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Pandemia faz cair denúncias de maus-tratos contra idosos na Grande Vitória

Pandemia faz cair denúncias de maus-tratos contra idosos na Grande Vitória

Para a Polícia Civil, vítimas não conseguem pedir mais tanta ajuda por conta da pandemia do coronavírus. Em 2020, redução de casos foi de 15% na região metropolitana

Publicado em 26 de maio de 2021 às 02:00

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pessoas não devem se omitir ao ver que um idoso está sofrendo
Violência contra o idoso: vítimas estão com dificuldade de pedir ajuda. (Sabine van Erp/ Pixabay)

Na Grande Vitória, o número de denúncias de maus-tratos contra idosos caiu 15% em um ano. Mas para a Polícia Civil,  este dado está longe de ser positivo: a queda não significa que os crimes contra pessoas com mais de 60 anos diminuíram no Estado, mas sim que as vítimas não conseguem pedir mais tanta ajuda por conta da pandemia do coronavírus.

"As vítimas estão dentro de casa. Quanto mais restrições, menor é a quantidade de denúncias. Em março deste ano, por exemplo, quando as medidas de restrições foram intensificadas, houve uma queda de 50% no número de denúncias", pontuou a delegada Milena Girelli, titular da Delegacia Especializada de Proteção ao Idoso (Depi). 

Em 2019, foram 2.393 denúncias, que vão desde maus-tratos até violência sexual contra os idosos. No ano seguinte, o primeiro com a pandemia, o número caiu para 1.991. A delegada explica que as vítimas têm mais dificuldades de se locomover, procurar ajuda e também estão extremamente preocupadas em pegar a Covid-19. 

"Na quarentena, por exemplo, não tinha circulação dos ônibus, não era possível fazer intimações ou verificar denúncias de abandono ou maus-tratos, pois o policial teria que entrar na casa do idoso. É um público que tem medo de ficar internado ou precisar sair de casa para comprar remédio. São fatores que dificultaram o trabalho e o acesso aos idosos", descreveu. 

ABANDONO

Para piorar a situação, a pandemia também virou um argumento para os autores de um dos principais crimes registrados na Depi: o abandono material, que é quando os idosos passam por necessidades básicas e são abandonados à própria sorte. 

Segundo a polícia, os autores deste tipo de crime costumam ser os familiares, em especial os filhos, que deveriam assumir a responsabilidade de manter a integridade do idoso. E quase sempre o abandono material está relacionado ao abandono afetivo, com a desvinculação amorosa ou mesmo convívio comunitário do idoso.  

Delegada Milena Girelli, titular  da Delegacia do Idoso
Delegada Milena Girelli. (Glacieri Carraretto)

"A pandemia gerou desculpas para não ir ver ou atender às necessidades do idoso, que está cada vez mais sozinho,  com a situação financeira piorando e ainda com medo de pedir ajuda e de sair de casa", detalhou Milena Girelli. 

Em contrapartida, a polícia não parou de trabalhar desde o início da pandemia. E isso também é uma preocupação para a delegacia, já que todas as denúncias que chegam precisam ser apuradas presencialmente.

"Temos a preocupação de passar o vírus para alguém que é tão vulnerável.  Os policias adotaram condutas de segurança, como entrar com luvas, utilizar álcool a todo momento e evitar entrar na casa em dupla na hora da averiguação", explica. 

GÊNERO

O defensor público Victor Oliveira, que é coordenador do Núcleo de Direito Humanos da Defensoria Pública Estadual, estima que o número de mulheres na terceira idade vítimas de crimes é o dobro que de homens. 

"A sociedade desvaloriza esse grupo, que tem dificuldade de acessar o sistema de proteção, ter medida protetiva e outros dispositivos que visam evitar a vulnerabilidade do idoso", detalhou

O defensor elencou outra violência comum nessa faixa etária: a patrimonial. Um exemplo é quando os familiares não permitem que o idoso acesse seu próprio dinheiro, como a aposentadoria, Bolsa Família ou benefício de prestação continuada. 

GRANDE VITÓRIA

Na Grande Vitória, quatro denúncias de violações contra idosos chegam, por dia, à delegacia. Somente em 2021, foram 549 registros.  Éo primeiro passo para que os policiais possam averiguar se realmente há um idoso sofrendo violência. 

As denúncias chegam por meio do Disque-denúncia 181,  Disque 100, Ministério público, Creas e outros órgãos municipais que repassam as informações à Polícia Civil.

"Infelizmente, o número de denúncias falsas ainda é grande, seja por questões familiares, como ciúme entre filhos e um acusa o outro injustamente, ou briga de vizinhos em que um quer fazer mal ao outro. Por isso, precisamos ir até o local, fazer levantamentos. As falsas denúncias podem estar deixando um idoso que realmente está sofrendo maus tratos para trás, pois o efetivo da polícia não conseguiu  alcançá-lo devido o tempo gasto checando falsas informações", explica a delegada da Depi. 

 Mesmo que não haja crime, os policiais da Depi confeccionam um relatório que é encaminhado para a rede de atendimento social e de saúde para que, caso seja necessário, faça o acompanhamento do idoso nas necessidades básicas dele. 

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