Um estudo feito por uma pesquisadora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) com pacientes diagnosticados com o quadro clínico grave de Covid-19 no Estado apontou as principais sequelas observadas durante seis meses de acompanhamento.
Os dados indicam que a doença causou ao menos 19 reflexos que impactaram negativamente nos sistemas neurológico, respiratório, motor e cognitivo do grupo formado por 44 voluntários. Nenhum deles apresentava comorbidade antes da infecção.
A pesquisa foi feita pela pneumologista e professora da Ufes Jéssica Polese. Ela explicou que a triagem aconteceu no ano passado, quando foram selecionados os doentes internados na ala SUS, do Vitória Apart Hospital.
Além de não ter comorbidade, foi escolhido quem recebeu algum suporte respiratório, como uso de oxigênio suplementar ou ventilação mecânica. O grupo formado por homens e mulheres tem idade média de 51 anos e ficou pelo menos oito dias internado.
Após a alta, o grupo começou a ser monitorado pela professora em outubro do ano passado com o apoio do Serviço de Pneumologia, do Departamento de Ciências Fisiológicas da Ufes. As avaliações aconteceram nos intervalos de 30, 90 e 180 dias após o fim dos sintomas. Todo o trabalho foi coordenado pelo professor José Geraldo Mill.
Foram analisados fatores hematológicos, que dizem respeito à parte bioquímica do sangue; respiratórios, relacionados à função pulmonar; neuropsiquiátrica, que investigou os estágios comportamentais dos voluntários; além da questão imunológica, que acompanhou o nível de anticorpos dos indivíduos que apresentaram o quadro clínico grave.
Jéssica revelou que um mês após o diagnóstico de cura, os exames realizados durante o monitoramento mostraram que 95% dos pacientes apresentavam um quadro de disfunção pulmonar.
"De todos os pacientes, só um que conseguiu voltar ao trabalho, praticamente todos estavam muito debilitados. Em 95% dos casos, os pacientes tinham algum tipo de alteração pulmonar. Os níveis de ansiedade e depressão eram bem elevados. Eram pacientes que estavam do ponto de vista físico e emocional bastante abalados", lamentou a médica.
Além das observações clínicas feitas ao longo do acompanhamento, a pneumologista apresentou questionários aos pacientes. Com a prática, os pesquisadores buscaram identificar a saúde mental do grupo de curados da doença causada pelo novo coronavírus.
"Após seis meses da doença, 25% dos pacientes ainda tinham alguma queixa respiratória, como tosse ou algum grau de dispneia, e 15% ficaram com algum grau de lesão pulmonar funcional. Da parte neurológica, também foram identificadas alterações no quadro de pessoas com ansiedade, depressão, má qualidade de vida e distúrbio do sono", elencou.
Enquanto os pacientes monitorados pelo estudo desenvolvido pelos pesquisadores da Ufes monitoram quem foi infectado com a Covid-19, essa não é a realidade da maioria dos curados pela doença. No Espírito Santo, o Painel Covid-19, ferramenta do governo do Estado, informa que mais de 466 mil capixabas se recuperaram.
A doutora em Saúde Coletiva e Epidemiologia, Ethel Maciel, do Departamento de Enfermagem da Ufes, disse que o desafio dos gestores público é garantir atendimento aos curados no Sistema Único de Saúde (SUS), responsável pela prestação de serviços de mais de 70% da população capixaba.
O tratamento adequado exige consultas especializadas com pneumologistas e fisioterapeutas, para pessoas que apresentassem sequelas pulmonares, e nefrologistas e serviços especializados, com acesso a diálises, para pacientes com sequelas renais. Para isso, na avaliação de Ethel, o SUS demandaria aporte financeiro.
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