Ao longo dos últimos seis meses de pandemia do novo coronavírus, com mais de 112 mil infectados pela Covid-19 no Espírito Santo e 3.184 mortes, duas cidades capixabas se destacam pelo incrível resultado de não terem registrado óbitos. O que estaria por trás desta realidade? O que Iconha e Brejetuba têm de diferente?
As pequenas cidades, que seguem em risco baixo para a transmissão do vírus, de acordo com a Matriz de Risco do Governo do Estado, tentam explicar como estão conseguindo sobreviver à pandemia sem o luto da Covid-19 entre os moradores, seis meses depois do primeiro caso da doença ser oficialmente registrado no Estado.
Iconha, município da região Sul do Espírito Santo, tem pouco mais de 14 mil habitantes, segundo dados mais atuais do IBGE. Por lá, as famosas barreiras sanitárias adotadas em dezenas das 78 cidades capixabas nem foram montadas. Para o secretário da Saúde local, Fabriciano Muniz Mongin, a conscientização da população em relação aos protocolos para evitar o contágio da doença, como distanciamento social e uso de máscaras, é o que fez a diferença.
Já estamos em setembro e Iconha contabilizou apenas 449 casos de Covid-19. Destes, apenas quatro ainda estão com o vírus e seguem em tratamento domiciliar. Uma única pessoa está internada.
O município adquiriu mais 1,6 mil testes rápidos da Covid-19 para continuar testando moradores com sintomas, além dos servidores da saúde.
No mês de julho, quando a cidade já se destacava pelos bons índices no enfrentamento à pandemia, a diretora da Vigilância Epidemiológica, Leiliani Guedes, também atribuiu à testagem um dos segredos. Para ela, a ausência de mortes é atribuída às estratégias de testagem e à criação do centro de referência para a Covid-19, no qual todos pacientes com síndrome gripal eram diagnosticados precocemente e assinavam um termo aderindo ao isolamento.
Além dessa dinâmica, Iconha não possui sistema de transporte público e conta com uma equipe de desaglomeradores, que fica nas ruas para evitar a reunião de pessoas em locais públicos.
Brejetuba, município da região Serrana do Estado com aproximadamente 12 mil habitantes, começou o mês de setembro com 413 casos de coronavírus, dos quais 401 são pessoas já curadas. As demais seguem em isolamento, sem complicações.
Grande parte da população vive na zona rural, o que já indica um maior distanciamento social e poucas aglomerações. A produção de café é a principal atividade econômica por lá. Para a prefeitura, os bons resultados na cidade são fruto da grande testagem da doença. Mais de 5 mil testes foram realizados no município, com foco em profissionais de saúde e pessoas mais vulneráveis ao contágio, como, por exemplo, comerciantes, servidores públicos e empresas com muitos funcionários.
Pela peculiaridade da cidade que respira café, a prefeitura, por meio da Secretaria de Saúde, realizou o cadastramento de todos os profissionais que vieram de fora para a colheita do grão em Brejetuba, número estimado em 5 mil trabalhadores. Eles geralmente permanecem por três meses no município.
Outra ação adotada na cidade foi a "Central Covid", na qual recebe denúncias por telefone. Assim como Iconha, Brejetuba não possui sistema de transporte público. O município conta ainda com 100% da cobertura pela Estratégia de Saúde da Família (ESF), o que contribui para um melhor primeiro atendimento e detecção precoce de casos da Covid-19.
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