O Espírito Santo atingiu nesta quarta-feira (2) o maior número absoluto de pessoas internadas nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) dos hospitais do Estado em decorrência do coronavírus desde o dia 9 de setembro. Segundo dados do Painel Covid-19, ferramenta da Secretaria do Estado de Saúde (Sesa), atualmente são 393 pessoas em tratamento intensivo.
No dia 9 de setembro, ainda segundo dados da Sesa, o Estado possuía 404 pessoas internadas em UTIs infectadas pela Covid-19. Em números percentuais, a ocupação de leitos nesta terça (2) é de 82,05%. O indicador mais preocupante, porém, é a taxa de ocupação de leitos potenciais para tratamento de pessoas infectadas pelo coronavírus, que chegou a 54,97%.
Esse valor leva em conta o potencial que o Espírito Santo possui de adquirir ou preparar novos leitos para o atendimento de pacientes com a doença e é um dos principais indicadores para a elaboração do Mapa de Risco do Governo do Estado, que classifica os municípios em risco baixo, moderado ou alto de transmissão da doença. Com a taxa de ocupação potencial de leitos de UTI acima de 50%, mais cidades podem ser classificadas em risco moderado - e até em risco alto.
O alto valor da taxa de ocupação potencial de leitos de UTI, somado ao aumento do número de casos de coronavírus e de mortes causadas pela doença, fez com que o último Mapa de Risco do Governo do Estado colocasse 35 municípios em risco moderado de transmissão do coronavírus, incluindo toda a Grande Vitória. Outras 43 cidades estão classificadas em risco baixo de transmissão.
Por conta do aumento do número de internações causadas pela Covid-19, a Sesa afirmou, no último dia 26, que possui um edital em aberto para ampliar os leitos para atender pacientes com coronavírus para a rede do Sistema Único de Saúde (SUS). A secretaria afirmou, na ocasião, que o chamamento visava a contratação de 130 leitos de UTI e 187 de enfermaria para o combate ao novo coronavírus. A Sesa ainda planeja entregar mais 160 leitos, frutos de obras na rede própria do Estado, até o final deste ano.
Outro indicador utilizado pela Sesa para a elaboração do Mapa de Risco do Espírito Santo é o número de mortes causadas pela Covid-19 que, no mês de novembro, apresentou 36,7% de alta em relação a outubro. Foram 424 óbitos registrados em novembro, contra 387 no mês anterior.
Além disso, novembro computou 34.280 infecções por coronavírus, ou seja, 10 mil casos a mais em relação a outubro, um crescimento de 41,4%. No total, na última atualização do Painel Covid-19, o Espírito Santo possui 193.825 casos de coronavírus e 4.322 mortes decorrentes da doença.
O Secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, em entrevista à reportagem, afirmou que apesar do crescimento que tem havido no número de casos e internações, não é possível considerar que o crescimento seja "explosivo", mas em "conta-gotas". Além disso, explica que o Estado vem obtendo êxito na prática assistencial, permitindo o manejo adequado do sistema de saúde. "A nossa rede vem absorvendo os casos de forma adequada", iniciou.
Segundo o secretário, o Estado está se preparando para todos os cenários possíveis. "Existe um fenômeno agora em que vemos um manejo melhor dos pacientes. Eles têm ficado mais tempo internados, se antes a média era de 6 dias de internação, é agora de 8. Só que isso implica dizer que a mesma quantidade de leitos atende menos pacientes no mês e isso aumenta a pressão sobre o sistema. Mas estamos conseguindo administrar a expansão dos leitos. Neste exato momento nós temos 87 pacientes aguardando leitos na Grande Vitória, mas só 10 são de UTI e isso para todas as doenças, não só para a Covid. Era comum ter 140 pacientes esperando por leito, hoje a rede está conseguindo absorver", afirmou.
Além disso, Nésio Fernandes pontuou que o perfil observado nas internações é de maioria de idosos. "Dos óbitos de hoje (02), só três pessoas com menos de 60 anos e mais da metade dos maiores tinha mais de 70 anos. Identificamos um aumento da idade dos que tiveram desfecho desfavorável. Na primeira expansão havia uma proporção maior de menores de 60. E nós somos o segundo Estado do país com a maior expectativa de vida, então somos mais suscetíveis a evoluir a condições críticas", explicou.
O aumento de casos e, consequentemente, do volume de internações, segundo Fernandes, também se explica pelo aumento da testagem. "Temos uma quantidade de pacientes graves menor do que em junho. Nós já ampliamos a testagem e caminhamos para em dezembro ampliar ainda mais. Inclusive faremos testes na rede privada para o SUS e ampliaremos a capacidade de envio de testes para a Fiocruz. Então teremos uma sensibilidade maior do que na primeira onda e maior do que em setembro, outubro e novembro: ainda que tenhamos uma estabilização da doença, veremos aumento nos números", disse.
"Os casos em janeiro devem ultrapassar a primeira onda em todas as regiões do Estado e consequentemente teremos mais internações e óbitos. A gente vai ter um cenário de aumento gradual de casos graves e por isso a nossa estratégia é o 'leito para todos', em uma segunda etapa de expansão até fevereiro. Faremos expansão de leitos novos e retardaremos a contrarreversão de leitos. Assim teremos um crescimento sustentado da ocupação hospitalar. Ainda assim o Estado precisa estar preparado para os piores cenários e nós teremos condições de absorver a demanda", informou o secretário.
Para o médico infectologista Lauro Ferreira Pinto, a situação vivida no Estado nesta segunda expansão de casos do novo coronavírus não é otimista. "Desde setembro que a gente alerta para o aumento de contaminações no ES, desde os feriados há aumento de casos. Tenho a sensação de que o Estado vive o pior momento da pandemia, em especial por meio da classe média se expondo. A juventude cansou do confinamento e está se reunindo. São muitos relatos de eventos sociais, confraternizações, gerando contaminação, principalmente na rede privada. Ainda não há grande impacto na pública, mas vai ter", expressou.
O especialista explica que a evolução da pandemia vem sendo notada nos laboratórios e hospitais, com aumento de internação. "No início não tinha aumento de mortalidade porque eram basicamente jovens contraindo, mas eles encontram pais e tios e isso fez voltar a crescer a mortalidade. Em julho eu achei que ia ter colapso e não teve, as medidas de contenção funcionaram, mas se vão funcionar agora eu não sei: temos um novo panorama de vida normal junto à pandemia, com funcionamento de transportes, eventos que agora acontecem, demanda reprimida de cirurgias e exames que antes estavam suspensos", acrescentou.
"Eu prevejo Natal e Ano Novo difíceis, com muita contaminação. Nossa visão é que tem muito caso grave. Hospitais de ponta em São Paulo estão lotados por transferências de outros Estados. Tudo isso não está acontecendo só em Vitória, mas em várias capitais. Os laboratórios registram aumento de testes como nunca houve e a demanda de emergência é muito grande. Não é hora de fazer evento e toda hora tem relato de aniversários, reuniões e no dia seguinte tem gente contaminada. Devemos recuar os eventos sociais, encontros de família, e esperar passar", destacou.
Ainda segundo o médico, o Espírito Santo só estará preparado para um novo aumento de casos se a exposição das pessoas ao vírus diminuir. "Não temos leito para um terço da população ser internada ao mesmo tempo. E não temos o devido distanciamento. Eu acho que alguma medida de segurar aglomeração tem que acontecer. Não consigo imaginar praia lotada no momento em que estamos vivendo. Sem controle de aglomeração continua a contaminação indecente que vemos e risco de gente morrendo. Aliás, não consigo imaginar uma economia funcionar assim. Ou controla a pandemia para a economia andar ou é ilusório: temos gente morrendo", frisou.
Para observar queda nas internações, Lauro Ferreira Pinto explica que é preciso esperar um intervalo de duas semanas desde uma medida de controle de aglomeração. "Em todo o mundo isso acontece duas semanas depois que para o contágio. Qualquer medida de controle de aglomeração vai ter consequência depois de pelo menos dez dias. São cinco dias de incubação do vírus e dez dias de piora para internar. Qualquer medida tem efeito duas semanas depois e nós ainda veremos aumento de contágio nos próximos dias", finalizou.
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