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PMs são afastados após morte em Colatina e Corregedoria vai investigar

PMs são afastados após morte em Colatina e Corregedoria vai investigar

Jovem de 20 anos morreu em ação que teve mais de 40 disparos de arma de fogo dados por policiais, segundo próprio boletim de ocorrência

Publicado em 2 de fevereiro de 2025 às 12:32

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Governo manda afastar PMs após morte de vistoriador em Colatina
À esquerda: local dos tiros. À direita, Danilo que morreu na ação policial. (Montagem | Leitor A Gazeta Arquivo da família)

A Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp) determinou o afastamento dos policiais militares envolvidos na abordagem que resultou na morte do jovem vistoriador de veículos Danilo Lipaus Matos, de 20 anos, em Colatina, Noroeste do Espírito Santo. O caso será também investigado pela Corregedoria da PM.

"Foi determinada a instauração de inquérito policial militar pela Corregedoria da Polícia Militar e o afastamento das atividades operacionais de todos os policiais envolvidos na ação, além da investigação rigorosa pelas Polícias Civil e Científica, com acompanhamento direto do Ministério Público em todas as apurações. O Governo do Estado destaca que preza pela atuação técnica das polícias e uso seletivo e progressivo da força e, caso fique constatada irregularidade na ocorrência, as medidas cabíveis serão tomadas em todas as esferas", destacou a secretaria.

Reviravolta: jovem foi morto a tiros durante abordagem da PM em Colatina
Danilo Lipaus Matos, de 20 anos. (Arquivo da família)

A versão dos policiais

Consta no boletim policial que participaram da ocorrência o sargento Renan Pessimílio, o cabo Rodrigo de Jesus Oliveira, e os soldados Eduardo Nardi Ferrari, Ramon Lucas Rodrigues Souza e Guilherme Martins, sendo que o último teria ficado dentro da viatura e não fez disparos.

No documento, os policiais narram que o carro Fiat Strada, dirigido por Danilo, estava em fuga após ignorar uma ordem de parada dada. Os militares afirmam que foram informados via rádio por um sargento da corporação de que os ocupantes "poderiam ser indivíduos que estavam em fuga em uma caminhonete roubada, que desceram por um matagal e possivelmente teriam roubado a Fiat Strada". Um soldado teria comunicado que uma pessoa que estava no banco do passageiro do veículo estaria portando uma arma.

A ocorrência diz que "um homem de estatura forte havia feito muitos disparos na Rua Castelo Branco próximo ao Sanear, tiros ouvidos pelos militares". E segue descrevendo que "diante de todo o contexto remetendo a confronto armado e fuga por várias ruas" os policiais avistaram o carro Fiat Strada na Rua Ângelo Morozoni, no bairro São Braz, em Colatina. Os PMs dizem no boletim que emitiram "sinais sonoros e luminosos" para que o motorista parasse, mas as ordens não teriam sido acolhidas, dando sequência à perseguição já iniciada por outras viaturas.

O boletim informa ainda que "em virtude de todo o cenário criado" durante a perseguição, com base nas comunicações via rádio, o sargento Renan Pessimílio e o soldado Eduardo Nardi Ferrari desceram da viatura e atiraram contra o carro Fiat Strada, pois, segundo eles, o motorista do veículo "avançou com o carro na direção dos militares". O documento aponta que, ao todo, 44 tiros foram efetuados contra o veículo: 15 disparos pelo sargento Renan Pessimílio, 15 pelo soldado Eduardo Nardi Ferrari, 12 pelo cabo Rodrigo de Jesus Oliveira e dois pelo soldado Ramon Lucas Rodrigues Souza.

Os PMs informaram na ocorrência que, após a sequência de tiros, Danilo, que dirigia a Fiat Strada, abriu a porta do carro e caiu na calçada da rua, "não sendo mais movimentado". Narram ainda que, com o jovem já morto, realizaram uma "busca ligeira no banco do carona e na parte de baixo, necessitando retirar os objetos que ali estavam" e que "o restante do local foi todo preservado, apenas com atuação da equipe do Samu/192", que confirmou a morte de Danilo no local. A Carteira Nacional de Habilitação (CNH) do jovem foi encontrada na capa do telefone dele. Um outro celular teria sido encontrado debaixo do tapete do veículo no lado do carona. Armas não foram encontradas. E o veículo pertencia a Danilo. Não era roubado.

Pai pede por justiça

“O carro era dele. Eu dei o carro para ele. Estava no nome dele. Não tinha nenhuma restrição. Em 2013, eu comprei ele, usava na empresa em que trabalhava e depois comprei da empresa. Esse carro sempre esteve com a gente. Eu quero justiça porque sei que meu filho não vai voltar mais, mas buscando justiça, vou ajudar a evitar que outros pais sintam a dor que estou sentindo agora”, relatou o pai do jovem.

Josenildo Monteiro Matos questiona a quantidade de tiros efetuados contra o filho — 44 disparos, segundo boletim da PM. “Eu acredito que ele ficou com medo na hora em que mandaram ele parar, talvez por medo de perder a habilitação, não sei. Cercaram o meu filho e efetuaram mais de 40 tiros. Não tinha nada no carro dele, não encontraram nada com ele. Acabaram com a minha vida e com a vida da minha filha. A gente fica revoltado, e eu quero que a lei de Deus e a lei da Justiça aqui da terra prevaleçam. Por que não atiraram nos pneus do carro? Como você atira essa quantidade de tiros?”, desabafou o pai.

O Ministério Público do Estado do Espírito Santo informou que lamenta o ocorrido e manifesta solidariedade à família da vítima. "O MPES acompanha o caso de perto e aguarda o recebimento da documentação necessária para análise detalhada, a fim de adotar as medidas cabíveis perante a Justiça".

Associação diz que ação é legítima

A Associação das Praças da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Espírito Santo (Aspra) também acompanha a ocorrência. Por nota, a entidade informou que colocou "o jurídico à disposição para acompanhar a apuração dos fatos e esclarecer as ações dos nossos associados" e que acredita que as ações dos PMs foram legítimas

"Deixamos claro que a ocorrência é bem complexa, onde foram lavrados vários boletins por guarnições diferentes, contendo registro de veículo roubado abandonado, perseguição, evasão a bloqueio policial e tentativa de atropelamento aos nossos policiais. Se os policiais não tivessem atirado, podíamos agora estar lamentando a morte, por atropelamento, de um ou mais policiais, ou até mesmo de pessoas que estavam caminhando nas ruas. Nós temos o compromisso de proteger a sociedade e esta é a razão pela qual nossos policiais estavam mobilizados nessa ocorrência", diz.

A reportagem demandou também a Associação de Cabos e Soldados (ACS), que enviou a mesma nota da Aspra.

"Muitos tiros", diz moradora

Uma moradora da rua onde ocorreu o crime conversou com A Gazeta e relatou: "Foi aqui na minha rua. Eles (os policiais) não deixaram a gente nem chegar perto da calçada porque tinha muita polícia. Quem tentava sair para ver, eles mandavam todo mundo voltar para dentro de casa. Então, a gente não podia nem tirar foto, não podia fazer nada. Mas foram muitos tiros, muitos mesmo", disse.

A Polícia Civil informou que a ocorrência foi entregue na Delegacia Regional de Colatina, que vai investigar o caso. 

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