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Pandemia aumenta casos de ansiedade e colesterol alto em crianças

Pandemia aumenta casos de ansiedade e colesterol alto em crianças

Pediatra afirma que cada vez mais é importante manter a alimentação saudável em família e promover a prática de exercícios, mesmo com o isolamento social

Publicado em 4 de abril de 2021 às 20:36- Atualizado há 4 anos

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Pandemia afeta a saúde mental não só dos adultos, mas também de crianças e adolescentes
Pandemia afeta a saúde não só dos adultos, mas também de crianças e adolescentes. (FaustFoto | Freepik)
Gustavo Cheluje
Repórter do Divirta-se / [email protected]

A pandemia do novo coronavírus mudou o comportamento - e o estilo de vida - não apenas dos adultos, mas também de crianças e adolescentes. O isolamento social, necessário para conter o avanço da Covid-19, e as aulas em formato on-line fizeram com que os pequenos cada vez mais sentissem falta de brincar na rua com os colegas ou mesmo se divertir em um bate-papo descontraído com os amigos, durante o intervalo das atividades no colégio. 

Cada vez mais em casa, às vezes acompanhados pelos pais - trabalhando em formato home office -, as crianças, de acordo com especialistas, estão ficando mais ociosas, praticando menos exercícios físicos e grudadas nas "telinhas", seja do computador, do vídeo game, celular, seja do tablet.

O resultado é fácil de prever: um grau maior de ansiedade e, com ela, a má alimentação, o que gera aumento de peso. Os quilinhos a mais quase sempre vêm acompanhados de uma gradativa alteração em exames laboratoriais, como o aumento do colesterol ruim, a redução do colesterol bom (que só melhora com exercícios) e altas taxas de triglicérides. 

De acordo com especialistas,  o colesterol em crianças e adolescentes deve ser inferior a 170mg/dL e os triglicérides menores que 100 mg/dL. Sem praticar exercícios físicos, manter as taxas se torna um trabalho de super-herói. 

"As crianças foram obrigadas a ficar em casa e não podem mais sair para brincar com os amigos no parquinho e em outras áreas de lazer. Antes da pandemia, os pais faziam muitas atividades ao ar livre com elas e, com o distanciamento social, foram obrigados a manter os filhos em casa, com a 'energia acumulada'", explica a pediatra e especialista em pneumologia pediátrica Lívia Lopes.

Segundo a médica, crianças e adolescentes também ficaram muito mais ansiosos. "Houve um aumento importante do número de crianças com ganho de peso e algumas com alterações laboratoriais. A maioria engordou, pois, começou a se alimentar mais pela ansiedade, gastar pouca energia. Além disso, houve maior acesso às telas. Aulas on-line e interação com os colegas apenas por meio de jogos e das redes sociais. Com isso, veio o aumento do colesterol ruim e a redução do colesterol bom. Este só melhora com a prática de exercícios físicos", afirma. 

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A pandemia trouxe ansiedade, que se manifestou nas crianças desde o medo de algum familiar morrer de Covid-19, até insônia, tiques, TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), Síndrome do Pânico e compulsão alimentar

Lívia Lopes
Pediatra
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REALIDADE

As queixas de pais, relatando que filhos estão mais ansiosos por conta da crise sanitária (o que pode levar a sintomas como alteração do sono e distúrbios alimentares) também fazem parte do cotidiano do pediatra e intensivista Lincoln Rohr.

O médico afirma que, com o afastamento de crianças e adolescentes de seus afazeres cotidianos, eles podem sentir uma forte perda emocional, o que quase sempre leva a descontroles, especialmente em relação a questões alimentares. 

"Para que os filhos fiquem mais calmos, os pais precisam usar um diálogo franco com eles. Com segurança, e dentro da realidade das crianças e dos adolescentes, é preciso falar sobre a pandemia e a necessidade de proteção, como usar máscara e higienizar as mãos com álcool em gel, mantendo o isolamento social. Lembrando que pequenos de até 2 anos, por exemplo, absorvem a realidade de pessoas próximas. Portanto, muitos deles estão ansiosos porque os pais também estão e passam esse sentimento aflitivo para eles", pontua. 

Lincoln aponta que, em momentos de crise, limite é um mantra que deve ser seguido. "Para manter a saúde dos filhos, seja física, seja emocional, é preciso seguir regras. Os pais devem  fixar um horário para a alimentação, os estudos, o tempo em que se passa no computador e os exercícios físicos, mesmo em casa. Um jovem não pode acordar às 11h e ficar vendo TV o dia inteiro, comendo produtos industrializados. Lembre-se que, quem faz as compras do mercado, normalmente, são os pais. Se as crianças comem 'besteira', quase sempre um adulto permitiu isso", enfatiza. 

DIÁLOGO

Lívia Lopes também ressa que, nessa fase da pandemia, é importante o médico ter uma conversa franca com os pais e familiares, falando sobre a importância de tentar mudar os hábitos da casa.

"Os pais também estão ansiosos, o que acarreta uma má alimentação em família. Muitas vezes, indicamos o acompanhamento com um nutricionista. Às vezes, indicamos também psicoterapia. Nos casos extremos (de ansiedade e grande alteração nos índices laboratoriais) o médico pode prescrever alguma medicação, mas, na grande maioria, não há necessidade."

A médica observa ainda que a crise sanitária fez com que algumas crianças regredissem em seus marcos do desenvolvimento, ou seja, voltaram a usar fralda e chupar chupeta. "Até os pequenos estão sentindo os efeitos do isolamento social.  Antes, eles podiam ir ao parquinho e sair de casa. Agora, não podem interagir socialmente. Isso gera estresse, ansiedade e um comportamento que pode levar à regressão. Criança aprende pelo exemplo, portanto, pedimos para os pais darem bons exemplos  para eles".

Mesmo em casa, frisa Lívia, os familiares podem incentivar crianças e adolescentes a fazer exercícios. "Para quem tem quintal, estimulamos brincadeiras como futebol ou corrida com os pais. Quem mora em apartamento, sugerimos pular corda, fazer um microcircuito com os objetos que tem em casa. Alguns jogos podem ter dança e outras atividades de movimento. Atividades lúdicas ajudam, como aulas de canto on-line e violão."

Lincoln Rohr também destaca que dá para fazer atividades em grupo, até mesmo se você mora em um pequeno apartamento. "Promova momentos de brincadeira. Ache um espaço em sua casa, nem que seja um corredor, por exemplo. Dá para pular corda, brincar de amarelinha e praticar corridas em cones. Todos precisam fazer exercícios para controlar o peso e aliviar o estresse dos momentos difíceis que estamos vivendo."

Dicas de especialistas sobre exercícios e alimentação
Especialista diz que crianças em casa devem manter rotina de hábitos saudáveis. (Pexels)

COMER BEM

Uma alimentação saudável também é essencial para sobreviver à pandemia. "Pedimos sempre para comprar mais frutas, em vez de ter biscoitos e guloseimas à disposição. Evitar embutidos, massas, frituras, processados e ultraprocessados é fundamental. Na pressa, muitas famílias têm oferecido esse tipo de alimentação", constata Lívia.  

Já Lincoln orienta sobre o que não pode faltar no prato das crianças.  "É preciso que ele (o prato) seja colorido e que contenha todos os nutrientes necessários. Arroz e feijão, em quantidades médias, não podem faltar. Uma proteína também não. É essencial que os pais estimulem seus filhos a comer verduras e legumes. Normalmente, crianças têm dificuldade de aceitar este tipo de alimento. Portanto, é preciso insistir várias vezes, por dias ou até semanas. Com uma alimentação saudável, e prática de exercícios, nossa saúde tem boas chances de aguentar todo o estresse da pandemia", complementa.

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