acalmar."

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