Três pessoas foram condenadas pelas mortes ocorridas em ataques promovidos na Ilha do Príncipe, em Vitória, no ano de 2019. Juntas, as penas aplicadas totalizam mais de 314 anos de prisão. Os denunciados foram julgados pela morte de duas pessoas, pela tentativa de assassinato de outras duas e por associação ao tráfico de drogas. Os crimes resultaram em uma onda de terror na comunidade e até a missa de Natal naquele ano precisou ser cancelada por falta de segurança.
O julgamento aconteceu na última segunda-feira (13), no Fórum de Vitória. O processo tramitou em segredo de Justiça, considerando que algumas testemunhas chegaram a ser ameaçadas de morte. Foram sentenciados:
Segundo o Ministério Público do Espírito Santo (MPES), que os denunciou, os três promoveram incursões no bairro, chamadas de ataques, “com o intuito de eliminar seus rivais para assumir o controle total do narcotráfico destas regiões e, ainda, para imprimir medo à população local, obtendo, em contrapartida, sua submissão”.
O crime levou dias de terror e a uma total paralisação das atividades cotidianas da população do morro Ilha do Príncipe, pois até mesmo a missa do Natal não pôde ser realizada por falta de segurança.
O objetivo de Jhon Lenon, segundo a denúncia, era o monopólio do comércio ilegal de drogas da região da Ilha do Príncipe, Morro do Cabral e Morro do Quadro, todos bairros de Vitória. Para a ação, ele contou com o apoio de lideranças da facção criminosa a qual pertence, o Primeiro Comando de Vitória (PCV).
O advogado Fernando Admiral, que faz a defesa de Jhon Lenon e João Carlos Bonomo, informou que já recorreu, ao final do julgamento, contra a sentença que condenou os seus clientes. “A decisão dos jurados foi manifestamente contrária à prova dos autos (processo)”, afirmou.
Além disso, disse que, em caso de manutenção da condenação, o recurso buscará a redução da pena fixada.
A defesa de Leonardo Santos de Moura ainda não foi localizada pela reportagem para se manifestar. Quando isto ocorrer, este texto será atualizado.
No dia 21 de dezembro de 2019, quatro jovens foram a um bar assistir ao jogo do Flamengo contra o Liverpool e, ao final da partida, foram para um local conhecido como "Beco da Dona Elza", próximo a um DPM. Era por volta das 18h quando duas pessoas se aproximaram do local.
As vítimas tentaram sair, mas acabaram alvo de vários disparos. Foram atingidos:
Na sentença de condenação, assinada pela juíza Lívia Regina Savergnini Bissoli Lage, que presidiu o Tribunal do Júri, é informado que os crimes na Ilha do Príncipe foram planejados e premeditados.
“O crime foi cometido em concurso de pessoas, com divisão de tarefas, e, ainda mais, quando o réu determinou o cometimento da empreitada criminosa, exercendo a função de comando e organização, fato que se observa através de leitura das degravações das interceptações telefônicas constantes nos autos”, disse a juíza ao se referir ao réu Jhon Lenon.
É informado ainda que as provas revelam que Lenon, com o apoio do PCV, distribuiu armas aos seus comparsas.
“Praticou o crime ora analisado e, em seguida, informou a outros membros do grupo criminoso que havia matado dois gerentes do tráfico do grupo rival, e furtado a pistola Glock de uma das vítimas e arrematou: ‘nós é criminoso, nós é homem’’, é descrito na sentença, assinalando que os ataques e crimes levaram a uma total paralisação das atividades na comunidade.
Provas anexadas ao processo pelo MPES, incluindo transcrições de áudios, apontam que o objetivo de Jhon Lenon era matar o chefe do tráfico da Ilha do Príncipe, Gilclayton da Conceição da Penha, o Gil, e ainda dois de seus gerentes.
Na ocasião, ele chegou a pedir ajuda a lideranças do PCV. Seu contato foi com Alan Rosário de Oliveira — conhecido como Gordo, Gordinho ou Bin Laden —, que participou de vários crimes e já tem condenações, como a do assassinato dos irmãos Ruan e Damião Reis, no Morro da Piedade, também na Capital, em 2018.
Nas transcrições de áudio, Alan do Rosário diz que o “problema é Gil”, que ele deve ser “marcado” e dá orientações para quando ele aparecesse na Ilha do Príncipe: “quebrar ele e o gerente dele”. E acrescenta: “quebra logo e nós cai pra dentro”.
A intenção de Lenon, segundo informações obtidas pelo MPES, era de matar dois de seus desafetos, Gil e Brendo. E pede apoio a Alan:
Ocorre que, antes do reforço chegar, criminosos ligados a Lenon, incluindo o seu sobrinho, João Bonomo, se anteciparam e mataram Brendo e Elias, gerentes do traficante Gil. Com as mortes, a situação ficou tensa na comunidade e Lenon volta a pedir apoio a Alan do Rosário, com um “bico” (fuzil).
Ele também requer apoio dos “caras do Cabral” (Morro do Cabral), com fuzil, em caso de um contra-ataque. O pedido é feito a Magrelo, o Geovani Andrade Bento, também conhecido como Vaninho, uma liderança da facção que foi presa em 2020 e que, em 2021, foi transferida para o presídio federal de Rondônia.
Nos diálogos gravados, também há citações de pedidos de apoio e de armas para “MJ”. Trata-se de Fernando Moraes Pimenta, o Marujo, liderança do PCV ainda em liberdade. Contra ele existem mandados de prisão.
As mortes praticadas pelo grupo foram seguidas de dias de muitos conflitos no bairro, com vários tiroteios enquanto os traficantes promoviam a expansão de seus territórios. Houve uma terceira morte, promovida pelos grupos rivais.
O traficante Gil, que eles queriam matar, acabou sendo assassinado cerca de 5 meses depois, em abril de 2020.
O promotor de justiça Rodrigo Monteiro, que atuou no Tribunal do Júri dos três réus, observou que nos ataques promovidos na Ilha do Príncipe, em 2019, para tomar o controle do tráfico na região, foram utilizados fuzis, armas automáticas, com rajadas de tiros, que causou grande transtorno à comunidade, pondo em risco de morte não só os alvos dos traficantes, mas pessoas inocentes, trabalhadores, moradores da região.
“Os mandantes dos crimes estavam fechados com as principais lideranças da facção criminosa PCV, um apoio irrestrito que oferecia mão de obra para o crime, armas. Tramaram juntos vários ataques ao bairro, que é um local estratégico, localizado no limite com Vila Velha e Cariacica, e de muito interesse para o tráfico”, ressaltou.
As condenações, segundo ele, “foram justas e de acordo com o mal praticado”. O promotor assinalou que um dos efeitos da pena é a neutralização deste tipo de ato, e que fará com que fiquem afastados das ruas e da sociedade.
“São traficantes perigosos, sem preocupação com a vida alheia. A sociedade precisa entender que hoje todos os traficantes estão aliados a uma uma facção criminosa e, para manter poder e território, matam sem pena. O cidadão fica à mercê, é morto, expulso de casa. Nosso trabalho é oferecer uma resposta protetiva. E os jurados de Vitória têm dado respostas muito positivas, condenando estes criminosos”, argumentou.
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