Imagine sair de casa para concretizar o sonho de uma filha em outra cidade e voltar somente 28 dias depois, após um período de internação, com intubação e UTI. Foi o que aconteceu com o policial civil aposentado Roque Wudson, de 53 anos, que sofreu um infarto, duas paradas cardíacas e ficou 39 minutos sem batimentos, na Unidade de Saúde de Andorinhas, em Vitória. Agora se recuperando em casa, ele conversou com A Gazeta. "Eu devo a minha vida à equipe médica", relata.
Roque, os familiares e a equipe médica ainda tentam entender o que aconteceu naquele dia 13 de maio, quando ele e a esposa, Andreia Lopes, saíram de São Mateus e seguiram para Vitória para entregar documentos da filha, que havia sido aprovada em um concurso público da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
Os sintomas surgiram durante a entrega dos documentos e eram inéditos. Em poucos minutos e com a ajuda de um GPS, eles chegaram a uma unidade de saúde desconhecida até aquela sexta-feira. A busca por atendimento médico e a equipe encontrada no local foram essenciais, na avaliação da diretora da unidade de saúde, para que hoje ele estivesse vivo.
Andreia fez questão de ir ao local para aferir a pressão de Roque. Apesar de não ter relatado dores no peito, o aposentado estava com o braço formigando e suando além do normal. Ele chegou a se alimentar durante a manhã, pensando que poderia ser fome. A esposa conta que foi a um supermercado comprar alguns alimentos. Após comer, Roque continuou reclamando de uma indisposição incomum.
"Ele estava bem, estava ótimo. Mas chegou uma hora que ele disse que estava passando mal. Sei que ele come um lanche no meio da manhã, por isso comprei comida. Mas aquilo não passava, ele dizia que não estava melhorando. Botamos no GPS e deu esse postinho", detalha.
De acordo com a diretora da Unidade de Saúde de Andorinhas, Luciana Malini, foi a rapidez no atendimento que evitou um cenário ainda pior. Ela relata que o paciente estava com uma pressão de 18 por 11. Durante o atendimento, Roque teve três paradas cardíacas.
Quem relata o susto é a esposa do paciente. Ela disse que, naquele momento, Roque estava tremendo e com os olhos revirados.
Andreia conta que o médico chegou em poucos segundos. Mas foram minutos de desespero e apreensão. "Alguns falam 35, outros falam que foram 39 minutos de parada cardíaca. Mas foram muitos minutos", diz.
A diretora Luciana Malini afirma que foram 39 minutos até que o aposentado fosse estabilizado para então ser levado a um hospital. Depois do atendimento inicial, reunindo dois médicos, outros profissionais da saúde e estudantes em período de estágio, Roque foi encaminhado ao Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam).
Entre os dias 13 de maio e 11 de junho, foram 28 dias fora de casa e buscando uma melhora do estado de saúde. Durante o período, ele ficou 10 dias na UTI. Em 5 deles, intubado.
Roque chegou ao local com sintomas comuns em casos de parada cardíaca. Durante o atendimento médico, ele sofreu um infarto e duas paradas cardíacas. O aposentado ficou 39 minutos sem batimentos cardíacos. A primeira parada durou 36 minutos. Ele se recuperou, mas voltou a sofrer uma segunda parada cardíaca — foram mais três minutos sem resposta.
De acordo com o médico Jorge Lacerda, responsável pelo atendimento, foram duas horas de atenção ao paciente, até ele ser levado ao Hucam. Quem também participou do atendimento foi o médico Ronan Carneiro.
"Pelos sinais clínicos, ele me pareceu um paciente muito grave., com potencial de agravar muito rapidamente. A tentativa foi muito rápida de reanimá-lo. Ele tinha sudorese, palidez, desorientação", detalha o clínico geral Jorge Lacerda.
A parada cardiorrespiratória, conhecida popularmente por parada cardíaca, acontece quando a pessoa para de respirar e o coração também para de bater, fazendo com que o sangue não chegue a todos os órgãos do corpo e colocando a vida em risco. A interrupção da corrente, segundo explica o médico Jorge Lacerda, acontece ao longo do tempo, resultando no infarto.
Antes das paradas cardíacas, Roque tomava remédio para controlar a pressão. Era um cuidado preventivo, considerando o histórico familiar, de parentes que tiveram problemas mais sérios e precisaram até de cirurgia. Aposentado, com 53 anos, sem histórico de cigarro ou de bebida alcoólica, ele tenta retomar a rotina.
"Ainda não voltei para rotina. Estou em recuperação, quero dar tempo ao tempo. O corpo ainda estava um pouco fraco, mas me sinto melhor a cada dia", afirma.
De acordo com a esposa, Roque foi medicado com antibiótico por 14 dias e ainda precisou fazer hemodiálise por três semanas.
Depois de 40 dias, Roque reencontrou a equipe da Unidade de Saúde de Andorinhas. A ida ao local, com flores e abraços, foi para agradecer o que foi feito desde 13 de maio. O sentimento é de uma vida salva com trabalho coletivo, ele conta. Ao final, a família convidou todos da unidade para o casamento da filha em São Mateus, como forma de agradecimento. "Eu devo a minha vida à equipe médica. Os profissionais foram excepcionais", acrescenta.
Andreia compartilha o sentimento de gratidão. Lembra que a diretora da unidade faz contato diário desde então para saber sobre Roque. "Foi uma benção. Até chá fizeram para me acalmar."
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