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PM acredita que ordem de incêndios a ônibus partiu de dentro de presídio

PM acredita que ordem de incêndios a ônibus partiu de dentro de presídio

Os ataques aos coletivos aconteceram na manhã desta segunda-feira (20) em Viana e Cariacica. Por sorte, ninguém ficou ferido

Publicado em 20 de julho de 2020 às 19:09

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Ônibus incendiado em Viana
Ônibus incendiado em Viana. (Reprodução)

Os dois atentados criminosos contra coletivos na manhã desta segunda-feira (20), em Viana e Cariacica,  podem ter sido ordenados de dentro de presídios capixabas. 

"O nosso serviço de inteligência levantou algumas informações de que os indivíduos teriam recebido determinação do sistema prisional. Os levantamentos serão encaminhados para a Polícia Civil",  disse o comandante-geral da Polícia Militar, Douglas Caus, durante coletiva na tarde desta segunda-feira (20). 

Um dos incêndios foi no ônibus da linha 753,  no bairro Roda D'água, em Cariacica, e o outro ao ônibus da linha 910, do bairro Universal, Viana.

Os ataques criminosos aconteceram em horários próximos e com o mesmo modo. Dois homens em uma moto mandaram cobradores e motoristas descer do coletivo sob ameaças e na mira de arma, espalharam combustível no ônibus e atearam fogo. Os veículos foram completamente consumidos pelas chamas, mesmo com o acionamento do Corpo de Bombeiros.

Antes de incendiar o ônibus em Viana,  o criminoso entregou um cartaz ao motorista que dizia que o ataque era uma represália
Antes de incendiar o ônibus em Viana, o criminoso entregou um cartaz ao motorista que dizia que o ataque era uma represália . (Internauta)

Em ambos os casos, os bandidos deixaram cartazes com frases informando que se tratava de represália em decorrência da suspensão de visitas a detentos e violência nas unidades prisões do Espírito Santo

"O objetivo ficou claro nos dois cartazes que se trata de uma reivindicação do sistema de  justiça prisional.  Mas também ficou claro para nós que  não adianta traficante queimar de ônibus para tentar pressionar à polícia e à sociedade", afirmou Coronel Caus. 

PRISÃO DE SUSPEITO

No início da tarde, policiais militares realizaram uma operação de saturação na área e detiveram Pedro Henrique Barbosa dos Santos, 18 anos, no bairro Primavera, em Viana.

O comandante-geral disse que Pedro Henrique foi preso em casa. Na residência foi apreendida uma pistola Glock calibre 9 mm e com numeração raspada. "No momento da detenção, o suspeito quebrou o celular. Acreditamos que no aparelho havia mensagens sobre a ordem da queima aos ônibus. Aos militares, ele confessou que participou da ação criminosa em Viana", pontuou coronel Caus.

Pedro Henrique teria dito que comprou gasolina em um posto de combustíveis no bairro Mucuri, em Cariacica, para ser usada no  atentado em Viana e ainda ajudou na execução do plano. Ele havia sido preso em flagrante a pouco mais de um mês, no dia 06 de junho, pelo crime de tráfico de drogas, segundo a Polícia Militar. Porém, no dia seguinte ganhou liberdade após passar por audiência de custódia. 

Pedro Henrique também já havia sido apreendido três vezes por tráfico de drogas e uma por homicídio quando menor de idade. O rapaz foi levado para a Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra o Transporte de Passageiros (DRCCTP), onde foi autuado em flagrante pelos crimes de posse ilegal de arma de fogo, incêndio, dano ao patrimônio e expor terceiros a perigo.

Agora, a Polícia Militar quer saber quem são outros três envolvidos  do crime. "Nosso serviço de inteligência está em campo buscando informações sobre os outros três indivíduos que participaram das ações.  Não podemos afirmar que os quatro agiram juntos, mas sim com o mesmo objetivo que é fazer um protesto contra a suspensão da visitação no sistema prisional", argumentou Coronel Caus.

Polícia Civil destaca que a população tem um papel importante nas investigações e pode contribuir com informações de forma anônima através do Disque-Denúncia 181, que também possui um site onde é possível anexar imagens e vídeos de ações criminosas, o disquedenuncia181.es.gov.br. O anonimato é garantido e todas as informações fornecidas são investigadas.

Aspas de citação

Esse tipo de atuação não vai inibir ação do estado. Se for comprovada essa veiculação com o sistema prisional, a orientação da Polícia Militar é que o detento envolvido seja transferido para um presídio federal.

Coronel Douglas Caus
Comandante-geral da Polícia Militar
Aspas de citação

ÔNIBUS

Além do susto e do perigo oferecidos aos passageiros e trabalhadores do coletivo,  a queima deixou os moradores de Roda D´água, em Cariacica, e Universal, em Viana, na mão durante a manhã dos incêndios.

Porém, a Companhia Estadual de Transportes Coletivos (Ceturb-ES) informou que voltou ao atendimento das linhas 753 e 910 durante o restante da segunda-feira, mas que,  por medida de segurança de passageiros e motoristas, as linhas funcionaram em sistema circular, ou seja, sem parada no ponto final. O sistema deve voltar  à normalidade assim que a segurança nas regiões sejam reestabelecidas. 

O presidente do Sindicato dos Rodoviários do Espírito Santo, José Carlos Salles Cardoso, disse que esse tipo de ação criminosa preocupa a categoria. "Estamos atento a essa situação na tentativa de proteger o trabalhador. Aguardamos um posicionamento dos órgãos de segurança e inclusive pretendemos marcar uma reunião com a Secretaria de Segurança. É mais um tipo de violência que cobradores e motoristas estão sendo expostos", observou Salles.  

VISITAS A PRESÍDIOS

Ao ser questionado sobre a possibilidade de que a ordem tenha partido de dentro de presídios, Alessandro Ferreira de Souza, subsecretário para Assuntos do Sistema Prisional, disse que há um serviço de inteligência dentro da Secretaria de Justiça (Sejus) que colabora com as investigações nesta linha.

"Porém, não podemos atribuir qualquer ordem para estes dois incêndios ainda, pois o sistema se mantém dentro da normalidade, sem sinal alguém dessa ligação com detentos. O caso será apurado pela diretoria de inteligência que interage diretamente com outros núcleos do Estado",  pontuou. 

As frases nos cartazes deixados pelos criminosos nos locais dos ataques contra os coletivos citavam sobre maus-tratos a presos e também pediam a volta das visitas aos detentos, suspensas desde o início da pandemia. 

Para os supostos  maus-tratos, o subsecretário de assuntos pressionais negou qualquer tipo de violência contra os internos e explicou que há canais legais para que o cidadão denuncie. "Seguimos os princípios legais de preservação da integridade do detento. Caso haja qualquer  alegação de violação, o familiar ou representante pode procurar a ouvidoria do Estado e também a corregedoria da Sejus, ambas disponíveis para apuração de quaisquer fatos", pontuou.  

Já as visitas foram alteradas em 1º de abril. Antes da pandemia do novo coronavírus, os detentos das unidades fechadas (com internos já condenados) recebiam visitas sociais e íntimas de até dois familiares próximos (companheiro ou companheira, mãe, irmão) a cada 15 dias, podendo ainda incluir um filho ou filha menor de idade, com duração de duas horas. Já no Centro de Triagem, onde os presos são provisórios (aguardando julgamento), as visitas eram de 15 minutos no parlatório (cabine de vidro). 

Em decorrência da disseminação comunitária do vírus, as visitas foram suspensas, passando a "acontecerem por telefone", com a presença de um agente. "Tentamos que essa ligação seja a cada 15 dias, mas como a demanda é grande elas tem ocorrido a cada 20 ou 25 dias, para que possa haver troca de notícias. Essa medida é restritiva para evitar tanto o contágio de familiares durante o percurso de casa até à unidade prenitenciária quanto a contaminação em massa da população carcerária, que hoje é de 22 mil pessoas. Isso também sobrecarregaria o sistema de saúde público", descreve Alessandro Ferreira Souza. 

Os advogados e defensores públicos continuam, mesmo com a pandemia, tendo acesso irrestrito aos seus clientes por meio do parlatório, mas agora passam por uma barreira sanitária antes de darem entrada na unidade prisional. 

"Nenhum ato criminoso vai forçar a qualquer mudança dentro da estrutura. Temos responsabilidade e não colocaremos a massa carcerária, funcionários e a sociedade em geral em risco", completou o subsecretário de Assuntos do Sistema Prisional. 

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