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Os locais onde motoristas mais 'furam' o sinal vermelho na Grande Vitória

Os locais onde motoristas mais 'furam' o sinal vermelho na Grande Vitória

Na região, onde pedestres reclamam da insegurança, só nos sete primeiros meses de 2024, 20.448 multas foram aplicadas pelo Detran por conta da infração, considerada gravíssima

Publicado em 22 de agosto de 2024 às 19:03

Ícone - Tempo de Leitura 5min de leitura
João Barbosa
Repórter / [email protected]

Regra básica do trânsito, o semáforo vermelho significa que o veículo deve parar. No entanto, por conta de emergências, para evitar situações de perigo e, na maioria das vezes, simplesmente por desrespeito e inconsequência do motorista, essa regra não é cumprida. Na Grande Vitória, alguns locais já são apontados como críticos pelo fato de condutores "furarem" o sinal vermelho, colocando demais motoristas, motociclistas e pedestres em risco.

Foi o que aconteceu na noite de quarta-feira (21), quando um veículo avançou  o semáforo fechado e atropelou mãe e filha que  atravessavem na faixa de pedestres, em frente ao Pronto Atendimento (PA) da Glória, na Avenida Carlos Lindenberg, em Vila Velha. Testemunhas e imagem de videomonitoramento flagraram a ação do motorista, que estava em um carro preto. As vítimas estão em estado grave.

Levantamento feito por A Gazeta mostra que, na Região Metropolitana de Vitória, só nos sete primeiros meses de 2024, 20.448 multas foram aplicadas pelo Departamento Estadual de Trânsito do Espírito Santo (Detran-ES) por causa dessa infração — considerada gravíssima —, que resulta na perda de sete pontos na Carteira de Habilitação e no pagamento de uma multa no valor de R$ 293,47.

97 infrações por dia
Número de multas aplicadas por avanço de sinal na Região Metropolitana, de janeiro a julho de 2024

Se comparado com o mesmo período de 2023, quando 34.483 infrações foram computadas pelo Detran-ES, houve uma queda de 40,7% na quantidade de multas. Entretanto, o risco nas ruas e avenidas ainda é presente. 

Os locais onde motoristas mais 'furam' o sinal vermelho na Grande Vitória
Avanço do sinal vermelho tem números críticos na Grande Vitória
Reportagem flagrou avanço do sinal vermelho em avenida de Cariacica. (Fernando Madeira)

Giro da reportagem flagrou irregularidades

Das mais de 20 mil multas da Grande Vitória em 2024, quase 12 mil são apenas nas vias de Cariacica, tendo como ponto mais crítico a Avenida Mário Gurgel. Em um giro de apenas 10 minutos pela via, a reportagem de A Gazeta flagrou seis ocorrências envolvendo motos, carros e até um ônibus do Transcol.

O local dos flagrantes é próximo ao ponto onde um acidente envolvendo nove veículos, registrado no início de agosto, resultou na morte de uma empresária da cidade.

Atrás de Cariacica neste ranking negativo, está Vila Velha. Na cidade canela-verde, que tem o maior número de veículos em circulação da Grande Vitória, o avanço de sinal vermelho ou de sinal de parada obrigatória resultou em 3.314 multas em 2024. Passando por vias como a Avenida Carlos Lindenberg — onde Mara Núbia Borges e a filha, Laura Beatriz, de 5 anos, foram atropeladas na noite de quarta (21) — e Rodovia do Sol, A Gazeta flagrou pelo menos três irregularidades em 15 minutos em cada um dos dois pontos.

Depois de Vila Velha, a Serra acumula 2.746 multas aplicadas pelo Detran-ES. Já o Departamento de Operações de Trânsito (DOT) da cidade registrou 730 infrações. Apesar de nenhum flagrante captado pela reportagem, que circulou pela Avenida Brasil, pela Norte Sul e pela Eudes Scherrer Souza, os pedestres da Serra afirmaram que a sensação de insegurança é presente.

Capital também tem panorama negativo

Em Vitória, que conta com 244 semáforos, 1.528 multas foram aplicadas só pelo Detran-ES por conta do desrespeito ao sinal vermelho do início do ano até julho. Já segundo a Guarda Civil (GCMV), de janeiro a maio, foram realizados 1.029 autos de infração deste tipo na Capital, totalizando 2.557 irregularidades registradas.

Por onde a reportagem passou?

➣ VITÓRIA:
Avenida Leitão da Silva, no cruzamento com a Rua Henrique Rosseti, em Bento Ferreira;
Avenida Beira-Mar, na altura da Rua Engenheiro Fábio Ruschi, em Bento Ferreira;
Avenida Dante Michelini, em frente ao antigo Hotel Canto do Sol e na esquina da Rua Carlos Martins, em Jardim Camburi;
Avenida Fernando Ferrari, em frente à Ufes e a sede do Detran-ES, em Goiabeiras;
Avenida Leitão da Silva, de Santa Luíza até Bento Ferreira;

➣ VILA VELHA:
Avenida Carlos Lindenberg, de Planalto até Jaburuna;
Avenida Champagnat, do Centro até a orla da Praia da Costa;
Avenida José Júlio de Souza, na extensão da orla de Itaparica;
Rodovia do Sol, da esquina com a Rua José Félix Cheim até a Rua Professor Augusto Rusch;

➣ SERRA:
Avenida Brasil, de Novo Horizonte até São Diogo I;
Avenida Eudes Scherrer Souza, de Carapina até o Parque Residencial Laranjeiras;
Avenida Norte Sul, de São Diogo I até o Parque Residencial Laranjeiras;

➣ CARIACICA:
Extensão da Avenida Mário Gurgel (BR-262);
Extensão da Avenida Um;

➤ Como critério de escolha das vias, a reportagem ouviu moradores das cidades citadas e levantou ocorrências de acidentes de trânsito no primeiro semestre de 2024.

Entre os pedestres, elo mais frágil do trânsito, a insegurança é notória. "Um dia, um motoqueiro quase me atropelou quando foi avançar o sinal fechado. Não me sinto muito segura e acho uma falta de educação. Sabem que é perigoso e continuam não respeitando a regra", frisou a estudante Valentina Ferreira, moradora de Vitória.

Ao mesmo tempo, há quem diz se sentir seguro, mas sem deixar de apontar a necessidade de melhorias. "Minha dica para o poder público é para que façam mais faixas de pedestres, que invistam em sinalização. É um prazer para o pedestre atravessar corretamente na faixa", sinalizou a publicitária Ludmilla Ribeiro, que a reportagem ouviu em meio ao trânsito da Serra.

O avanço do sinal vermelho, além da penalização aos motoristas, também resulta em acidentes e na perda de vidas. No primeiro semestre de 2024, pelo menos 474 mortes foram registradas como consequência de sinistros nas vias municipais, estaduais e federais que cortam o Estado

Os números, na visão de pedestres e especialistas em mobilidade urbana, refletem o “desrespeito e a preguiça” da sociedade.

“Quando falamos do avanço do sinal vermelho, os radares e semáforos que capturam são ferramentas importantes. Contudo, não queremos viver em uma sociedade 100% fiscalizada, sempre sob vigilância. O ideal é que as pessoas respeitem as regras, entendendo a importância delas para evitar acidentes”, pontua Tarcísio Bahia, especialista em mobilidade urbana e professor do departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

Aspas de citação

O sinal vermelho é uma regra de trânsito que deve ser obedecida para garantir a segurança de todos. Mas aqui entramos em outra questão, que é a cultura e a educação dos cidadãos

Tarcísio Bahia
Especialista em mobilidade urbana
Aspas de citação

“O motorista brasileiro muitas vezes não enxerga o perigo que representa. Além disso, os números [de infrações] que temos hoje, podem ser ainda maiores, pois em muitos locais não há fiscalização constante, como em cruzamentos no interior”, complementa o especialista.

Avanço só é permitido em locais sinalizados com placa

Vale lembrar que, após uma mudança no Código de Trânsito Brasileiro (CTB), é permitido aos motoristas e motociclistas virar à direita mesmo que o sinal esteja vermelho em pontos sinalizados com placa indicativa, desde que seja dada preferência ao pedestre que possa estar atravessando a rua ou a avenida.

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