Mesmo em meio à tragédia que atingiu a família do motociclista Glênio Alves, de 29 anos, arremessado da Terceira Ponte após ser atingido por um carro, o último desejo dele será realizado: doar os próprios órgãos.
O pai do motociclista, Adenilson Souza, 45 anos, contou para a reportagem de A Gazeta que há alguns dias o filho o informou sobre vontade em ser um doador.
O pai explicou que, pelo coração gigante que o filho tinha e pelas amizades que criou em vida, não deixaria de realizar essa vontade.
Atualmente, a família aguarda os procedimentos para doação e, só depois, o motociclista será velado e enterrado.
Glênio era morador de Alto Lage, Cariacica, conhecido pela alegria, amor ao próximo e vontade em dar o melhor para a filha de apenas oito meses.
“Conversando com minha nora, ela disse que Glênio doaria, pois ele tem um coração bom. Decidimos, choramos bastante. Era o desejo dele”, contou o pai.
A irmã do motociclista, Kamilla Braun, de 28 anos, também conversou com a reportagem e afirmou, muito emocionada, que o irmão faria isso por qualquer pessoa.
Em meio à dor provocada pela partida precoce do filho, o pai de Glênio, Adenilson Souza Gomes, disse que o apoio recebido pela família desde o acidente na última semana confirma que o motoboy era uma pessoa querida por onde passava.
“Eu sempre falava com ele: ‘meu filho, eu quero que você seja um homem honesto, de caráter, de respeito, um homem íntegro e trabalhador’. Mas eu só consegui entender (a totalidade de) quem o meu filho era com essa repercussão do que aconteceu. Eu falei: meu filho é muito amado. Ele é querido não só por nós da família, ele é querido por todos que conviveram com ele, quem teve a oportunidade de viver com meu filho.”
Agora, ficam as lembranças e a esperança de que a justiça seja feita. Agora, a motorista do carro pode ser indiciada por homicídio culposo.
“Que haja justiça. Que a justiça não venha de mim, mas que a justiça seja feita. De certa forma, vai ter que ser feita”, declarou o pai de Glênio, que relatou que o rapaz, que deixa uma filha de quase nove meses, tinha o sonho de montar um negócio próprio e vinha trabalhando com esse propósito.
Glênio Alves teve a morte cerebral confirmada pela família ao delegado Maurício Rocha, titular da Delegacia Delitos Trânsito, nesta terça-feira (18).
O acidente aconteceu no dia 12 de junho, e Glênio já foi socorrido e internado em estado muito grave. Colocado em coma induzido desde então, o motociclista também passou por uma cirurgia de laparostomia (abertura na cavidade abdominal) para drenagem de uma hemorragia. Ele era técnico em Mecânica e formado em Administração, mas trabalhava como autônomo.
Nesta terça-feira pela manhã, motoboys fizeram um protesto pedindo mais segurança e justiça pelo caso de Glênio. Clique aqui para conferir os detalhes da manifestação.
O caso ocorreu na descida da Terceira Ponte, no sentido Vila Velha. A motorista de um carro invadiu a faixa exclusiva para motos, ônibus e táxis, e acabou atingindo a moto de Glênio.
Com o impacto, o motociclista foi arremessado para fora da estrutura da ponte e caiu na Rua São Paulo. Imagens registradas por testemunhas mostram o homem no chão, desacordado, cercado por populares, e na calçada da rua. A moto continuou na ponte. (Veja as imagens abaixo)
Segundo testemunhas, na queda, Glênio bateu em uma árvore e caiu sobre um Toyota Corolla estacionado na rua antes de parar na calçada.
Quando os policiais chegaram ao local, a motorista do carro estava sendo atendida na ambulância. Conforme o boletim de ocorrência, ela contou que conduzia na faixa do meio da via quando o trânsito parou e, para evitar uma colisão com o veículo da frente, jogou a parte dianteira do automóvel para a faixa da direita.
Glênio, que seguia na faixa da direita, colidiu com a frente do carro que invadiu a pista dele e foi arremessado por cima da mureta de proteção da ponte. A condutora do veículo fez o teste do bafômetro, que deu negativo.
De acordo com o delegado Maurício Rocha, da Delegacia Especializada de Delitos de Trânsito (DDT), um inquérito será aberto e a motorista do carro deve ser indiciada por homicídio culposo. O nome dela não foi divulgado.
"A partir desse momento a condutora do outro veículo vai ser intimada a prestar interrogatório na delegacia e ao final, indiciada. Homicídio culposo no crime de trânsito é quando a pessoa age através de três possíveis formas: imprudência, negligência e imperícia. Quando ela não tem intenção de realizar esse resultado, mas por conta dessas três atitudes ela acaba ocasionando esse sinistro de trânsito", explicou.
Acionado pela reportagem, o advogado Edison Viana dos Santos, que representa a motorista Dalva Noia Mattos, enviou um documento assinado pela condutora em que lamenta o acidente e afirma estar à disposição das autoridades policiais. Veja na íntegra:
"Venho, por meio desta, lamentar profundamente o acidente de trânsito envolvendo Glênio Alves, e enviar meus sentimentos a seus familiares, amigos e colegas. Estamos todos muito abalados com o ocorrido. Reitero estar à disposição das autoridades policiais, a fim de prestar todos os esclarecimentos necessários para a apuração dos fatos que provocaram o acidente".
Após a publicação da reportagem, o advogado que representa a motorista enviou posicionamento sobre o caso. O texto foi atualizado
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