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Obra do Cais das Artes está atrasada e pode não terminar no prazo

Obra do Cais das Artes está atrasada e pode não terminar no prazo

O Tribunal de Contas afirma que o descompasso no cronograma para a execução do projeto, iniciada em 2010 e interrompida mais de uma vez, pode comprometer novamente a entrega do espaço

Publicado em 17 de fevereiro de 2025 às 19:51- Atualizado há 2 meses

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Trabalhadores fazem manutenção no Cais das Artes
Trabalhadores fazem manutenção no Cais das Artes. (Fernando Madeira)

As obras do Cais das Artes, em Vitória, estão atrasadas e podem não ter o cronograma cumprido dentro do prazo previsto no acordo de retomada do empreendimento, firmado em junho de 2023, entre o Departamento de Edificações e de Rodovias do Espírito Santo (DER-ES) e o Consórcio Andrade Valladares (Topus).

É o que afirma decisão do Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo (TCE-ES), que determina ao DER-ES a obrigação de, em 15 dias, estabelecer e encaminhar à Corte o cronograma com o efetivo início de atuação da Coordenação Executiva de Obras Estruturantes e Prioritárias (CEOE-III), de forma a adotar os prazos estabelecidos na reprogramação para a execução das etapas da obra.

Com relatoria do conselheiro Davi Diniz, o acórdão é resultado de uma Tomada de Contas Especial Instaurada e foi revelado nesta segunda-feira (17). A decisão colegiada aponta que o "andamento da obra, prevista para ser entregue em janeiro de 2026, está em descompasso em relação ao cronograma físico" apresentado pelo governo do Estado, além de trazer o seguinte cenário:

"Das informações retiradas das análises técnicas relatadas nos autos, é possível constatar que, até 30/09/2024, o avanço físico (realizado) ficou em torno de 4,83%, contra a previsão do cronograma, já revisada (reprogramada), de 17,27%." O dado é resultado de análise técnica realizada pelo TCE.

Obra do Cais das Artes está atrasada e pode não terminar no prazo

O Tribunal de Contas, no voto do relator, ainda afirma que o descompasso no cronograma das obras no Cais das Artes "enseja potencial risco quanto ao alcance da conclusão de todo o empreendimento no prazo originalmente previsto". 

Por meio de nota, o DER-ES informa que a Coordenação Executiva de Obras Estruturantes e Prioritárias (CEOE-III) foi criada em 26 de novembro de 2024 e, desde então, foram tomadas diversas providências para acelerar o andamento das obras do Cais das Artes. Confira a íntegra no fim do texto.

Na decisão, também é destacado que o consórcio com o qual o Executivo estadual firmou acordo de retomada das obras em 2023 já externava, em documento que integra o processo de acompanhamento das obras do Cais das Artes pelo TCE, "preocupação acerca de possíveis impactos no cronograma inicialmente acordado". A manifestação do consórcio nesse sentido teria ocorrido em junho do ano passado.

 DER citou minuta de decreto em justificativa ao Tribunal

Ao ser questionado sobre os atrasos no cronograma físico de execução das obras do Cais das Artes, em novembro de 2024, o DER respondeu à área técnica do TCE com a justificativa de que havia sido determinada a alteração na estrutura organizacional do órgão visando à criação da Coordenação Executiva de Obras Estruturantes e Prioritárias (CEOE-III). 

A criação desse núcleo, por meio de uma minuta de decreto, conforme o DER em sua resposta ao tribunal, seria "capaz e suficiente para atender a necessidade de aceleração do ritmo da obra sob acompanhamento".

No entanto, os auditores do tribunal constataram, em despacho da Diretoria Setorial de Obras de Edificações (Dired), ligada ao DER, que a minuta citada pela autarquia "ainda estaria em estágio embrionário".

Aspas de citação

Contudo, compreendo que, mesmo com todo este cabedal de boas intenções, não é possível vislumbrarmos qualquer impacto imediato no andamento da obra, dado o estado ainda embrionário de tal medida, inclusive sem prazo estabelecido para a sua completa implementação.

Trecho do acórdão do Tribunal de Contas, publicado nesta segunda-feira (17)
Aspas de citação

Demora no envio de informações sobre andamento das obras

Além de descompasso no cronograma visando ao andamento e à conclusão das obras do Cais das Artes, o acórdão do Tribunal de Contas também chama a atenção ao fato de o DER não estar cumprindo acerto feito com a Corte em maio de 2024.

Na ocasião, ficou acordado que o tribunal passaria a acompanhar a continuidade dos trabalhos no empreendimento em tempo real, sendo auxiliado por relatórios que, a princípio, seriam repassados pelo DER. A troca de informações entre os dois órgãos, entretanto, não tem ocorrido como o esperado, segundo ressaltado no voto de Davi Diniz.

Aspas de citação

Diversas dificuldades operacionais e administrativas, identificadas logo no início do ciclo de fiscalização, levaram mais de oito meses para serem oficialmente relatadas. Esse lapso de tempo revela uma fragilidade nos mecanismos de monitoramento e comunicação, comprometendo a agilidade necessária para a adoção de medidas corretivas.

Trecho do acórdão do Tribunal de Contas, publicado nesta segunda-feira (17)
Cargo do Autor
Aspas de citação

Ao final de seu voto, acompanhado pelos demais conselheiros do TCE, Davi Diniz pede para que o DER adote os "prazos estabelecidos na reprogramação para a execução das etapas macro da obra (quais sejam recuperação e execução do saldo contratual), de modo que seja atingido, o prazo de conclusão acordado".

Investimento milionário e obra parada por quase uma década

A obra do Cais das Artes começou oficialmente em 2010, no fim do segundo mandato do então governador Paulo Hartung. O investimento total seria de R$ 115 milhões. A previsão inicial de entrega do empreendimento era para 2012, mas uma série de contratempos e judicializações resultou no atraso da obra.

Em 2013, um novo contrato foi firmado para continuidade das obras. Porém, em 2015, foram constatadas irregularidades na execução do projeto, inclusive com pagamentos indevidos. Já em 2023, oito anos depois da paralisação e dois anos após a morte do arquiteto Paulo Mendes da Rocha (autor do projeto), Casagrande anunciou a retomada diante do acordo judicial com o consórcio Andrade Valladares - Topus, prometendo a entrega do espaço até janeiro de 2026.

À época, o governo do Estado divulgou que seriam desembolsados R$ 183 milhões para as operações, sendo R$ 20 milhões para recuperação e limpeza do canteiro de obras e R$ 163 milhões para as demais atividades. Até ali, já haviam sido pagos R$ 56 milhões à Santa Bárbara, primeira empresa que executou a obra, e outros R$ 76 milhões destinados para o Consórcio Andrade Valladares - Topus para a parte do projeto que foi executada até a paralisação de 2015.

O desenho original do complexo cultural prevê um teatro com 600 metros quadrados, que deve comportar 1,3 mil lugares, e um museu com espaço de 2,3 mil metros quadrados. Além disso, o Cais das Artes deve contar com um auditório para 225 pessoas, salas de exposições, biblioteca, cantina, recepção, cafeteria e espaços para espetáculos e exposições ao ar livre.

O que diz o DER-ES sobre a decisão do Tribunal

Procurado para mais informações sobre os fatos constatados pela área técnica do Tribunal de Contas, bem como a respeito das determinações impostas pelo órgão de fiscalização, o Departamento de Edificações e de Rodovias do Espírito Santo (DER-ES) informou, nesta terça-feira (18), que a Coordenação Executiva de Obras Estruturantes e Prioritárias (CEOE-III) foi criada em 26 de novembro de 2024 e, desde então, foram tomadas diversas providências para acelerar o empreendimento, entre elas a consolidação do primeiro aditivo de saldo do contrato, com serviços essências para o andamento da obra, que requer atualizações, bem como imperioso as revisões dos projetos, por meio das consultorias que também foram inseridas, para possível conclusão das obras e instalações previstas.

O DER-ES ainda acrescenta que foram contratadas as revisões/adequações de projetos cenotécnicos, áudio, vídeo, luminotécnico, caixilhos, acústica, arquitetura e elétrica. 

Íntegra da nota do DER-ES

"O Departamento de Edificações e de Rodovias do Espírito Santo (DER-ES) informa que a Coordenação Executiva de Obras Estruturantes e Prioritárias (CEOE-III) foi criada em 26 de novembro de 2024 e, desde então, foram tomadas diversas providências para acelerar o empreendimento, entre elas a consolidação do primeiro aditivo de saldo do contrato, com serviços essências para o andamento da obra, que requer atualizações, bem como imperioso as revisões dos projetos, por meio das consultorias que também foram inseridas, para possível conclusão das obras e instalações previstas.

Foram contratadas as revisões/adequações de projetos cenotécnicos, áudio, vídeo, luminotécnico, caixilhos, acústica, arquitetura e elétrica. Foram concluídas as revisões dos quadros de energia e circuitos do Museu/Anexo, além disso foi concluída a revisão da subestação do Museu. Atualmente está sendo atualizada a subestação do Teatro. Após esta etapa será revisado os projetos de SPDA e Aterramento, e na sequência dos projetos de cabeamento estruturado e automação.

As revisões dos projetos de cenotécnico, áudio, vídeo, luminotécnico, caixilho e acústica foram iniciadas com previsão de entrega da primeira leva de definições programada para este mês de fevereiro/2025 (definições do Ed. Anexo e Museu). A segunda entrega está programada para março/2025 com as definições do teatro.

Na parte da arquitetura, o escritório de arquitetura tem sido acionado na medida que surgem dúvidas técnicas ou necessidade de detalhamento de serviços. Também foi feita consultoria de impermeabilização, incêndio e estrutural. Essas consultorias foram contratadas e estão sendo realizadas na medida do avanço dos serviços na obra. Já na questão de ar condicionado, foi iniciada a contratação de consultor na área de mecânica para acompanhamento dos serviços de recuperação dos equipamentos de ar condicionado que começaram a ser restaurados. Além disso, o DER-ES informa que o próprio Tribunal de Contas do Espírito Santo (TCES) vem fazendo uma auditoria rotineira à obra".

Errata Atualização
18 de fevereiro de 2025 às 16:19

O texto foi atualizado com nota enviada pelo DER-ES.

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