No início da pandemia, o conceito de imunidade de rebanho foi apresentado aos brasileiros. Acreditava-se que pessoas contaminadas pela Covid-19 ficavam imunes a novas infecções. Porém, o tempo e a aparição de novas variantes mostraram que essa não era uma boa estratégia de saúde pública. Como já foi comprovado, já ter tido infecção do coronavírus não impede uma pessoa de contrair novamente a doença, e com a circulação da variante Ômicron as chances são ainda maiores.
Os dados citados pela doutora em Epidemiologia e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Ethel Maciel são da agência britânica, UK Health Security Agency, que monitora o avanço da variante Ômicron. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já afirmou que essa nova cepa do coronavírus é mais transmissível que a original.
O Espírito Santo vive um aumento de casos que, segundo a Secretaria de Estado da Saúde, são predominantemente causados pela nova variante. Nesta quarta-feira (26), o Estado alcançou um patamar inédito, este mês de janeiro já acumula quase 150 mil casos – o equivalente a 19% do total contabilizado desde o início da pandemia.
Ainda não há dados que mostram quantos desses casos são reinfecções. Mas nas clínicas e hospitais, os médicos já observam que as reinfecções em pacientes que já tiveram Covid-19 estão aumentando. É o que afirma o médico infectologista Crispim Cerutti Junior.
“Os casos de reinfecção têm aumentado muito, devido a alta transmissão da Ômicron. Ela é mais contagiosa sim. Estamos vendo pacientes se contaminando duas e até três vezes no Estado, com poucos meses de intervalo”, relata.
RISCOS DA REINFECÇÃO
Em dezembro de 2020, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) observaram que pacientes que tiveram casos leves na primeira infecção tinham mais chances de desenvolver casos mais graves quando reexpostos ao vírus. Mas a reinfecção de Covid-19 pela variante Ômicron tem se mostrado diferente.
O primeiro fator que diferencia a reinfecção é a própria característica da variante. “Com as outras variantes os casos tiveram uma piora na evolução. Já com a Ômicron, não se tem observado esse agravamento das reinfecções”, afirma Crispim.
Ethel explica que os sintomas são muito parecidos com uma síndrome gripal. “Os sintomas mais relatados são coriza, nariz entupido, uma dor na garganta, aquela sensação que a garganta está arranhando, e tosse”, afirma.
Outro fator determinante para a diminuição dos riscos de infecção é a vacinação. O Espírito Santo já aplicou 7 milhões de doses da vacina, de acordo com o Painel Vacinação, da Secretaria da Saúde de Estado (Sesa). Avanço que mostra resultados no número de hospitalização, que não tem aumentando no mesmo ritmo que as novas infecções.
“Em geral, para as pessoas que estão vacinadas, há uma proteção maior contra a gravidade da doença pela variante Ômicron. Então (o paciente) apresenta uma síndrome gripal, mas não tem uma evolução para um caso de maior gravidade”, explica Ethel.
A vacinação também impede as sequelas, como falta de ar, fraqueza, fadiga e dificuldade de concentração e memória, nos casos de reinfecção. “Pessoas vacinadas também têm menos chances de desenvolver o que chamamos de Covid longa, com sequelas ou sintomas persistentes”, explica Ethel.
Apesar dos riscos menores por uma reinfecção pela Ômicron, Crispim alerta que os cuidados devem permanecer. “Não é porque os riscos são menores, que os casos não podem evoluir para uma internação. As pessoas não podem achar que porque se infectaram uma vez estão mais seguras. Máscara, distanciamento social e higienização das mãos ainda são medidas indispensáveis", afirma o infectologista
Ethel Maciel é enfermeira, doutora em Epidemiologia e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), e não médica infectologista como foi citado de forma errada na versão anterior. O texto foi corrigido.
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